AL: pacientes cobram atendimento após hospital fechar por colapso de mina
Dois meses após o hospital Sanatório, em Maceió, ser fechado às pressas devido ao alerta de que a mina 18, da Braskem, entraria em colapso, um grupo de pacientes do SUS que era atendido ali está sem tratamento.
O hospital filantrópico tinha 140 leitos, sendo 10 de UTI. Os atendimentos pelo SUS representavam 92% do total feito pela unidade. Com o fechamento do Sanatório, pacientes que estavam internados foram transferidos para outros hospitais ou tiveram alta, dependendo do caso.
Mas 16 pessoas que tinham procedimentos e cirurgias agendadas não conseguiram vagas em outras unidades de saúde. Na quarta (31), elas procuraram ajuda da Defensoria Pública do Estado para tentar uma solução.
A Prefeitura de Maceió informou que está em contato com os pacientes para viabilizar os tratamentos. A Braskem afirma conversa com a administração do hospital para a construção de uma nova unidade de saúde.
O que dizem os pacientes
Josival Lopes Ferreira é um dos pacientes. Ele tinha cirurgia marcada para 12 de dezembro no Sanatório, quando iria desobstruir o canal da uretra. Dois meses antes, tinha passado por uma cirurgia na próstata no mesmo hospital.
Sem conseguir a cirurgia pelo SUS, ele agora está usando uma sonda na barriga e enfrentando vários problemas de saúde. A família tenta encontrar uma solução.
Meu pai tem ido a vários médicos. O médico que o operou cobraria R$ 6.200 para fazer a nova cirurgia [na rede particular]. Eu estou andando com ele, fazendo exames para ver se ele consegue fazer essa cirurgia em Coruripe [a 80 km de Maceió]. Enquanto isso, meu pai está sofrendo, deu entrada por várias vezes na UPA. É uma humilhação.
Janaína Ferreira, filha de Josival
Cirurgia incompleta
Ivone Paulino, 52, está em tratamento de cálculo renal há mais de um ano. Passou por uma cirurgia no Sanatório em maio do ano passado e outra em novembro. Mas o fechamento da unidade deixou o tratamento incompleto — ela está com um cateter do rim até a bexiga.
Ela conta que, por causa da do risco de desabamento do hospital, o médico lhe deu alta às pressas. O dreno, que só deveria ter sido retirado após 15 dias, foi removido depois de apenas três. "Está todo mundo desassistido, tanto pela prefeitura, como pela Braskem", afirma. "Todos os dias, sofro com dores nas costas, nas pernas. Tenho muita dificuldade para dormir, e minha urina sai com sangue. Queremos solução."
Todo mundo teve que evacuar o hospital por conta do risco e, desde então, estou esperando para finalizar minha cirurgia. Estou com um cateter dentro do rim, que era para ser retirado depois de um mês.
Ivone Paulino
Defensor acionou a prefeitura
O defensor público Ricardo Melro diz que já entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Maceió para tentar viabilizar o atendimento a esses pacientes.
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Quero receberO município respondeu que está resolvendo e marcando os procedimentos. Vamos acompanhar se isso será em tempo satisfatório. Se não for, vamos buscar a Justiça contra a Braskem e contra Maceió. Estamos falando de um grande equipamento [o hospital], que operava para o SUS quase em sua totalidade.
'Ficaram como zumbis'
O diretor administrativo do Sanatório, Júlio Bandeira, diz que o hospital tinha um papel importante. Funcionava como suporte de emergências do SUS, destinando 70 leitos para pacientes encaminhados das UPAs e no HGE (Hospital Geral do Estado).
Além disso, o hospital realizava de 500 a 700 cirurgias por mês em várias áreas, além de centenas de exames. "O fechamento dele faz falta no sistema", diz.
Sem o hospital, o maior problema é para os pacientes crônicos.
Tínhamos 260, cujos tratamentos foram transferidos para quatro clínicas. Mas alguns pacientes da área de urologia tinham procedimentos para fazer, e não fizeram porque o hospital fechou. Eles ficaram como zumbis, indo de um lado para o outro.
Bandeira diz que o hospital já negociou com a Braskem, que está erguendo um novo hospital com 200 leitos, a ser entregue até o final de 2025.
Até lá, a direção está negociando o aluguel de três locais diferentes para continuar prestando serviços à população. "Na terça (6), vamos nos reunir com a arquiteta das acomodações. Acredito que, em até três meses, vamos voltar a prestar serviços."
O que diz a Prefeitura de Maceió
Procurada pelo UOL, a prefeitura diz que só ficou sabendo dos casos após ser procurada pela Defensoria. A partir daí, afirma ter começado a contatar os pacientes.
A administração municipal informou que os relatos se referem "aos pacientes [num total de 16] que não estavam internados na unidade hospitalar na data do dolinamento [colapso], mas que necessitam de alguma intervenção em razão de procedimentos realizados anteriormente."
Disse ainda que a Secretaria de Saúde de Maceió "deu início às providências necessárias e já está fazendo os encaminhamentos adequados, conforme a necessidade de cada paciente".
O que diz a Braskem
Desde 2020, a Braskem tem mantido diálogo permanente com o hospital Sanatório, com o objetivo de viabilizar a construção de um novo hospital. Além disso, a companhia tem apoiado a administração do hospital nas ações decorrentes da desocupação. A Secretaria Municipal de Saúde, juntamente com o hospital Sanatório, realizou a transferência dos pacientes para outros hospitais.
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