"Pibinho" com bananas ofusca Regina Duarte
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Chegava, enfim, o grande dia da estreia de Regina Duarte, a "namoradinha do Brasil", pronta para brilhar na cerimônia de posse promovida com toda pompa no Palácio do Planalto.
Mas quem roubou a cena, logo cedo, foi Jair Bolsonaro, ao aparecer no "cercadinho" dos jornalistas acompanhado do humorista Carioca, recém contratado pela Record, fantasiado de presidente.
Carioca distribuiu bananas de verdade para os jornalistas e, de repente, Brasília virou Sucupira, a cidade fictícia criada por Dias Gomes na novela "O Bem Amado", personagem imortalizado por Paulo Gracindo no papel de Odorico Paraguaçu.
Só faltou o Chacrinha para perguntar: "Quem quer banana?"
A pantomina foi montada para que o presidente não tivesse que responder sobre o "pibinho" de 1,1% em 2019, anunciado pelo IBGE, e o acordo feito na véspera com o Congresso, para fazer uma "rachadinha", meio a meio, dos R$ 30 bilhões de verbas do orçamento impositivo.
Nem Dias Gomes foi capaz de criar uma cena tão patética e debochada para Odorico, o ditador engraçado de Sucupira, que só queria inaugurar o cemitério da cidade, uma promessa de campanha.
Bolsonaro só não esperava a reação de um grupo de jornalistas, que viraram as costas e foram embora, para não participar dessa chanchada sem graça encenada nos jardins do Palácio da Alvorada.
Fazendo-se de desentendido, o presidente mandou o humorista perguntar aos repórteres: "O que é PIB?". E ele mesmo respondeu: "Pergunta para o Paulo Guedes, Paulo Guedes", o ministro da Economia, por ele chamado de Posto Ipiranga, que não estava na cena.
A essa altura, Regina Duarte, a "Rainha da Sucata" numa novela de sucesso da Globo, já estava no altar do Planalto à espera do noivo, cercada por meia dúzia de artistas do segundo time.
Um mês e meio depois de ter sido convidada a assumir a Secretaria Especial da Cultura, no lugar do göbeliano Roberto Alvim, a atriz se preparava para viver seu primeiro papel na vida real da política.
Muito alegre e saltitante, Regina desceu as escadas para o Salão Nobre de braços dados com o vice, general Mourão, que parecia fazer o papel de pai da noiva.
Talvez ainda não soubesse do massacre desfechado contra ela nas redes sociais pelos bolsonaristas de raiz, inconformados com a demissão em massa dos indicados pelo astrólogo Olavo de Carvalho, o guru do clã presidencial, que se arrependeu de ter aprovado a nomeação de Regina. Chamada de "traidora", só não a acusaram, ainda, de ser comunista.
Ou sabia e, em seu discurso, cobrou a promessa nupcial de Bolsonaro, aos risos:
"O convite que me trouxe até aqui falava em porteira fechada e carta branca. Não vou esquecer não, hein, presidente..."
Bolsonaro entendeu o recado e foi logo avisando, em seu discurso, que ela passará por um "momento probatório", deixando claro que quem manda lá é ele.
"Regina, todos os meus ministros também receberam seus ministérios de porteira fechada. Obviamente, em alguns momentos, eu exerço poder de veto".
Criada no mundo da ficção, a nova secretária da Cultura não tem a menor ideia do que a aguarda na vida real deste governo de fancaria, onde tudo muda de um dia para outro, fica o dito por não dito, ao sabor das circunstâncias, como aconteceu no acordo do "toma-lá-dá-cá" com o Congresso, algo que durante toda a campanha Bolsonaro prometeu que nunca faria.
Não imaginava esse futuro para minha colega da primeira turma da ECA-USP, em 1967, que fazia parte da turma dos "alienados", como eu, e passava longe do efervescente movimento estudantil contra a ditadura militar.
Já não temos mais Dias Gomes para escrever este enredo tragicômico, que levou Regina Duarte ao poder com Jair Bolsonaro, meio século depois.
Odorico Paraguaçu, certamente, acharia graça de tudo, de tão inverossímil.
Vida que segue.
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