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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Ciro se diz traído e vira padrinho solo de candidato do PDT no Ceará

Ciro discursa durante ato no domingo, em apoio a Roberto Cláudio, em Fortaleza: irmãos ausentes - Reprodução/Twitter
Ciro discursa durante ato no domingo, em apoio a Roberto Cláudio, em Fortaleza: irmãos ausentes Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

23/08/2022 04h00

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O presidenciável Ciro Gomes (PDT) se tornou o único de seu grupo político a entrar na campanha do apadrinhado Roberto Cláudio (PDT) na disputa ao governo do Ceará. PT e PDT se separaram no estado e causaram um racha inédito na família Ferreira Gomes.

Os irmãos Cid e Ivo, que sempre foram parceiros nas eleições estaduais, romperam o palanque local por entenderem que Ciro atuou de forma isolada para que o partido escolhesse o nome de Roberto, e não o da atual governadora, Izolda Cela (sem partido), para a eleição estadual.

Mesmo só, Ciro não baixou a guarda. Ele acusa o ex-governador Camilo Santana (PT) de traição e culpou até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo fim da aliança entre os dois partidos após 15 anos.

Na família, a divisão ficou mais clara no último domingo (21), quando Ciro participou da inauguração do comitê de campanha do ex-prefeito Roberto Cláudio em Fortaleza. O evento não contou com participação de Cid nem de Ivo.

A ausência dos irmãos foi um dos temas mais levantados pelos jornalistas na ocasião. Ciro se mostrou magoado e incomodado com a situação. "Não tenho a menor vontade de comentar esse tipo de assunto, me faz mal, dói no meu coração", afirmou.

Ciro se mobilizou pelo nome de Cláudio por desejar um palanque mais fiel à sua candidatura à Presidência. Além do rompimento com o PT, afastou os dois principais líderes do grupo: o ex-governador Camilo Santana (PT) e o senador Cid Gomes (PDT).

Ciro ladeado de Roberto Claudio durante caminhada em mercado público  - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Ciro ao lado de Roberto Cláudio durante caminhada em mercado público de Fortaleza
Imagem: Reprodução/Twitter

Camilo apoia a candidatura de Elmano de Freitas (PT) ao governo. Inclusive, ele tem sido um dos interlocutores junto a lideranças do interior em busca do apoio de prefeitos e vereadores.

Já Cid decidiu ficar neutro. Nos bastidores, diz-se que o senador só deve fazer alguma manifestação eleitoral no segundo turno, caso o adversário seja Capitão Wagner (União Brasil) —que hoje lidera as intenções de votos nas pesquisas e é o maior opositor recente da família Ferreira Gomes.

A neutralidade de Cid também se refletiu em suas redes sociais, quando ele postou pedidos de voto para Ciro na disputa presidencial, sem citar a eleição cearense. Mesmo cobrado sobre o voto na eleição local, ele não comentou o assunto.

Porém, para não prejudicar a candidatura de Ciro, Cid decidiu não expor o racha publicamente. Cid apoia Ciro na disputa nacional, mesmo que à distância —já em 2018 eles fizeram vários atos juntos.

Já Ivo, prefeito de Sobral, foi mais direto e postou em redes sociais que Cid não apoia Roberto porque ele teria sido "alijado" durante a escolha.

Cid decidiu não dar entrevistas depois da decisão do PDT. Segundo apurou a coluna, ele se chateou com a forma como o irmão Ciro tomou a frente da negociação com integrantes do PDT.

"Ele sabe todo o esforço que fez para unir esse grupo e conquistar o que conquistou. E viu ruir em seguida", diz um aliado de Cid.

Historicamente, Cid é o responsável pela interlocução da família no Ceará, enquanto Ciro fazia a negociação em nível nacional. O "atropelo" de Ciro a Cid teria sido a gota d'água para afastar os irmãos.

Os irmãos Cid e Ciro Gomes, durante convenção do PDT em 2015 - Alan Marques/ Folhapress - Alan Marques/ Folhapress
Os irmãos Cid e Ciro Gomes, durante convenção do PDT em 2015
Imagem: Alan Marques/ Folhapress

Ainda de acordo com aliados de Cid, havia um pré-acordo entre ele e Camilo Santana para que Izolda fosse a escolhida. Assim a aliança seria mantida, já que o PT já tinha informado que romperia a união caso Roberto Cláudio fosse o indicado pelo PDT.

Izolda Cela ainda não se manifestou publicamente, mas a equipe de Elmano de Freitas espera que ela declare apoio ao petista ainda no primeiro turno. Ela já deixou claro que vota em Camilo para o Senado —assim como Ivo Gomes. Cid não fez qualquer declaração.

Apesar de não querer falar sobre os irmãos, Ciro tem detonado —sempre que tem chance— o ex-governador Camilo Santana, a quem trata como um traidor.

"Sei o que eu fiz pelo Camilo. Não acho que eu merecesse do Camilo essa deslealdade de nem sequer me comunicar, sabe, coragem de dizer assim: 'Mudei de ideia, agora eu vou com Lula'", disse no último dia 11, em entrevista a uma rádio durante visita a Bahia.

Ele chegou a dizer que Lula teria influência direta na decisão, já que teria prometido um ministério ao ex-governador.

Camilo Santana (PT) e a atual governadora Izolda Cela, após vitória nas eleições de 2018 - Estadão Conteúdo - Estadão Conteúdo
Camilo Santana (PT) e a atual governadora Izolda Cela, após vitória nas eleições de 2018
Imagem: Estadão Conteúdo

Ao lado de Ciro e Roberto Cláudio no domingo, estava o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que, após anos afastado do grupo, agora apoia o candidato do PDT. "Esse projeto aqui é um projeto coletivo, iniciado por Tasso Jereissati que está aqui", afirmou Ciro.

Sabe quem está no outro caminho? É verdade ou não é verdade que o Camilo é produto desse grupo, desse movimento, dessa tropa, desse projeto para o Brasil? Isso é verdade."
Ciro Gomes, presidenciável pelo PDT

A coluna procurou Camilo, por meio de sua assessoria, para que ele comentasse as declarações de Ciro, mas não obteve resposta.

Apesar de ser "lançada" para o Ceará com apoio de Tasso, a família Ferreira Gomes passou tempos afastados do senador. Na eleição de 2010, os grupos mediram forças, com Cid vencedor. Em 2018, Tasso bancou a candidatura de General Theophillo pelo PSDB para concorrer contra Camilo.

A reaproximação se deu nos últimos anos e culminou com uma aliança formal entre PSDB e PDT. Tasso, por sinal, anunciou sua despedida da política neste ano. Ele chegou a conversar com Lula para talvez apoiar Camilo Santana, indicando o suplente na chapa, mas o acordo não vingou.