Cidade no AC planeja mudar de lugar após nova cheia atingir 75% de sua área
A cidade de Brasiléia (AC), na fronteira com a Bolívia, junta os cacos após a maior enchente que enfrentou em sua história, entre o final de fevereiro e o início deste mês.
Ruas, casas e prédios públicos cobertos de lama não são bem uma novidade no município, mas dessa vez a cheia atingiu patamar inédito, o que leva autoridades a pedir a realocação das construções para uma área mais alta.
A nova cheia do rio Acre atingiu 75% da área do município, algo nunca visto em mais de 100 anos de história (a cidade é de 1910), segundo a prefeitura. Até a zona rural foi atingida.
Números de Brasiléia
- Área: 3.900 km²
- População: 26 mil
- Atingidos pela cheia: 15 mil
- Desabrigados: 1.276
- Desalojados: 2.220
- Abrigos montados: 16
- Prédios municipais alagados: 17
Se antes eram espaçadas no tempo, as cheias têm ficado mais frequentes na cidade. Uma outra enchente, de menor proporção, ocorreu no ano passado, atingindo também muitas áreas ribeirinhas.
Infelizmente, essas mudanças climáticas não são mais fenômenos de longo espaço de tempo. Praticamente todo ano [uma cheia] virou realidade. Eu não queria dizer isso, mas é a quarta enchente em Brasileia em 12 anos. E cada uma vem em proporção muito maior que a anterior.
Prefeita Fernanda Hansemm (PP)
A ideia de tirar as edificações da área alagável foi defendida pelo governador do Acre, Gladson Camelli (PP).
A gente precisa colocar a pedra fundamental da cidade em uma parte alta, se não, daqui a 11 meses voltamos ao mesmo cenário. O poder público não tem condições de conviver com isso. Vamos fazer esse apelo ao presidente Lula para que a gente consiga avançar.
Gladson Camelli
A fala do governador foi feita durante as visitas dos ministros Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, e Waldez Góes, da Integração e do Desenvolvimento Regional, na segunda-feira (4).
Gladson ainda defende que, para a realocação da cidade, seja feito um planejamento envolvendo as três esferas de poder. "Isso deve ser feito dentro do conceito de normas e diálogos com participação do Congresso", disse.
A ministra Marina, que é do Acre, afirma que o governo federal já vem estudando medidas e planeja decretar emergência climática permanente em 1.038 municípios mapeados como mais vulneráveis aos efeitos dessas mudanças —entre elas, Brasiléia e outras cidades do Acre atingidas por cheias.
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Quero receberEssa é uma realidade que vai se repetir de forma mais grave. Então trabalhamos nas causas, com tudo que pode diminuir o ritmo do aumento da temperatura; e, ao mesmo tempo, ações estruturantes para que cidades vulneráveis tenham intervenções continuadas ao longo dos anos para enfrentar o problema.
Marina Silva
Para ela, cheias como essa do rio Acre são uma prova clara de que já estamos enfrentando os efeitos da mudança do clima. "Temos cada vez mais gente se conscientizando de que cuidar do meio ambiente é o caminho de combate à causa do problema."
A bancada do Acre está empenhada e mantendo contato para fazer um plano de remanejar nossas cidades, levar prédios públicos a áreas altas das cidades. A bancada está disposta para avançar no plano de mudança climática.
Senador Sergio Petecão (PSD)
Cidade ficou desligada do restante do Brasil
Por causa da cheia, a cidade enfrentou vários dramas: ficou isolada por via terrestre, sem água encanada e sem energia por muitos momentos.
Pela primeira vez, a zona rural foi afetada. Mais de 500 pessoas ficaram isoladas, já que a força da água destruiu 20 pontes.
A ponte que liga a cidade à vizinha Epitaciolândia (única saída terrestre para o resto do Brasil) foi fechada porque a água ultrapassou o seu limite. A única pista para deixar a cidade passou a ser a que liga a Cobija, na Bolívia —cidade que também foi castigada pelas cheias.
Em Brasiléia, o rio Acre atingiu 15,58 metros desta vez, três centímetros acima do máximo da cheia de 2015, que era o recorde do município.
A cidade tem de se preparar para as mudanças que chegaram. Vamos colocar toda nossa equipe para trabalhar na área de engenharia, analisar ponto por ponto o que foi repassado pelo governo federal, para montar o plano de reconstrução de Brasiléia.
Prefeita Fernanda Hansemm (PP)
100 mil atingidos por cheias no Acre
O Acre está com 19 das 22 cidades em situação de emergência decretada por conta das cheias. Cerca de 100 mil pessoas foram atingidas pela água.
Segundo o Corpo de Bombeiros do Acre, 14 cidades estão com cenário mais crítico por causa da subida de nível do rio Acre.
Ontem, na capital Rio Branco, o rio chegou a 17,86 metros —segunda maior marca da história, atrás apenas de 2015 (veja dados abaixo).
Nas cidades atingidas pelo rio, foram montados 97 abrigos públicos, que receberam 9.954 pessoas. Ainda há 17.480 pessoas desalojadas, ou seja, que foram para casas de familiares ou amigos.
Os problemas gerados pelas mudanças climáticas ficam mais claros quando observados os dados do governo do estado. Eles apontam que quatro das seis maiores cheias registradas no rio Acre em Rio Branco desde 1971 (quando começam as medições) ocorreram nos últimos 12 anos.
- 1º) 18,4 m - 4 de março de 2015
- 2º) 17,86 m - 5 de abril de 2023
- 3º) 17,66 m - 14 de março de 1997
- 4º) 17,6 m - 25 de fevereiro de 2012
- 5º) 17,11 m - 17 de fevereiro de 1988
- 6º) 17,01 m - 12 de março de 2014
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