Sertanejos lotam açude do filme 'Bacurau' para vê-lo sangrar após 13 anos
Moradores da pequena Acari, no sertão do Seridó do Rio Grande do Norte, estão desde ontem nas margens do açude Gargalheiras, que está prestes a transbordar pela primeira vez em 13 anos.
Ao meio-dia, o reservatório estava com quase 99% de sua capacidade, a 10 centímetros de "sangrar" — o termo que usam para o transbordamento. No ritmo atual de aumento do volume, isso deve acontecer próximo das 22h, segundo o Igarn (Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte).
O açude tem capacidade para acumular 44 milhões de metros cúbicos de água. Mais que isso, o reservatório passa a sangrar.
Em janeiro do ano passado, o açude foi eleito como patrimônio histórico, cultural e geográfico do Rio Grande do Norte. O nome do reservatório é Gargalheiras por ele ter o formato de uma garganta.
O açude ficou conhecido nacionalmente após o filme Bacurau, do diretor Kleber Mendonça Filho. O esconderijo de Lunga, personagem da trama premiada, ficava neste local.
Em suas redes, o diretor comemorou o momento.
Gargalheiras, sertão do Seridó RN, onde filmamos BACURAU, esconderijo de Lunga. Em 2018 e Hoje.
-- Kleber Mendonça Filho (@kmendoncafilho) April 2, 2024
Deve sangrar hoje pela primeira vez em 11 anos. Chega dá uma tontura ver as duas fotos. pic.twitter.com/hDnzZh8otL
Porque momento é histórico
A última vez que o açude, construído na década de 1950 pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), sangrou foi em maio de 2011.
Depois, houve uma seca histórica entre 2012 e 2017 — e em vários momentos o açude ficou seco. Foi o maior período de estiagem já medido no semiárido nordestino.
Segundo o Igarn, o açude Gargalheiras abastece toda a cidade de Acari e complementa o abastecimento de 30% do município vizinho de Currais Novos.
Com o reservatório cheio, o volume de água é suficiente para manter o abastecimento dos municípios pelos próximos quatro anos.
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