Donald Trump faz EUA provarem do próprio veneno com golpe frustrado
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O pesadelo ainda não acabou.
Faltam longos 13 dias e noites para Donald Trump entregar a Casa Branca a Joe Biden, oficialmente proclamado novo presidente dos Estados Unidos (EUA), às 3h44 da madrugada de hoje, em Washington.
Até lá, o autor do golpe fracassado contra o Congresso americano continuará solto, de posse da maleta com os códigos do arsenal nuclear que pode colocar o mundo em perigo ao simples apertar de um botão.
Por isso, deputados democratas enviaram uma carta ao vice-presidente para iniciar um processo de afastamento imediato de Trump, invocando a 25ª Emenda da Constituição, que permite remover um presidente "considerado incapaz de seguir no cargo".
A quarta-feira de 6 de janeiro de 2021 passará à história como o dia da infâmia, em que um homem alucinado conclamou seus seguidores a marcharem para Washington, ameaçando a mais antiga e sólida democracia do mundo moderno.
Como sabemos, os EUA têm uma longa tradição e experiência em golpes contra a democracia, mas em outros países menos poderosos, como o Brasil, por exemplo.
Ao vencedor, as bananas
É a primeira vez, porém, que o país prova do próprio veneno, metodicamente ministrado nos últimos quatro anos por um populista de extrema-direita, derrotado na tentativa da reeleição.
Mesmo assim, vale lembrar, Trump teve 71 milhões de votos, o que mostra um país dividido ao meio, que tão cedo não curará suas feridas.
Quem melhor definiu a invasão do Congresso americano e a destruição das suas instalações foi o ex-presidente George W. Bush, republicano como Trump:
"É assim que os resultados são disputados em uma república de banana".
Enquanto isso, a covid-19 assiste a tudo, impassível
De fato, as imagens lembravam a invasão nas cúpulas do Congresso Nacional brasileiro, em 2016, durante as manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Ao mesmo tempo em que os milicianos trumpistas invadiam o Capitólio, e ameaçavam deputados e senadores, atendendo a uma convocação do seu líder, que simplesmente não aceitava a derrota, mais quatro mil americanos morriam de covid-19, em meio à pandemia ainda fora de controle.
Outro ex-presidente, o democrata Barack Obama, assistindo àquelas cenas pela TV, falou em desonra e vergonha para o país:
"Mas estaríamos de brincadeira se fingíssemos total surpresa".
Trump promete transição ordeira. Quem acredita?
Nada disso teria acontecido se o Congresso houvesse contido a tempo o celerado magnata, que fez do governo um grande negócio, desafiando seguidamente as instituições americanas em suas tentativas de obstrução da Justiça.
Poderiam ter poupado as vidas das quatro pessoas mortas no confronto entre milicianos armados e as forças policiais, e o vexame perante o mundo, durante as seis horas em que Washington virou uma praça de guerra, sem ter inimigos externos pela frente.
Delirante em suas mensagens nas redes sociais, Trump prometeu uma "transição de poder ordenada no dia 20 de janeiro", mas quem ainda acredita nele?
No final da mesma mensagem, mais uma ameaça: "Por mais que isso represente o fim do melhor primeiro mandato da História presidencial, é apenas o início da nossa luta para "Fazer a América Grande novamente".
EUA, acostumados a derrubar governos alheios, sentem o gosto do veneno
Lá como cá, o grande inimigo é a imprensa, que teve seus equipamentos destruídos durante a invasão, com jornalistas tendo que se esconder da turba enfurecida.
Ao final, ficou o aviso afixado numa porta do Capitólio: "Mate a mídia!".
Vai ser difícil, daqui para a frente, os americanos justificarem novas intervenções nas "repúblicas de banana", geralmente em países produtores de petróleo.
A "América Grande" de Trump só existe ainda na imaginação dele.
Faltam 13 dias para se fechar um ciclo, iniciado em meados do século 20, quando os Estados Unidos ajudavam a eleger e derrubar governos mundo afora, a pretexto de defender a paz e a democracia, de acordo com os seus interesses.
Ao experimentar do próprio veneno, os americanos podem ter caído na real.
Vida que segue.
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