Carlos Madeiro

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Eventos climáticos extremos no RS criaram raras ondas de gravidade

Imagens de satélite capturaram nuvens onduladas no céu do Rio Grande do Sul na última sexta-feira (3), que geraram em conjunto um fenômeno meteorológico raro: as ondas de gravidade. Os dados são do Lapis (Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas).

O meteorologista e pesquisador Humberto Barbosa, coordenador do Lapis, diz que as ondas de gravidade são invisíveis e ocorrem após uma "perturbação climática" na atmosfera. Segundo ele, esse fenômeno foi desencadeado por explosões atmosféricas na madrugada de sexta no extremo sul do Paraguai.

A partir dali, começam chuvas mais torrenciais, e elas se espalham em todo o extremo sul do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul. A concentração dessas chuvas torrenciais foi também desencadeada por esse sistema.
Humberto Barbosa, meteorologista

Barbosa afirma que as nuvens onduladas — parte visível do fenômeno — foram percebidas em cima de Pelotas. Mas pode ter havido movimentação, uma vez que o satélite passa uma vez por dia sobre o Rio Grande do Sul.

As ondas de gravidade intensificaram as chuvas, já elas se intensificam à medida que as ondas sobem. Isso pode ter provocado chuvas em áreas muito próximas e com intensidade maior.
Humberto Barbosa, meteorologista

Explosão atmosférica vista no Paraguai às 2h30 da sexta-feira
Explosão atmosférica vista no Paraguai às 2h30 da sexta-feira Imagem: Lapis/Ufal

Para explicar o efeito das ondas de gravidade, Barbosa lembra o que acontece quando se joga uma pedra em um lago.

"Mas, em vez da água do lago, elas rolam pelo ar e pelo topo das nuvens", relata o pesquisador. "Assim como as ondas se formam no oceano ou em um lago, as ondas também se formam na atmosfera, quando o ar é perturbado. Essa ondulação é provocada por tempestades."

Apesar de o fenômeno ter sido notado em Pelotas, a situação foi mais grave em outras regiões do estado. Em Porto Alegre, o nível do Guaíba passou dos cinco metros no fim de semana — até então, o recorde era de 4,76 metros, em 1941. A Defesa Civil informou que o número de mortos passou de 80 no Rio Grande do Sul. O governo federal reconheceu estado de calamidade pública em 336 municípios, incluindo a capital.

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Por que as chuvas se concentraram no RS

Na semana passada, uma massa de ar frio vindo da costa do Chile se uniu à umidade da Amazônia. Esse encontro gerou uma forte capacidade de precipitação. Por conta da massa de ar quente no Sudeste, a frente ficou estacionada no Rio Grande do Sul — o que fez as chuvas se concentrarem na região.

As imagens de satélite mostram também uma tempestade de raios desencadeada pelas ondas de gravidade.

A partir desse sistema, as correntes de vento verticais começam a gerar esse movimento [para baixo], que vai gerando uma cadeia de ondas. As ondas de gravidade são sistemas de baixa e alta pressão que atuam de forma muito rápida. A umidade da Amazônia e a frente fria estacionada pela massa de calor geraram um sistema muito intenso, e isso começou a gerar essas ondas.
Humberto Barbosa, meteorologista

6.mai.2024 - Vista aérea de ruas inundadas em Porto Alegre (RS) após tempestades atingirem o Rio Grande do Sul
6.mai.2024 - Vista aérea de ruas inundadas em Porto Alegre (RS) após tempestades atingirem o Rio Grande do Sul Imagem: Carlos FABAL/AFP

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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