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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Aliados de Lula, governadores do NE dão recado com envio de policiais ao DF

Tropas de Alagoas, com 50 militares, viajou hoje para Brasília - Pei Fon/Governo de Alagoas
Tropas de Alagoas, com 50 militares, viajou hoje para Brasília Imagem: Pei Fon/Governo de Alagoas

Colunista do UOL

10/01/2023 04h00Atualizada em 10/01/2023 10h26

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Governadores do Nordeste começaram a enviar, na madrugada de segunda (9), policiais militares para ajudar no controle da ordem em Brasília após os atos terroristas praticados no domingo (8). Os nove estados nordestinos já mandaram ou deixaram à disposição do Distrito Federal um efetivo total de 446 policiais.

Além da missão de dar suporte à manutenção da segurança na capital federal, eles deixam um recado de que haverá união em torno da defesa da democracia e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e para o combate a golpistas bolsonaristas e a eventuais insubordinações militares.

Com exceção de Pernambuco, onde Raquel Lyra (PSDB) ficou neutra em relação à disputa presidencial de 2022, todos os governadores que mandaram tropas apoiaram Lula na campanha.

Número de soldados enviados a Brasília por estados do Nordeste:

  • Alagoas - 50
  • Ceará - 70
  • Bahia - 70
  • Piauí - 40
  • Rio Grande do Norte - 30
  • Maranhão - 76
  • Sergipe - 40

Os demais estados do Nordeste têm tropas prontas e que serão acionadas em caso de necessidade. São eles:

  • Pernambuco - 50
  • Paraíba - 30

Pará, Goiás e Rio Grande do Sul também ajudaram. Além dos estados nordestinos, também enviaram tropas ao DF os governadores Helder Barbalho (MDB-PA), Ronaldo Caiado (UB-GO) e Eduardo Leite (PSDB-RS).

Ação rápida

Os governadores nordestinos deram uma resposta rápida a Lula: ainda na noite de domingo, o Consórcio Nordeste divulgou uma nota informando que todos os estados da região colocavam suas tropas à disposição do governo federal.

A ação também foi imediata: primeiro estado a mandar tropas, a Bahia enviou 70 homens no começo da madrugada de segunda (9). O governador Jerônimo Rodrigues (PT) foi até o aeroporto e acompanhou o embarque.

A coluna apurou com aliados e pessoas próximas de governadores nordestinos que a atuação célere foi articulada para deixar claro o apoio a Lula e para passar uma mensagem de união.

Ciente de que outros governadores mais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não iriam enviar tropas, entenderam como fundamental que a região tomasse à frente no apoio naquele momento crítico.

Na avaliação dos governadores, apesar de não ser um número determinante para restabelecer a ordem, a presença de policiais têm um caráter simbólico e outro prático:

  • Prático: atuar eventualmente no lugar de policiais do Distrito Federal que estejam resistentes à ação.
  • Simbólico: deixar claro que haverá suporte de forças de segurança chefiadas por governos aliados nas ações para proteção da democracia e do governo.

Lido com a polícia ainda difícil

O trato com as polícias militares, por sinal, é um dos desafios já conhecidos dos governadores de esquerda. Em estados do Nordeste, por exemplo, eles encontraram resistência no cumprimento da ordem de encerrar os acampamentos golpistas.

Sob reserva, um dos assessores falou que, mesmo após a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) determinando o fim das aglomerações golpistas, e com ordens expressas de governador e secretário de segurança, houve demora no batalhão designado para ir até um local de manifestantes.

"Os manifestantes deixaram o local antes da chegada do reforço da polícia. Os poucos policiais que estavam lá pediram quase que 'por favor' para que saíssem. Não seria assim se fosse outro público no protesto", admite.

Outro aliado de governador nordestino disse que, no encontro entre governadores na noite de ontem, ficou claro que os chefes de estados mais bolsonaristas devem se preservar, em vez de se exporem publicamente enviando tropas ou fazendo uso de palavras menos duras para definir os atos terroristas em Brasília.

Um dos exemplos, no caso, é, justamente, o Distrito Federal, que deu vitória emblemática de Bolsonaro sobre Lula no segundo turno da eleição: 58,8% a 41,2%.

Os governadores entenderam que deve ter havido insubordinações que resultaram no caos na capital federal. O governador afastado, Ibaneis Rocha (MDB), é ligado politicamente a Bolsonaro.

Diante um cenário de PMs bolsonarizadas, os chefes dos executivos acharam que seria importante demarcar território para evitar violência de atos fora de Brasília. Além disso, policiais de fora poderiam ser usados com mais confiança pelos interventores federais. "Um policial nosso não vai se negar a cumprir ordens", explica um assessor.

Para outra pessoa ligada a um governador, o envio de policiais também foi um recado indireto para as tropas locais. "As PMs passaram por um processo de bolsonarização que, hoje, chega a, no mínimo, 80% da tropa. Podemos ter policiais mandados [ao DF] com simpatia pelos ideais das manifestações, mas eles vão precisar separar. Será preciso mostrar isso daqui por diante", explica.

Não vamos abrir mão do Brasil que nós merecemos, que nós precisamos. O Brasil precisa de paz para que possamos, de mãos dadas e exercendo esse diálogo federativo tão saudável e necessário, trazer emprego e cidadania para o povo brasileiro."
Governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT)