Veto de Milei que barra lei universitária é mantido, e estudantes protestam
O clima social e político está cada vez mais acirrado na Argentina. Nesta quarta-feira (9), Buenos Aires viveu mais um protesto contra o ajuste econômico da educação, o segundo em menos de uma semana.
Enquanto do lado de dentro do Congresso deputados mantiveram o veto de Milei que barra a lei de financiamento universitário, do lado de fora havia confusão entre polícia e manifestantes, com empurra-empurra, gritos e bombas de gás.
Durante o protesto, um suposto militante libertário conhecido nas redes sociais teria invadido a manifestação dos estudantes e incitado provocações, o que deixou o clima ainda mais tenso. A polícia precisou intervir.
Imagens mostram o suposto militante sendo agredido por alguns manifestantes. "Veio aqui para provocar. Estão zombando da educação", disse um manifestante ao UOL.
Policiais acompanharam o ato e, mesmo com o protocolo antiprotesto, que proíbe manifestações em vias públicas, as ruas em torno ao Palácio Legislativo ficaram fechadas.
A manutenção do veto de Milei pelos deputados é mais uma vitória política do presidente argentino, que vem costurando conquistas importantes no Congresso com a ajuda de aliados políticos, como o ex-presidente Mauricio Macri. Milei já havia conseguido que os legisladores mantivessem seu veto contra a lei que aumentava a aposentadoria, em setembro.
A votação desta quarta-feira terminou com 160 votos a favor da lei de financiamento universitário e 84 contra, além de cinco abstenções; o necessário para manter o veto de Milei.
A manutenção do veto ocorre no contexto em que algumas faculdades (ciências sociais, filosofia e psicologia), da Universidade de Buenos Aires, a maior da Argentina, foram ocupadas pelos estudantes.
Depois do veto do presidente na última quinta-feira (3), e da manutenção na Câmara, a tendência, dizem os movimentos estudantis, é de que outras faculdades se juntem às ocupações.
'Quer matar a todos', diz manifestante sobre Milei
O aposentado Julian Cátian, de 84 anos, esteve no protesto desta quarta-feira e afirmou que "esse presidente quer matar a todos". "Não podemos mais com esse governo", afirmou. Quando perguntado porque estava no protesto, respondeu ser a única forma de "mostrar para esses políticos que a Argentina está morrendo de fome". "Eu não sou estudante, mas ele [Milei] está destruindo a todos. Por isso estou aqui", destacou.
Na semana passada, milhares de pessoas foram às ruas apoiar a lei de financiamento universitário e pressionar o presidente para que ele não vetasse o projeto. Mas o apelo foi insuficiente. No dia seguinte, o governo publicou o veto no diário oficial do país.
A lei de financiamento universitário vetada por Milei prevê a recomposição do orçamento para as universidades públicas, que está congelado pelo governo Milei, incluindo os salários de professores.
O projeto propõe, entre outros pontos, que o orçamento das instituições federais seja atualizado com a inflação, em um retroativo desde dezembro de 2023, quando assumiu o novo governo. A Argentina tem uma inflação acumulada de mais de 90% nos últimos nove meses.
Antes da votação, a UBA (Universidade de Buenos Aires) divulgou uma nota pedindo aos deputados para derrubar o veto. A instituição alegou que a situação da universidade era de calamidade e que "a educação é a principal aposta para um futuro melhor".
Em setembro, o UOL divulgou a precariedade do Hospital das Clínicas da maior universidade do país e que médicos estão recebendo salários considerados abaixo da linha da pobreza.
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Quero receberEm maio, o Conselho Superior da UBA suspendeu o estado de emergência declarado em 10 de abril, após o congelamento do orçamento da Educação do governo de Javier Milei. A universidade, que é a maior da Argentina, ficou sem energia elétrica, e os estudantes tiveram aulas na rua.
Na Argentina, a universidade pública é símbolo de orgulho e é vista como um mecanismo de ascensão social e transformação do futuro. Com o slogan "no hay plata", o governo Milei insiste com os vetos ao aumento de salários de professores e também de aposentados.
O presidente chegou a oferecer um churrasco aos legisladores que mantiveram o veto à lei que aumentava a aposentadoria.
No primeiro semestre, no entanto, o governo comprou 24 aviões de guerra por US$ 300 milhões, gerando crítica por parte de políticos e parte da população.
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