Carlos Madeiro

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Reportagem

PB: ação eleitoral de facções é citada pela PF como 'novo voto de cabresto'

A guerra das facções pelo controle de territórios na Grande João Pessoa extrapolou a área policial e se transformou em um problema eleitoral na Paraíba, onde três grupos criminosos disputam o protagonismo do crime, segundo a Polícia Federal. São eles: Nova Okaida, CV (Comando Vermelho) e PCC (Primeiro Comando da Capital).

Para a PF, que tem realizado operações de combate à coação eleitoral por esses grupos, a ação das facções é tida como o "novo voto de cabresto". Se antigamente ele era feito por coronéis usando a força em seu raio de influência, agora é encabeçado por "facções, milicianos e traficantes", diz a corporação.

Nesta quinta-feira (19), a PF prendeu a vereadora Raíssa Lacerda (PSB) e mais três pessoas suspeitas de aliciamento eleitoral violento no bairro São José, em João Pessoa, durante a segunda fase da Operação Território Livre.

Foi verificado que há indícios contundentes de que a organização criminosa denominada "NOVA OKAIDA", centrada no bairro São José, atuando por meio de intimidação e controle territorial, inclusive vem interferindo no pleito municipal.
Mandado de busca e apreensão da PF

Carro da PF cumpre mandado nesta quinta-feira (19) em João Pessoa
Carro da PF cumpre mandado nesta quinta-feira (19) em João Pessoa Imagem: PF/Divulgação

Também na capital, candidatos a prefeito se uniram para reclamar e pedir ajuda porque alegam ter dificuldades de entrar em determinadas comunidades. Luciano Cartaxo (PT), Marcelo Queiroga (PL) e Ruy Carneiro (Podemos) se uniram e denunciaram, no último dia 11, uma suposta "ação e influência de facções criminosas nas eleições" em apoio ao candidato à reeleição Cícero Lucena (PP).

No primeiro ato oficial de campanha, no dia 15, Ruy Carneiro prestou queixa depois de ter um evento no bairro do Cristo cancelado após o dono do circo onde haveria o ato alegar ter recebido ordens da Nova Okaida para proibir atos.

Nesta quinta-feira, a coluna revelou que a filha do prefeito, Janine Lucena, teve um suposto diálogo em julho de 2022 para fechar um acordo com um então líder da Nova Okaida. Ela nega o diálogo e sugere possível montagem.

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Cícero nega qualquer relação e diz que os adversários se uniram para tentar "macular" sua imagem e a de João Pessoa.

Candidatos a prefeito de João Pessoa protocolam pedido de tropas federais em João Pessoa
Candidatos a prefeito de João Pessoa protocolam pedido de tropas federais em João Pessoa Imagem: Divulgação

Muro pichado

A mesma queixa está sendo feita em Cabedelo, cidade vizinha à capital, onde o candidato Walber Virgolino (PL) também reclama das mesmas ameaças e dificuldade de adentrar em alguns locais.

A ousadia lá foi tanta que a Nova Okaida pichou o Cartório Eleitoral de Cabedelo com as iniciais do grupo.

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Como resposta, o juiz Paulo Roberto Lima, da 57ª Zona Eleitoral, pediu tropas federais para eleição — o que já foi aprovado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) da Paraíba. Ele também pediu tropas para a cidade de Bayeux, pelo mesmo motivo, que também foi aprovado. A decisão final, porém, é do TSE.

No ofício em que detalhou o porquê da necessidade de tropas federais, ele cita o muro do cartório a disputa pelos territórios na cidade.

Está acontecendo uma guerra entre facções rivais e ocorrência de diversos crimes nos lugares onde serão instaladas as seções eleitorais, que poderão dificultar o transporte e segurança das urnas e das mídias, bem como o funcionamento regular das urnas eletrônicas no dia da eleição.
Ofício da 57ª Zona Eleitoral

Em manifestação, a PRE (Procuradoria Regional Eleitoral) endossa o pedido e cita que há "restrição de circulação de pessoas nas áreas reivindicadas pelas facções criminosas" e diz que o fato tem "potencial de perturbar o livre exercício do voto pelo eleitor, bem como a atuação de servidores e colaboradores da Justiça Eleitoral".

Nova Okaida tem código de conduta em um muro de João Pessoa
Nova Okaida tem código de conduta em um muro de João Pessoa Imagem: Acervo Correio da Paraíba

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A disputa

Hoje na Grande João Pessoa há três grandes facções atuando. A que mais aparece nas reclamações eleitorais é a Nova Okaida. Segundo a Polícia Civil, o surgimento da facção, ainda como "Okaida", ocorreu entre os anos de 2005 e 2006 dentro do sistema prisional paraibano.

O nome é inspirado na organização terrorista Al Qaeda, e surgiu na época em que Osama Bin Laden era o homem mais caçado do mundo.

A Okaida nasceu aliada ao PCC, que fornecia drogas e armas ao grupo local. Mas em meados de 2010, essa relação foi abalada por conflitos internos, que resultaram em uma série de homicídios. A ruptura fez com que a Okaida buscasse uma nova aliança com o CV.

À época, a maior rival da Okaida era a facção Estados Unidos, um grupo que é hoje aliado do PCC, mas tem poder de influência menor.

Entre altos e baixos, mesmo com a divisão da Okaida por duas vezes (que passou a ser Okaida RB e depois Nova Okaida a partir de 2019), a relação com o CV durou até o ano passado, quando o grupo carioca passou a ocupar áreas locais.

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Material apreendido na operação Renita
Material apreendido na operação Renita Imagem: MP-PB/Divulgação

No início de 2023, o CV identificou uma oportunidade de cooptar antigos conselheiros das formações anteriores da OKAIDA, com o objetivo de consolidar seu domínio territorial na Paraíba e monopolizar o tráfico de drogas. Algumas dessas lideranças foram inclusive levadas ao Rio de Janeiro para fortalecer os laços com a organização.
Relatório da Operação Renita, em junho de 2024

A disputa, segundo a apuração, começa no município de Bayeux e, em seguida, foi para Cabedelo e, depois, chega a João Pessoa e se espalha pelo estado depois.

A partir daí, as duas facções deram início a uma guerra que tem influenciado a alta no número de homicídios e mantendo comunidades reféns.

Para a professora da UFPB e especialista em segurança e violência, Luziana Ramalho, o padrão da Nova Okaida é uma cópia do modelo já usado por facções maiores. "O crime tem cooptado de modo horizontal e até democrático diversas áreas de poderes, com um atrelamento ao aparato do estado", diz.

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O que vemos nos últimos anos é um estado de quase de anarquia, e não vislumbramos mais uma possibilidade de curto, médio ou mesmo longo prazo do estado de reagir a essas investidas. O que a gente tem assistido é um escárnio declarado ao estado democrático de direito, até de sistema de justiça, uma vez que tem sido recorrente no país de políticos ligados ao crime organizado.
Luziana Ramalho, professora da UFPB

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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