Agência vê risco de mais colapsos e cobra monitoramento adequado em Maceió
Um parecer técnico da ANM (Agência Nacional de Mineração) produzido após o colapso da mina 18 em Maceió aponta que algumas cavidades geradas pela extração de sal-gema estão sem monitoramento detalhado por parte da Braskem. Além disso, o solo da área afetada segue instável e em processo de afundamento, com risco de novos colapsos.
Os dados apontam que algumas das 35 minas desativadas (hoje cavernas gigantes e vazias no subsolo) estão sofrendo desabamentos —o que faz com que a cavidade fique mais próxima do solo.
O documento, de 26 de janeiro, traz uma série de cobranças e 11 sugestões à Braskem. Ao todo, seis especialistas na área de engenharia de minas e geologia, do grupo de trabalho criado para o caso, assinam o parecer.
Outro lado: ao UOL, a Braskem refuta as alegações da ANM e diz que monitora as minas, mas não nega a afirmação de risco de novos colapsos.
A empresa informa que instalou "uma das redes de monitoramento mais modernas e robustas do país, com equipamentos que transmitem informações em tempo real, e todos os dados são compartilhados, também em tempo real, com os órgãos competentes" (leia a resposta da Braskem mais abaixo).
Dados defasados há 5 anos
Três minas tiveram cavidades medidas pela última vez em 2019 pelo método sonar (instrumento que detecta a presença de corpos sólidos a partir da propagação sonora), segundo o relatório.
Além disso, há outras que nem sequer estão com monitoramento pelo método de piezômetro (dispositivos que monitoram nível, pressão e condutividade hídrica da água no solo).
Já algumas outras estão com estabilidade comprovada e não preocupam.
Outro dado preocupante
Quinze minas não estão pressurizadas, ou seja, não estão preenchidas devidamente, e por isso a cavidade sofre com desabamentos —o que faz, na prática, ela subir em direção ao solo. A mina 18 que colapsou estava nessa condição e aguardava o preenchimento.
Diante do cenário, a agência nacional cobrou uma "justificativa técnica" em relação a essas minas não pressurizadas e determinou que a Braskem apresente relatórios com "dados atualizados da geometria e georreferenciamento de todas as cavidades não pressurizadas".
A ANM também pede previsão para a proposta de fechamento de minas em que ainda não há definição sobre o método para preencher a cavidade.
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Quero receberRisco de novo colapso
Para a agência nacional, foi uma surpresa o afundamento abrupto da mina 18, ocorrido em 10 de dezembro de 2023.
Ao contrário do que era esperado em razão das informações contidas nos relatórios consolidados, essa surpreendente e inesperada ocorrência do abatimento abrupto na área indica que toda a bacia ainda apresenta sinais de instabilidade.
Parecer da ANM
Segundo o parecer, a mina estava no grupo de cavidades que seriam preenchidas com material sólido, mas sofreu uma "instabilização súbita e uma movimentação anômala".
Os técnicos afirmam que análises anteriores apresentadas pela Braskem indicavam como "improvável a ocorrência de sinkhole [colapso]".
A ANM cobra que a Braskem apresente relatório com análise de causas, consequências e justificativas sobre o colapso da mina. Além disso, alerta que, em toda região, não se pode descartar a possibilidade de novas ocorrências similares.
Todos os elementos levantados não permitem, atualmente, definir ou estimar com suficiente grau de certeza o comportamento do maciço [da área inteira], demonstrado pela movimentação atípica no entorno da frente de lavra M#18 [mina 18], e que ocorrências semelhantes não podem ser descartadas em outros setores no decorrer do tempo, visto que a subsidência continua ativa.
Parecer da ANM
A empresa teve a exploração proibida em Maceió em 2019, quando relatório do SGB (Serviço Geológico do Brasil) apontou a mineração de sal-gema como causa dos afundamentos
Cavidade de minas "sobem"
Há casos no relatório que chamam a atenção pela localização da cavidade. A mina 21, por exemplo, avançou 18 metros para cima em apenas seis meses.
A situação da cavidade deve ser reavaliada devido à sua proximidade com a mina 18 que colapsou.
Parecer da ANM
Embora pareça uma distância segura, a mina 18 estava a uma profundidade de cerca de 700 metros —ponto classificado com "limiar de observação"— 34 dias antes de colapsar. Já a mina 21 estava 860 metros abaixo do solo em julho de 2023.
O que diz a Braskem
A empresa diz que vai responder à agência nacional no prazo, mas assegura que adota "medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela ANM".
"O plano registra 70% de avanço nas ações, e a conclusão dos trabalhos está prevista para meados de 2025."
Ainda segundo a Braskem, "todas as cavidades são monitoradas por vários instrumentos e métodos diferentes, em alguns casos de forma redundante".
Em relação a exames de sonares das cavidades, diz que eles têm "periodicidade definida caso a caso, conforme recomendação dos especialistas".
Há lacunas, dizem especialistas
O UOL apresentou o parecer a um grupo de especialistas da área na UFS (Universidade Federal de Sergipe). Eles acompanham o caso de Maceió.
Os doutores na área Antônio Jorge Vasconcellos Garcia, Daniela Dantas Menezes e Julio Cesar Vieira Soares revelaram preocupações.
As recomendações da ANM mostram que há minas que ainda não têm nenhum tipo de monitoramento. Não se sabe o que se passa nestes locais, ou o que poderá acontecer. Algumas minas estão sem estudos de acompanhamento há meses e, como consequência, não se sabe como as cavidades estão evoluindo.
Análise de geólogos da UFS
Eles afirmam que as cobranças da ANM são importantes para que "não se repita o que ocorreu com a mina 18".
O que se observa, aparentemente, é que os atores no local pouco sabem ou entendem o que está a ocorrer em subsuperfície, e assim pode-se pensar que, por vezes, estão a realizar ações 'às cegas'.
Análise de geólogos da UFS
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