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Balaio do Kotscho

O magnata, o capitão e o papel das Forças Armadas em xeque, aqui e nos EUA

Bolsonaro e Trump em jantar, na Flórida: duas origens tão diferentes, dois destinos tão iguais                              - ALAN SANTOS/PR
Bolsonaro e Trump em jantar, na Flórida: duas origens tão diferentes, dois destinos tão iguais Imagem: ALAN SANTOS/PR

Colunista do UOL

12/11/2020 17h58

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Na mesma semana em que o presidente brasileiro, capitão Jair Bolsonaro, ameaçou trocar a diplomacia pela pólvora nas relações com os Estados Unidos, o ainda presidente e magnata americano Donald Trump demitiu, sumariamente, o Secretário de Defesa, Mark Esper, para se cercar de aliados fiéis no Pentágono.

Ejetado do Exército por planejar atos terroristas quando era tenente nos anos 1980, mas apoiado pelos militares para se eleger presidente em 2018, Bolsonaro tem-se vingado de generais que levou para o governo, demitindo-os ou desmoralizando-os, e não os consultou sobre a bazófia da pólvora vista nesta quarta-feira.

Ao mesmo tempo, o capitão já nomeou mais de 6 mil militares para cargos civis na administração pública, com um rosário de benefícios e penduricalhos para aumentar seus soldos.

Por isso, talvez, não houve nenhuma reclamação das Forças Armadas até agora, a não ser algumas platitudes do general Mourão, o vice incômodo mas fiel, sobre as sucessivas desfeitas do presidente. Do nosso ministro da Defesa, Fernando Azevedo, não se ouviu nem um pio.

Mas, nos Estados Unidos, a reação foi imediata.

Na noite de quarta-feira, durante a inauguração de um museu do Exército, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, principal oficial militar dos Estados Unidos, deu um recado curto e grosso:

"Não fazemos juramento a um rei ou rainha, tirano ou ditador. Não fazemos juramento a um indivíduo".

Nuvens cinzas ao Norte, probabilidade de temporal

Trump deve ter achado que não foi com ele, e segue fazendo mudanças em cargos políticos no Pentágono, como se estivesse se preparando para um segundo mandato.

O comovente discurso de Milley, diante do sucessor de Esper, o chefe da Defesa em exercício, Christofer Miller, mostrou a preocupação dos militares sobre o que Trump ainda pode aprontar nas 10 semanas que lhe restam de mandato.

Derrotado nas urnas por Joe Biden, por larga margem de votos, até agora Trump não se dignou a reconhecer a vitória do democrata, assim como o presidente brasileiro, que quer aguardar o resultado das chicanas jurídicas do êmulo aliado.

Acossados por todos os lados, com a economia dos seus países em crise e a pandemia ainda fora de controle, o capitão e o magnata seguem na sua rota de negacionismo desesperado, colocando em xeque o papel das Forças Armadas — o primeiro, para se reeleger; o outro, para não entregar a cadeira de presidente ao sucessor até o meio-dia de 20 de janeiro de 2021, como prevê a Constituição americana, a "estrela do nosso norte moral", assim definida pelo general Milley para todos os que usam uniforme naquele país.

Céu parcialmente encoberto no Sul, com possibilidade de pancadas

O que os comandantes militares brasileiros pensam da notícia-crime enviada ontem à Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro, pelo ministro Ricardo Levandowski, do STF, sobre o envolvimento de órgãos de inteligência do governo na defesa do seu filho Flávio, o senador alvo de um caminhão de denúncias do Ministério Público, que se avolumam a cada dia?

Como eles se sentem quando o presidente comemora a morte de um voluntário, que levou à suspensão dos testes de uma vacina contra o coronavírus, e veem o ministro da Saúde, um general da ativa, humilhado seguidamente pelo capitão reformado?

Acham bonito o capitão chamar o Brasil de um país de "maricas", ao mesmo tempo em que ameaça enfrentar os exércitos de Joe Biden com pólvora?

A grande diferença entre o país do capitão e o do magnata deslumbrado é que lá as instituições funcionam, são realmente independentes, colocam limites e não têm medo de abrir processos de impeachment quando o presidente desafia as leis do país, como está fazendo agora, novamente, ao negar a Biden o ritual de transição do governo.

Na gaveta de Maia, por enquanto tempo firme

Aqui, o presidente da Câmara, o folgazão Rodrigo Maia, senta-se em cima de mais de 30 pedidos de abertura de impeachment, pelos mais variados motivos — ele já nem sabe mais quantos são — e não dá satisfações a ninguém.

O poderoso Donald e seu vassalo Jair, embora com trajetórias de vida tão diferentes, nasceram um para o outro, mas a democracia vai destinar a eles o mesmo fim.

É só uma questão de tempo.

Vida que segue.