Carlos Madeiro

Carlos Madeiro

Siga nas redes
Reportagem

Brasil perde 2,5 Alemanhas de vegetação nativa em 38 anos, diz estudo

O Brasil perdeu 96 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2022, uma área equivalente 2,5 vezes o território da Alemanha. Desse total, apenas 1% da destruição ocorreu em Terras Indígenas, que ocupam 13% do país.

Os dados foram divulgados hoje pelo MapBiomas, grupo que reúne entidades e pesquisadores da área. Para fazer o levantamento eles usam imagens de satélite, que verificam as áreas convertidas para algum uso humano, como atividades agropecuárias ou mesmo expansão de cidades.

Destaques

A proporção de vegetação nativa no território brasileiro caiu de 75% para 64% no período.

O desmatamento acelerou nos governos Temer e Bolsonaro: entre 2018 e 2022 houve uma perda de 12,8 milhões de hectares, 120% a mais que em relação a 2008-2012 (menor perda do período).

Analisando a evolução anual da perda de cobertura de vegetação nativa agrupadas em períodos de 5 anos desde 1992, o período de maior perda foi aquele imediatamente antes da aprovação do Código Florestal em 2012. Mas desde então a perda se acelerou ainda mais com aumento do desmatamento.
Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas

Proporcionalmente à vegetação existente em 1985, os biomas que mais perderam vegetação nativa foram o Cerrado (25%) e o Pampa (24%).

Em termos de área, quem mais perdeu foi a Amazônia: 52 milhões de hectares, equivalente ao território da França.

A líder em perda de área no país foram as formações florestais, que tiveram 58,6 milhões de hectares suprimidos no período. Em 1985, respondiam por 68% do território nacional. No ano passado, esse percentual caiu para 58%.

A perda de vegetação nativa aconteceu em 25 estados. São Paulo se manteve com percentual estável de 21%, e o Rio de Janeiro teve um leve aumento: de 31%, em 1985, para 32% em 2022.

Continua após a publicidade

Os estados com mais vegetação nativa proporcionais são Amapá e Amazonas, com 95%, mantidos. Já os estados com menor proporção de vegetação nativa são do Nordeste: Sergipe (16%) e Alagoas (20%).

Mapa de vegetação nativa do país
Mapa de vegetação nativa do país Imagem: MapBiomas

Com a perda nesse período, o percentual de municípios brasileiros que tinham como principal uso da terra a vegetação nativa também caiu.

  • 1985 - 46%
  • 2022 - 36%

Em 37% dos municípios hoje predomina a agropecuária como principal uso da terra.

O que esses dados mostram é que o Brasil é um país com intensa transformação do território. Essas mudanças trazem impactos significativos em temas chave para o bem estar como emissões e remoções de gases de efeito estufa, a conservação da biodiversidade e a regulação do regime de chuvas.
MapBiomas

Continua após a publicidade

Indígenas preservam mais

Alvo no julgamento sobre o marco temporal que acontece no STF, as Terras Indígenas ocupam 13% do território nacional, mas são responsáveis por 19% de toda vegetação nativa do país.

Segundo o levantamento, apenas 1% da perda de vegetação nativa nas últimas três décadas se deu nestas áreas.

Região do Surucucu, na Terra Indígena Yanomami (RR)
Região do Surucucu, na Terra Indígena Yanomami (RR) Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil

O avanço da soja e do gado

Segundo o MabBiomas, o avanço da cultura da soja no país se deu em todos os biomas no período analisado e chamou a atenção pelos números.

Continua após a publicidade

Em 1985, a área usada era de 4,5 milhões de hectares. No ano passado, isso saltou para 39,4 milhões de hectares em 2022, o que equivale a duas vezes o território do Paraná.

O avanço (em hectares) em 38 anos por bioma:

  • Cerrado - 18 milhões
  • Amazônia - 5,8 milhões
  • Mata Atlântica - 8 milhões
  • Pampa - 3,1 milhões

Também houve avanço da agropecuária em todos os biomas brasileiros entre 1985 e 2022, com exceção da Mata Atlântica, que manteve percentual estável.

Sobrevoo do Greenpeace em fazenda na Amazônia em 2020 mostra gado sendo colocado em área recém queimada
Sobrevoo do Greenpeace em fazenda na Amazônia em 2020 mostra gado sendo colocado em área recém queimada Imagem: Christian Braga/Greenpeace

Arcos do desmatamento

O estudo ainda deixa claro que há dois novos arcos do desmatamento em forte expansão agrícola.

Continua após a publicidade

No oeste da Amazônia, a fronteira entre Amazonas, Rondônia e Acre, conhecida como Amacro, teve aumento no uso agropecuário em 10 vezes nos últimos 38 anos, chegando a 5,3 milhões de hectares (ou 21% do território)

Já o Matopiba —área do Cerrado na fronteira entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia— as criações agropecuárias aumentaram em 14 milhões de hectares, chegando a 25 milhões em 2022 (35% do território).

Outro dado preocupante para os pesquisadores se refere à perda de campos alagados do Pantanal também. Em 1985, o bioma tinha 47% de água e campos alagados; na última cheia, em 2018, a inundação alcançou 36% do bioma.

Já em 2022, apenas 12% do Pantanal foram mapeados como água e campos alagados.

Carcaça de um macaco-prego morto em área queimada na Reserva Particular do Patrimonio Natural Sesc Pantanal, em Barão de Melgaço (MT)
Carcaça de um macaco-prego morto em área queimada na Reserva Particular do Patrimonio Natural Sesc Pantanal, em Barão de Melgaço (MT) Imagem: Lalo de Almeida/ Folhapress

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.