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André Santana

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Falta pouco para Bruna Griphao repetir no BBB as chicotadas de São Conrado

BBB 23: Bruna Griphao grita com Cezar Black durante discussão - Reprodução/Globoplay
BBB 23: Bruna Griphao grita com Cezar Black durante discussão Imagem: Reprodução/Globoplay

Colunista do UOL

13/04/2023 13h03

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Se o enfermeiro Cezar Black não for eliminado do BBB23 no paredão desta quinta, que disputa contra Aline e Amanda, ele continuará sendo o alvo preferencial das candidatas do Quarto Deserto, com apoio do biomédico Ricardo Alface.

Normal em um game de disputa acirrada como é o Big Brother Brasil que haja as desavenças e estratégicas de eliminação dos adversários. Mas o comportamento agressivo e desqualificador da atriz Bruna Griphao em relação a Black já ultrapassou todos os limites do jogo.

Ou quase todos. Se ele permanecer na casa, a tendência é que a atriz repita no programa as imagens de violência registradas essa semana no bairro de São Conrado, Rio de Janeiro.

Todo mundo viu pela TV e se revoltou com a atitude da moradora branca do bairro da zona sul carioca que, incomodada com a presença de trabalhadores negros em frente ao seu prédio, partiu para a violência, primeiro com xingamentos e depois com porrada.

Ela chegou a morder uma trabalhadora na perna e bater com uma coleira nas costas de um entregador, repetindo as chicotadas que os senhores de escravizados faziam com a população preta no Brasil colonial.

Era assim, em praça pública, que os negros eram tratados no regime escravocrata, que durou até 1888. Muitas vezes as chicotadas eram apenas para servir de mensagem aos outros pretos e à sociedade quem é que tinha o poder, quem é que mandava.

A irracionalidade da moradora e a certeza do poder sobre aqueles corpos não deixaram que a agressora se preocupasse em estar sendo filmada ou que aqueles trabalhadores, juntos, se revoltassem contra ela e revidassem às agressões.

Violência contra trabalhadores em São Conrado - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
A ex-atleta de vôlei e nutricionista Sandra Mathias Correia de Sá é acusada de injúria por preconceito e lesão corporal a entregadores de delivery em São Conrado
Imagem: Reprodução/TV Globo

Em sua ira, ela apenas queria demonstrar quem é que tinha o poder, quem é que mandava ali.

Essa é a mesma sensação passada por Bruna Griphao nas discussões com Cezar Black. Ela perde todo o controle, se atrapalha nos argumentos, grita mais do que conversa e xinga todos os palavrões possíveis, dando muito trabalho para a produção silenciar os nomes feios que saem da boca agressiva da atriz.

O incômodo de Griphao com a presença de Black na Casa do BBB e, especialmente, no Quarto Deserto, é tal e qual o ódio da moradora contra a ocupação dos trabalhadores negros do espaço público do qual ela se sente única proprietária por pagar IPTU.

O ar de superioridade da atriz e a certeza do seu lugar de poder naquele ambiente também fazem com que ela pouco se importe com as dezenas de câmeras que registram todas as suas atitudes mal-educadas e com os milhões de brasileiros que acompanham o seu destempero.

Se a produção não tomar uma atitude, é capaz de a moça partir para a agressão física, tal qual a sua semelhante de São Conrado. É bom que nada parecido com um cinto ou uma coleira esteja por perto da sister quando ela lançar o seu olhar de ódio contra o enfermeiro.

Caso contrário, seremos obrigados a assistir cenas que nem a ficção mais recente sobre a escravidão ousou reproduzir na TV aberta. Já que mesmo a princesinha e toda família real da novela Nos Tempos do Imperador, da qual a atriz participou, viviam em harmonia com os escravizados da época.

Quem ainda consegue acompanhar essa edição do Big Brother Brasil ou quem assiste às imagens divulgadas nas redes sociais tem presenciado a representação das consequências negativas do racismo para as pessoas brancas.

Sim, se o racismo é devastador para as pessoas negras -- provocando adoecimento, exclusões, violências e a morte literal --, para os não negros, a ideologia de superioridade e de privilégios compromete o caráter e a sociabilidade.

Pessoas brancas adoecidas pelo racismo não conseguem conviver em uma sociedade de diversidade e se descontrolam com a mínima possibilidade de ter que dividir o espaço com pessoas negras.

É preciso que a sociedade rejeite e se revolte contra atitudes como a da moradora de São Conrado, para a qual a força da lei deve agir severamente, servindo de exemplo para o país.

Quem sabe se mais pessoas punidas por racismo e mais reprovação pública da violência racial não ajudem a criar uma sociedade em que atitudes como a da atriz Bruna Griphao no BBB sejam motivos de vergonha e de eliminação.