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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

3 casos até agora: 2023 é ano com mais ataques de tubarão desde 2006 em PE

Placas espalhadas pela orla de de Olinda informam os banhistas do risco de ataques de tubarão - Prefeitura de Olinda
Placas espalhadas pela orla de de Olinda informam os banhistas do risco de ataques de tubarão Imagem: Prefeitura de Olinda

Colunista do UOL

08/03/2023 04h00

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Com três ataques de tubarão em duas semanas, 2023 já é o ano com mais casos registrados em Pernambuco desde 2006 —quando houve quatro ocorrências, porém em 12 meses.

Os dados são do Cemit (Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões), ligado à SDS Secretaria Estadual de Defesa Social.

Ao todo, desde 1992, foram 67 ataques com 26 mortes na Região Metropolitana do Recife —que concentra os registros. Dos três casos deste ano, nenhuma das vítimas morreu ou corre risco.

Em 1994, foram 10 ataques. Em 2004, sete. (veja quadro abaixo)

Para especialistas ouvidos pelo UOL, ainda não é possível afirmar por que houve uma sequência de ataques nas últimas semanas. Eles afirmam que é necessário estudar, por exemplo, se as mudanças climáticas influenciaram o comportamento dos animais, entre outros aspectos.

Os pesquisadores reclamam que o Projeto de Pesquisa e Monitoramento de Tubarões no Estado de Pernambuco (Protuba) foi interrompido há nove anos. Ele funcionou entre 2004 e 2014. Desde então, não há mais monitoramento das espécies.

O projeto, tocado em parceria com a UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), pescava animais próximos à costa e os colocava em alto-mar para monitoramento.

Como a gente está há tanto tempo sem monitoramento das espécies, não tem uma precisão do que está ocorrendo. Mas sabemos que as mudanças de correntes e aquecimento das águas podem fazer fenômenos de agregação de peixes que são presas para os tubarões."
Jonas Rodrigues engenheiro de pesca e doutor pela UFRPE

Rodrigues avalia que, com essa mudança, os animais podem ter se aproximado ainda mais da costa. "Isso pode mudar o período de busca de alimentação deles. Mas precisamos estudar mais. É preciso um monitoramento contínuo para termos os parâmetros."

Governadora promete volta

Na segunda (6), a governadora Raquel Lyra (PSDB) afirmou que vai retomar projetos desta área. "Estamos chamando as universidades que tinham parado seus estudos e pesquisas desde 2015. A gente vai restabelecer isso", afirmou a jornalistas após visitar pacientes atacados no Recife.

Ontem, ela se reuniu com pesquisadores e prometeu anunciar ações para tentar proteger a população.

Maio e julho concentram mais ataques, segundo Cemit. Rosângela Lessa, doutora oceanóloga, professora e pesquisadora da UFRPE e presidente Cemit entre 2012 a 2014, destaca que, desta vez, os casos ocorreram em fevereiro —mês em que, historicamente, era registrado um baixo número de ataques.

O grupo dos tubarões constitui um dos que mais estão sofrendo com alterações climáticas, e isso é uma situação que não tinha sido muito bem entendida. Temos de estudar mais, pegar o conhecimento que temos e estudar como os tubarões estão reagindo."
Rosângela Lessa

Para atenuar o problema, é preciso engajamento dos banhistas. "Desde 1992 existe um cabedal de informações importantes que estão disponíveis. As pessoas têm de entender que onde tiver tubarão, tem risco. Isso é conhecido há muito tempo, e temos isso mapeado: áreas de mais risco e menos riscos", alerta Lessa.

Locais com mais ataques registrados:

  • Boa Viagem (Recife) - 24
  • Piedade (Jaboatão dos Guararapes) - 23
  • Praia do Paiva (Cabo de Santo Agostinho) - 4
  • Praia Del Chifre (Olinda) - 4
  • Pina (Recife) - 3
Praia de Boa Viagem, no Recife, líder de ataques - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Praia de Boa Viagem, no Recife, líder de ataques
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Cláudio Sampaio, professor e pesquisador da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), explica ainda que os ataques fazem parte de um processo de busca dos tubarões por alimento.

O animal pode ter um hábito alimentar mais amplo, como o tigre e o cabeça-chata, que comem praticamente de tudo. Mas geralmente a mordida é a que chamamos de exploratória. Em alguns casos os membros mutilados aparecem na praia, indicando que o tubarão não se alimentou da carne humana."
Cláudio Sampaio, pesquisador da Ufal