Carla Araújo

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Reportagem

Falta de conversa e busca por novos cortes incomodam cúpula do Exército

Não caiu bem na caserna a fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite de segunda-feira (11), de que o presidente Lula (PT) tinha pedido para incluir mais um ministério no esforço do corte de gastos.

O alvo seria o Ministério da Defesa, o que incomodou a cúpula das Forças Armadas. Hoje, Haddad foi até o Ministério da Defesa para uma reunião com o ministro José Múcio e com os comandantes das três forças. Após a reunião, que aconteceu pela manhã, segundo apurou a coluna, ficou acertada outras reuniões entre as áreas técnicas - dos militares e da Fazenda.

Múcio tem uma reunião com Lula à tarde no Planalto e deve levar ao presidente o que foi discutido nesta manhã.

Militares de alta patente reclamaram da possibilidade de o ministro José Múcio perder a batalha, que já vem travando há alguns meses, sobre a revisão dos gastos. No início do ano, a pasta havia sido poupada. Mas, a partir de março, foi impossível ficar de fora, já que quase todos os ministérios entraram nos cortes —a exceção foi o do Meio Ambiente, de Marina Silva.

Em julho, o governo federal já havia prometido o congelamento de R$ 15 bilhões em gastos para este ano e um corte de R$ 25,9 bilhões na proposta de orçamento do ano que vem para cumprir o arcabouço fiscal. Mas agora se vê pressionado a contar ao mercado como vão ficar as contas de 2026. A demora tem causado um clima de insegurança entre os investidores nos últimos dias, impulsionando o dólar e derrubando a Bolsa de Valores.

A avaliação dos militares é que há escassez de recursos para investimentos, principalmente para projetos estratégicos e de longo prazo, e já não haveria como enxugar o orçamento. Apesar de o orçamento ser um dos cinco maiores na Esplanada, com R$ 127,7 bilhões, a maior parte desse montante é gasta com despesas com pessoal, tanto da ativa quanto da reserva e pensões.

E Lula resistia a mexer na Previdência dos militares. A possibilidade vinha sendo ventilada desde junho pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento). O presidente do TCU, Bruno Dantas, também sugeriu em entrevista mexer no regime. Agora a opção tem se tornado mais real nas previsões de cortes futuros, apesar da falta de consenso e de um anúncio oficial.

Múcio ainda não havia conversado com os comandantes das forças nesta terça-feira (12), mas o clima, principalmente no Exército, era de insatisfação pela "falta de deferência" e de não terem sido informados sobre onde seriam os cortes. A Marinha e a Aeronáutica também ainda estão aguardando mais informações vindas dos comandantes.

O discurso oficial da Defesa é que os militares aceitam mexer em benefícios, alguns considerados como privilégios, desde que eles não sejam a única categoria de servidores afetada. Também alegam que o custo deles para os cofres públicos é menor do que com outros setores.

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Os militares representam 11,6% do rombo previdenciário da União, mas o gasto anual com aposentados e pensionistas das Forças Armadas é proporcionalmente muito maior do que com civis e servidores públicos.

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