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Racha Cid x Ciro trava reaproximação com PT e indica fim da era Gomes no CE
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Depois de ver o PDT perder a eleição no primeiro turno no Ceará e no Brasil, a família Gomes ainda não superou o racha de irmãos em 2022. As divergências ficaram claras nos últimos dias com farpas públicas recentes do senador Cid com pedetistas mais próximos de Ciro no Ceará, tirando cada vez mais o protagonismo da família no poder político no estado.
O cenário atual aponta para uma provável divergência na disputa da Prefeitura de Fortaleza, e que deve culminar em duas chapas como ocorreu em 2020 e em 2022 —no caso, para o governo do estado
No último dia 28, Cid Gomes (PDT) deu uma de suas raras entrevistas, ao podcast "As Cunhãs", e não quis dar detalhes sobre as divergências com o irmão. "Problema de família é em família, não trato em público", disse, após perguntado se houve festa de Natal da família no ano passado.
Mas sobre política, Cid falou muito e voltou a culpar o irmão pelo racha do PDT que gerou o fim da aliança com o PT de 16 anos no estado. Tudo para apoiar o ex-prefeito de Fortaleza e candidato derrotado ao governo, Roberto Claudio (PDT).
Quando vi que Ciro deixou a questão irreversível, eu disse aos dois que estava fora, que era um tiro no pé enfrentar um candidato de Lula e de Camilo. Para não brigar com o Ciro, acabei me recolhendo."
Cid Gomes
Em falas durante a campanha presidencial, Ciro disse que foi apunhalado pelas costas, e que apenas uma pessoa o defendia no Ceará, justamente o seu candidato Roberto Claudio. "A ferida está aberta, está sangrando neste momento. Sabe por quê? Eu dei minha vida inteira ao povo do Ceará", disse, em entrevista a TV Record, em setembro do ano passado.
Cupido sem sucesso
Cid chegou a dizer no primeiro turno da eleição no Ceará que queria ser o cupido da retomada da aliança com o PT, mas não tem conseguido êxito a missão —embora deixe claro que ainda tenta. "Desejo muito refazer a aliança e trabalho nessa direção", alegou Cid, citando 2024.
Mas o PDT segue dividido, com uma ala mais ligada a Ciro e a Roberto Claudio, que fazem oposição ao governador Elmano de Freitas (PT), eleito em 2022. Nos bastidores, acredita-se que isso também já seja de olho em 2024.
Segundo apurou a coluna, Cid tem uma excelente relação com Elmano e com o ministro da Educação, Camilo Santana (PT). O mesmo vale para a ex-governadora Izolda Cela (sem partido), que hoje é secretária-executiva do MEC.
O senador, inclusive, conseguiu indicar alguns nomes para compor o governo cearense.
Mas mesmo assim, nem mesmo a bancada do PDT na Assembleia Legislativa está unida, e três dos 10 deputados estaduais fazem hoje oposição a Elmano.
Cid reconhece o momento tenso. "Os ânimos continuam beligerantes, uma parte [do PDT] continua querendo briga. Espero que o tempo cure esse ódio, ninguém pode fazer política assim. O PT é aliado da gente desde Sobral", disse ele, que ainda criticou o prefeito de Fortaleza, Sarto (PDT), que teria deixado de lado a parte mais pobre da cidade.
As falas de Cid não ficaram sem resposta, e o líder do prefeito na Câmara, Carlos Mesquita (PDT), o criticou.
"É uma injustiça o que o senhor está fazendo com o nosso prefeito O Cid está quebrando o PDT na Assembleia e agora quer quebrar aqui no Município e na Câmara, mas não vai quebrar, não, Cid. Estamos com Sarto", discursou.
A coluna tentou, desde a quinta-feira, falar com o presidente do PDT no estado, André Figueiredo, mas não teve sucesso. O espaço segue aberto.
Ciro do outro lado
Se a relação é boa com o PT local e nacional, o mesmo não ocorre com Ciro —que por sinal está em total isolamento após as eleições.
Ciro não dá entrevistas desde então, mas Cid acredita que ele ainda vai aparecer para fazer oposição a Lula. Disse, no dia votação do primeiro turno, que pretendia parar na política.
"Eu penso que o Ciro não deseja, não pensa em reaproximação com Lula. Têm aspectos pessoais. Todo governo tem aqueles seis meses de trégua. Ciro está vivendo esse momento, mas diria que tem 99,9% de chance de ele voltar com uma linha de oposição frontal", disse Cid.
Para ele, Ciro fez "política com o fígado" em 2022. "E eu aprendi com ele que ninguém deve fazer isso, que política se faz com a cabeça. Por essa postura que ele trouxe ao Ceará uma queixa que não tinha razão de ser. Eu estava construindo a manutenção de uma aliança com o PT apoiando um candidato do PDT", lembra.
Mas a missão não é fácil. Sarto enfrenta um desgaste popular, acentuado nos últimos dias pelo reajuste do preço das passagens de ônibus, que subiu 15%. A alta causou atrito entre prefeitura e governo estado, que se acusaram em discussão pública sobre o aumento.
Uma fonte ouvida próxima ao Palácio diz que o PT vai lançar candidato forte para a prefeitura, e espera uma vitória sobre o PDT tal qual em 2022 no governo do estado.
No meio dos dois, o problema é o Capitão Wagner (União Brasil), que na última eleição chegou ao segundo turno e quase venceu. Na eleição passada para o governo, apesar de derrotado em primeiro turno, foi o mais votado em Fortaleza para governador.
O resultado das urnas foi um fracasso, e Claudio ficou apenas com a terceira colocação no primeiro turno, com 14,1% dos votos válidos. Ciro, ao contrário de 2018 quando venceu a eleição com 40,9%, ficou ano passado com a terceira colocação no Ceará, com apenas 6,8% dos votos válidos.
Fim da era?
Sobre o fim do ciclo de poder da família, ele foi questionado e afirmou que "é um assunto delicado" para ele, e que "é melhor que os analistas falem". Disse que sempre se incomodou com a expressão " Ferreira Gomes".
"É como se a gente fosse uma oligarquia, que não é. Oligarquia pressupõe poder econômico e centralizado, nada disso a gente tem", afirmou.
Entretanto, ponderou:
A gente vai envelhecendo, e muitas pessoas gostam, acham que tem de botar gente mais nova. Eu não tenho problema com isso: faço política por gosto. Se derem atenção para alguém que eu apoiar, excelente. Se não der, vou lamentar, mas não abro mão da minha coerência."
Cid Gomes
A socióloga Monalisa Torres, que é professora da UECE (Universidade Estadual do Ceará), diz que já trabalha com um com a hipótese de que a era Gomes está chegando ao fim no estado.
"Talvez essa movimentação do Cid já tenha a ver com a tentativa de dar uma sobrevida, ter algum grau de influência na política estadual diante dessa ascensão expressiva do Camilo", diz.
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