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Civilização X barbárie: EUA em pé de guerra decidem nosso futuro

Donald Trump encara as urnas. Chegou a hora da América ser grande novamente? - Samuel Corum/Getty Images
Donald Trump encara as urnas. Chegou a hora da América ser grande novamente? Imagem: Samuel Corum/Getty Images

Colunista do UOL

03/11/2020 15h52

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"Nunca uma eleição foi tão crucial para os EUA, o mundo e o Brasil. A derrota de Trump é a única opção para os que se preocupam com a democracia e o bem-estar da civilização" (Cristina Serra em sua coluna, na Folha).

Em apenas 35 palavras, que abrem seu texto, a cirúrgica Cristina Serra resumiu o que está em jogo hoje na eleição americana.

Pela primeira vez em seus 240 anos de história republicana, os Estados Unidos amanheceram num dia de eleição com a Casa Branca rodeada de cercas e barricadas, e casas e comércios protegidos por tapumes de madeira, à espera do pior, como acontece quando há ameaças de ciclones e furacões, na perfeita imagem criada pela minha mestre Dorrit Harazim, no Globo.

Não se trata apenas de mais uma disputa entre republicanos e democratas, conservadores e liberais, direita e esquerda, azuis e vermelhos, o elefante e o burro, os símbolos dos partidos de Trump e Biden.

Assim como aconteceu aqui em 2018, estamos diante de um verdadeiro plebiscito entre civilização e barbárie, trumpistas e anti-trumpistas, com a diferença de que lá se decide o futuro da democracia com reflexos em todo o mundo.

Pelo menos lá nenhum grande jornal se manifestou diante de uma "difícil escolha". Quase todos apoiaram abertamente o democrata Joe Biden. A liberdade de imprensa, apesar dos arroubos autoritários do presidente, sobreviveu, e tem lado.

Só termina quando acaba

Nos seus quatro anos de governo, e mais intensamente nas últimas semanas, Donald Trump dividiu a outrora orgulhosa América ao meio, ameaçou não só a imprensa, mas as instituições e a saúde pública, insuflou milícias armadas, alimentou o racismo e a xenofobia, e gerou contrafações mal-ajambradas de aprendizes de ditador pela periferia do mundo.

Aloprado com o risco iminente de ser despejado da Casa Branca pelo voto, para acertar as contas das suas muitas pendências na Justiça, o ainda presidente agora ameaça botar a bola debaixo do braço e melar o jogo.

Mesmo que ele aceite a derrota, isso não significará o fim do trumpismo, essa praga autocrática e delirante, que se espalhou e coloca o mundo em suspense.

Ainda hoje, enquanto o povo formava monumentais filas para votar (mais de 100 milhões havia votado com antecedência), ele voltou a denunciar "esquemas suspeitos na Filadélfia", colocando em dúvida se vai aceitar uma possível derrota.

Lembremos que o "STF deles" é conservador

Por muito tempo, por exemplo, os americanos se lembrarão dos três juízes conservadores nomeados por Donald Trump para a Suprema Corte, onde os republicanos agora contarão com maioria de 6 a 3. São eles que poderão definir o resultado das eleições, caso o atual presidente cumpra suas ameaças de recorrer à Justiça.

Inimigo da ciência, da academia e da cultura, incentivador do armamento da população, Trump boicotou os organismos multilaterais, a começar pela ONU e da OMS, todos os movimentos em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos, e chamou de terroristas as manifestações antirracistas e contra a violência policial.

A maior prova de que Trump encerra seu primeiro e, provavelmente, único mandato, cada vez mais mais solitário e rejeitado, é que nenhum líder mundial relevante torce por sua vitória.

Ao contrário, a sua derrota dará uma sensação de alívio e de esperança a muita gente neste ano tenebroso da pandemia, que assolou os Estados Unidos como nenhum outro país. Nós estamos, não por acaso, num desonroso segundo lugar.

Vida que segue.