Carlos Madeiro

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Reportagem

Ciro cita 'revolta, não mágoa' com PT por 2018: 'Perdi a crença no sistema'

Figura emblemática da política nacional, Ciro Gomes (PDT) revistou a eleição presidencial de 2018, quando chegou na terceira colocação e foi duramente criticado por "sumir" no segundo turno e não apoiar Fernando Haddad (PT), derrotado por Jair Bolsonaro (PL).

Em entrevista em Maceió na quinta-feira, o candidato à Presidência por quatro vezes foi questionado pela coluna sobre o que achava dos comentários críticos que surgiram após a desistência de Joe Biden nos EUA, insinuando de que ele deveria ter feito o mesmo em 2022, "em nome do Brasil", para apoiar Lula.

A pergunta citava uma suposta mágoa do PT por 2018, e Ciro imediatamente retrucou: "não se trata de mágoa, não, companheiro; se trata de responsabilidade com o país".

E seguiu:

Em 2018, ninguém sabia quem iria ganhar a eleição. Todo mundo, depois de ver o fenômeno do Bolsonaro acontecer, soube; mas antes não se sabia. Então o que é que se sabia com segurança absoluta? Que o PT seria derrotado naquelas eleições.

Mas por que a certeza?

Porque a Dilma produziu a maior crise econômica da história do Brasil, 7% de queda no PIB em dois anos. Isso nunca houve na nossa história, com 14% de desemprego. E por cima dessa tragédia econômica e social, a roubalheira generalizada desvendada em tempo real no horário nobre

21.set.2018 - Ciro Gomes e Fernando Haddad se cumprimentam durante debate da TV Aparecida
21.set.2018 - Ciro Gomes e Fernando Haddad se cumprimentam durante debate da TV Aparecida Imagem: Thiago Leon

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Ciro não esquece o que repetia à exaustão na campanha, de que o lançamento da candidatura de Lula, ainda preso em Curitiba, era um ato de "enganação" dos eleitores brasileiros que ele não poderia aceitar.

O Lula, preso e inelegível, se lança candidato mentindo para o povo brasileiro. O que é que ele fez: garantiu que o Bolsonaro se elegesse. Isso aí me dá revolta, não me dá mágoa.

Depois de fazer as devidas citações a 2018, Ciro entra no argumento de 2022, dizendo que jamais pensou em desistir.

Aí agora [em 2022] vem dizer que eu é que teria que renunciar? Eu, mais jovem, limpo na plenitude dos meus direitos políticos, pensando diferente de tudo. Essa é a mesmice que eles representam. Você aceita que a corrupção é uma linha legítima da política, pode votar lá. Eu não aceito!

Ciro ainda foi questionado se, em uma eventual eleição de 2026 sem Lula e Bolsonaro, ele poderia repensar a ideia de não ser mais candidato a nada na política. A resposta foi enfática: "não, eu perdi a crença no sistema, não creio mais."

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Eu me dedico há 40 anos à vida brasileira, vou para uma eleição, chego lá, perco o direito de falar, o direito de participar? A sociedade civil brasileira está doente, e sem sociedade civil, a democracia é uma mentira. Eu não acredito mais, nesse momento, na democracia brasileira.

Mesmo fora do jogo eleitoral, ele diz que jamais deixará a política e seguirá falando ao público, em especial aos jovens.

A minha devoção são o Brasil e o povo brasileiro, mas é uma paixão não correspondida. Então, eu vou fazer palestras, explicar as coisas pra garotada e tal. Mas eleição, bajular eleitor, não quero mais.

Em Maceió, Ciro deu palestra para um auditório cheio no centro de convenções. O evento foi organizado pelo vice-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PDT), que abriu com o ex-governador uma série de eventos da Câmara de Estudos Políticos, que deve trazer personalidades para debater o Brasil.

É bom começar por Ciro porque a gente sai dessa polarização que não nos interessa. A população precisa de resposta, precisa de conhecimento, e a gente precisa refletir sobre qual é o país que a gente quer.
Ronaldo Lessa

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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