Carlos Madeiro

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Reportagem

Por que Braskem está sendo julgada na Holanda em ação de 9 moradores de AL

Começa hoje, em Roterdã, na Holanda, a primeira audiência do processo de nove moradores de Maceió contra a Braskem. A sessão estava prevista para começar às 9h30 (horário local, 5h30 de Brasília).

A petroquímica afirma que já ofereceu propostas de acordo a essas famílias por meio de um programa de compensação financeira e que vem adotando medidas jurídicas cabíveis no Brasil (leia mais abaixo).

Oito vítimas viajaram e acompanham a audiência presencialmente. Elas fazem parte de famílias que tiveram que deixar suas casas e não aceitaram os valores propostos pela Braskem no Brasil. Na corte estrangeira, eles cobram danos morais e materiais individuais.

O caso foi levado à Holanda porque a Braskem administra as subsidiárias europeias a partir de Roterdã. Os escritórios Pogust Goodhead e Lemstra Van der Korst representam os moradores.

No Brasil, as ofertas de danos morais da Braskem têm sido feitas por família — e não por pessoa. O valor definido no acordo coletivo fechado pela empresa com MPs (ministérios públicos do Estado e Federal) e DPU (Defensoria Pública da União) é de pagamento fixo de R$ 40 mil por núcleo familiar.

Isso equivale ao valor, por exemplo, de uma bagagem perdida por uma companhia aérea no Brasil -- ou menos, conforme jurisprudência do país.
Tom Goodhead, CEO do escritório Pogust Goodhead

O acordo coletivo de Maceió é criticado por muitos moradores porque as indenizações pagas teriam sido de baixo valor.

Goodhead diz que o direito material que será aplicado no julgamento será o direito brasileiro — que é "extremamente desenvolvido e progressista em relação ao meio ambiente e a questões sociais", na avaliação dele.

Vamos defender que as entidades holandesas da Braskem são poluidoras indiretas por terem beneficiado, financiado e apoiado as atividades de mineração que destruíram a vida de milhares de pessoas.
Tom Goodhead, CEO do escritório Pogust Goodhead

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Braskem diz ter propostas para famílias

Em nota, a Braskem informa que os autores da ação movida na Holanda já receberam proposta no âmbito do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação.

Esse programa, criado em 2020, já chegou a acordo em 99,8% das propostas de indenização dadas foram apresentadas e 94% já foram pagas, segundo a empresa.

A companhia, por meio de seus representantes, vem adotando as medidas processuais cabíveis e reafirma seu compromisso em não poupar esforços para preservar a segurança das pessoas e realizar a compensação financeira no menor tempo possível. Essas são prioridades para a empresa e, por isso, continuará desenvolvendo seu trabalho, de forma diligente, em Maceió.
Braskem

Há três subsidiárias financeiras da empresa na Holanda:

  • Braskem Netherlands B.V
  • Braskem Netherlands Finance B.V
  • Braskem Netherlands Inc. B.V
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Imagem da Braskem Netherlands B.V.
Imagem da Braskem Netherlands B.V. Imagem: Braskem

Entenda a ação

A denúncia contra a Braskem foi feita por moradores e foi aceita pela justiça holandesa em 21 de setembro de 2022.

Antes, em maio, a coluna acompanhou, de Maceió, a audiência de abertura em que moradores relataram os dramas vividos por eles e citaram que, no Brasil, não havia abertura para ações judiciais — visto o acordo fechado previa um pagamento único de indenização por dano moral.

Ana Lúcia dos Santos, 63, teve que deixar sua casa, no bairro do Pinheiro, em Maceió
Ana Lúcia dos Santos, 63, teve que deixar sua casa, no bairro do Pinheiro, em Maceió Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Minhas duas filhas perderam o emprego, tudo foi difícil. Nossa família tinha uma avícola, um salão de festa lá. Nossa família era uma comunidade, e essa tragédia separou todo mundo. Muitos vizinhos entraram em depressão, outros não aguentaram e faleceram. Ali fui uma vida inteira.
Ana Lúcia dos Santos, que perdeu a casa no bairro do Pinheiro

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Na audiência de hoje será analisada a responsabilidade da petroquímica no afundamento das residências e terrenos das vítimas.

Segundo os escritórios que representam as famílias, ao fim da sessão o tribunal vai definir se serão necessárias mais audiências e diligências. Caso não, a sentença deve ser divulgada ainda em 2024.

A audiência será acompanhada pelo defensor público Ricardo Melro, que deve ajudar a esclarecer eventuais dúvidas do que foi e está sendo feito pela Braskem em Maceió.

Um relatório que confeccionamos já está nos autos. Espero ajudar a trazer justiça para esses cidadãos.
Ricardo Melro

Reportagem

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