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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Dino deixa governo no MA com base rachada e apoio de Sarney a seu candidato

Novo governador (e candidato) Carlos Brandão e Flávio Dino regam planta em Chapadinha - Reprodução/Facebook
Novo governador (e candidato) Carlos Brandão e Flávio Dino regam planta em Chapadinha Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

02/04/2022 04h00

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Sete anos depois de tirar a faixa de Roseana Sarney (MDB), o governador Flávio Dino (PSB) deixa hoje o governo do Maranhão em meio a uma base rachada e acusado por antigos aliados de desprezar nomes da esquerda na sua sucessão.

O pivô da disputa foi a escolha do vice Carlos Brandão para ser o candidato do seu grupo.

Brandão assume o governo hoje, pensando na reeleição, após idas e vindas por partidos de centro-direita. Um dos fatos que chama a atenção é que ele contará com apoio do único remanescente da família Sarney eleito no estado, o deputado estadual Adriano Sarney (PV).

"Brandão é uma pessoa pró desenvolvimento do Maranhão, pró empresariado, que tem a ver com as minhas bandeiras. Não é um comunista nato. É uma pessoa que eu gosto das ideias, gostei do projeto que ele tem para o Maranhão e apoiei e vou apoiar", disse o neto do ex-presidente José Sarney, em entrevista no último dia 14 à rádio Mirante.

A história de Brandão na política local começou no antigo PFL, passou para o PSDB (em que foi eleito deputado federal em 2010 e vice-governador em 2014) e para o Republicanos (em que foi reeleito em 2018).

De lá para cá, ele voltou para o PSDB em 2020 e, recentemente, deixou os tucanos para ir para o PSB. O ingresso no partido ocorreu por um motivo simples: no PSB ele iria ter o apoio do PT e de Luiz Inácio Lula da Silva.

"Era preciso ter a hombridade de mudar de partido. Não ficaria num partido apoiando um candidato de outro. Isso não é correto, e não é hora de aventuras", disse Brandão em seu ato de filiação, no dia 23.

Em troca, o PT deve indicar o vice de Brandão. O principal nome é o ex-secretário de Dino Felipe Camarão —que era do DEM, mas deixou o partido e se filiou ao PT no meio do ano passado.

Lula, Carlos Brandão e Flávio Dino: Maranhão teve mudança de partido para "abraçar" petista - Divulgação - Divulgação
Lula, Carlos Brandão e Flávio Dino: Maranhão teve mudança de partido para "abraçar" petista
Imagem: Divulgação

Aliados chiam

As escolhas não agradaram a alguns aliados históricos, que viram na escolha um modelo político beneficiando ex-integrantes do "sarneísmo".

"A ascensão de Brandão coincide com as opções políticas de Flávio Dino de não fortalecer o campo da esquerda maranhense. Brandão nos [Palácio dos] Leões reabilita com força os velhos grupos oligárquicos do estado: Sarneys, Lobãos, todos se reencontram na volta ao poder", diz Márcio Jardim, petista histórico e apoiador de Dino desde 2010.

O petista integra uma ala do partido que, em 2010 e 2014, desafiou o PT nacional ao apoiar Dino ao governo —na época o diretório nacional interveio para se coligar com Roseana Sarney (2010) e Lobão Filho (do MDB em 2014).

Em 2014, Jardim se candidatou a deputado federal com o número 1365 (o 65 era uma referência ao número na urna de Dino) e fez campanha contra o candidato ao qual o PT estava coligado.

Para apoiar Brandão, Dino deixou de lado outros nomes que seriam mais históricos na esquerda. O nome que Jardim e outros aliados queriam era o do senador Weverton Rocha (PDT).

Segundo Jardim, Dino não só rifou esse nome, como acabou com todas as intenções de aliados históricos que poderiam postular alguma vaga na eleição de outubro.

"Não existe cenário para a disputa nesta eleição. De todos que acompanharam Flávio Dino desde a eleição de 2010, nenhum teve as pretensões eleitorais prestigiadas. Dino optou por fortalecer outro perfil de apoiadores, não de esquerda", afirma.

Weverton —que também diz apoiar Lula, mesmo estando no PDT— alega que a escolha de Dino foi errada, já que Brandão seria "de direita". Mesmo preterido, decidiu continuar como candidato ao governo.

A coluna tentou conversar desde a quarta-feira com Dino, por meio de sua assessoria de imprensa, mas o governador não quis comentar.

Weverton em encontro com Lula, em janeiro - Reprodução/Facebook Weverton - Reprodução/Facebook Weverton
Weverton em encontro com Lula, em janeiro
Imagem: Reprodução/Facebook Weverton

Esquerda "dinista"

Para o cientista político e professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) Wagner Cabral, Weverton tem razão: "Carlos Brandão teve sua trajetória nascida dentro do antigo PFL e, sim, pode ser classificado como político de direita", diz.

"Ele começa assumindo cargos de secretário-adjunto no governo Roseana, se filia ao PFL dela nos anos 1990. É nesse percurso que ele se torna próximo do então vice-governador José Reinaldo Tavares e o acompanha no momento em que ele assume o governo. Começa a tensão que acaba por gerar a ruptura do grupo", explica.

Nesse contexto, Brandão sai do PFL e vai para o PSDB, deixando também a Casa Civil do governo de Reinaldo para ser deputado federal.

"A passagem dele agora para o PSB é rigorosamente pro forma, vem da ideia de que o Palácio dos Leões vale qualquer partido. Ele poderia ir para o PT, para qualquer um, não faria diferença", diz.

Brandão, Dino e o presidente do PSB, Carlos Siqueira, durante filiação - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Brandão, Dino e o presidente do PSB, Carlos Siqueira, durante filiação
Imagem: Reprodução/Facebook

Sobre o racha no grupo, ele cita que o "condomínio" criado por Flávio Dino era heterogêneo e que tinha só um ponto de unidade: "derrotar o sarneísmo".

"Nesse processo, ele dá espaço para partidos de centro, de direita, inclusive para grupos bolsonaristas", diz.

Mesmo assim, Cabral afirma que Dino segue controlando os partidos de esquerda. "Ele sai do PCdoB, mas deixa um deputado federal [Márcio Jerry] lá. O PT é mais difícil de controlar, mas ele filiou um deputado federal [Rubens Jr.] e um secretário do governo [Felipe Camarão, que era da Educação]. Ou seja, vai se criando uma banda do PT 'dinista', um PCdoB dinista e agora um PSB dinista", afirma.

Nesse contexto, não tem como dar espaço a ascensão de outras lideranças de esquerda. A política dele é: ou aceita ficar debaixo da asa, ou não existe no campo da esquerda. E a escolha de Brandão é uma forma de ele sair do poder e, ao mesmo tempo, permanecer; de colocar alguém que deve favores e que pode fazer ele voltar em 2026.
Wagner Cabral, da UFMA