Brasil perde 2,5 Alemanhas de vegetação nativa em 38 anos, diz estudo
O Brasil perdeu 96 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2022, uma área equivalente 2,5 vezes o território da Alemanha. Desse total, apenas 1% da destruição ocorreu em Terras Indígenas, que ocupam 13% do país.
Os dados foram divulgados hoje pelo MapBiomas, grupo que reúne entidades e pesquisadores da área. Para fazer o levantamento eles usam imagens de satélite, que verificam as áreas convertidas para algum uso humano, como atividades agropecuárias ou mesmo expansão de cidades.
Destaques
A proporção de vegetação nativa no território brasileiro caiu de 75% para 64% no período.
O desmatamento acelerou nos governos Temer e Bolsonaro: entre 2018 e 2022 houve uma perda de 12,8 milhões de hectares, 120% a mais que em relação a 2008-2012 (menor perda do período).
Analisando a evolução anual da perda de cobertura de vegetação nativa agrupadas em períodos de 5 anos desde 1992, o período de maior perda foi aquele imediatamente antes da aprovação do Código Florestal em 2012. Mas desde então a perda se acelerou ainda mais com aumento do desmatamento.
Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas
Proporcionalmente à vegetação existente em 1985, os biomas que mais perderam vegetação nativa foram o Cerrado (25%) e o Pampa (24%).
Em termos de área, quem mais perdeu foi a Amazônia: 52 milhões de hectares, equivalente ao território da França.
A líder em perda de área no país foram as formações florestais, que tiveram 58,6 milhões de hectares suprimidos no período. Em 1985, respondiam por 68% do território nacional. No ano passado, esse percentual caiu para 58%.
A perda de vegetação nativa aconteceu em 25 estados. São Paulo se manteve com percentual estável de 21%, e o Rio de Janeiro teve um leve aumento: de 31%, em 1985, para 32% em 2022.
Os estados com mais vegetação nativa proporcionais são Amapá e Amazonas, com 95%, mantidos. Já os estados com menor proporção de vegetação nativa são do Nordeste: Sergipe (16%) e Alagoas (20%).
Com a perda nesse período, o percentual de municípios brasileiros que tinham como principal uso da terra a vegetação nativa também caiu.
- 1985 - 46%
- 2022 - 36%
Em 37% dos municípios hoje predomina a agropecuária como principal uso da terra.
O que esses dados mostram é que o Brasil é um país com intensa transformação do território. Essas mudanças trazem impactos significativos em temas chave para o bem estar como emissões e remoções de gases de efeito estufa, a conservação da biodiversidade e a regulação do regime de chuvas.
MapBiomas
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Alvo no julgamento sobre o marco temporal que acontece no STF, as Terras Indígenas ocupam 13% do território nacional, mas são responsáveis por 19% de toda vegetação nativa do país.
Segundo o levantamento, apenas 1% da perda de vegetação nativa nas últimas três décadas se deu nestas áreas.
O avanço da soja e do gado
Segundo o MabBiomas, o avanço da cultura da soja no país se deu em todos os biomas no período analisado e chamou a atenção pelos números.
Em 1985, a área usada era de 4,5 milhões de hectares. No ano passado, isso saltou para 39,4 milhões de hectares em 2022, o que equivale a duas vezes o território do Paraná.
O avanço (em hectares) em 38 anos por bioma:
- Cerrado - 18 milhões
- Amazônia - 5,8 milhões
- Mata Atlântica - 8 milhões
- Pampa - 3,1 milhões
Também houve avanço da agropecuária em todos os biomas brasileiros entre 1985 e 2022, com exceção da Mata Atlântica, que manteve percentual estável.
Arcos do desmatamento
O estudo ainda deixa claro que há dois novos arcos do desmatamento em forte expansão agrícola.
No oeste da Amazônia, a fronteira entre Amazonas, Rondônia e Acre, conhecida como Amacro, teve aumento no uso agropecuário em 10 vezes nos últimos 38 anos, chegando a 5,3 milhões de hectares (ou 21% do território)
Já o Matopiba —área do Cerrado na fronteira entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia— as criações agropecuárias aumentaram em 14 milhões de hectares, chegando a 25 milhões em 2022 (35% do território).
Outro dado preocupante para os pesquisadores se refere à perda de campos alagados do Pantanal também. Em 1985, o bioma tinha 47% de água e campos alagados; na última cheia, em 2018, a inundação alcançou 36% do bioma.
Já em 2022, apenas 12% do Pantanal foram mapeados como água e campos alagados.
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