Carlos Madeiro

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Reportagem

Filho de presidente do PT de Alagoas, advogado recebe R$ 400 mil do partido

O diretório estadual do PT em Alagoas contratou como advogado para as eleições o filho do presidente da sigla no estado. Para isso, a legenda usou quase 40% do R$ 1 milhão destinado a pagar serviços — esse dinheiro foi doado pelo diretório nacional do partido. A escolha causou críticas de militantes e até a desfiliação.

O advogado Guilherme Barbosa, filho do presidente do PT em Alagoas, Ricardo Barbosa, recebeu R$ 399 mil para prestar "serviços advocatícios" ao diretório. Ele é advogado desde 2019.

O repasse foi feito diretamente à empresa individual do advogado, que foi aberta em julho de 2022. Naquele mesmo ano, a empresa recebeu R$ 10 mil do diretório estadual do PT (já presidido por Ricardo) e mais R$ 115 mil de outros candidatos petistas.

Em seu Instagram, ele diz ser mestrando em direito público pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e especialista em direito tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários.

Segundo prestação de contas parcial do diretório, o PT alagoano recebeu até a sexta-feira (27) R$ 2,3 milhões do diretório nacional do partido para a campanha no estado. Desse valor, R$ 1,24 milhão foi repassado a candidatos ou diretórios municipais, e o restante está sendo usado para pagamento de serviços.

A coluna procurou Guilherme, mas ele não respondeu a mensagem pedindo para ele comentar os serviços prestados. O espaço segue aberto para posicionamento.

Já Ricardo Barbosa preferiu se pronunciar por meio de nota do partido, afirmando que a destinação foi decidida coletivamente e informada de forma transparente (leia mais abaixo).

Críticas focam em falta de critério

A destinação dos recursos gerou muitas críticas de militantes, que reclamaram de falta de critério na escolha e também demonstraram insatisfação com os repasses feitos a candidatos que disputam cargos no estado.

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Um deles, o advogado Welton Roberto, que era filiado desde 2014 e foi candidato a vereador de Maceió em 2016 e a deputado estadual em 2022, anunciou sua desfiliação e fez um vídeo criticando a contratação do escritório do filho do presidente.

Muito me incomodou saber que mais de 20 advogados que trabalhavam de maneira gratuita e abnegada em 2022 para o presidente Lula em Alagoas foram oportuna, seletiva e injustamente esquecidos neste momento onde os 400 mil reais tiveram destino certo e sabido. Como incomodado sou eu, estou de saída.
Welton Roberto

Outros filiados não foram tão radicais, mas afirmaram ao UOL, sob reserva, que a decisão da contratação não foi bem recebida pela base do partido.

"Não há ninguém abaixo da direção que esteja feliz com isso, mas não temos voz para influenciar", disse um deles. "Espero que isso chegue à direção nacional para verem e entenderem porque o partido não consegue crescer em Alagoas", completa outro.

Quem é Ricardo Barbosa

Ex-vereador eleito ainda pelo PSOL, entre 2009 e 2012, Ricardo Barbosa é presidente do PT em Alagoas desde 2017. Ele também foi candidato em Maceió a prefeito em 2020, a vice-prefeito em 2016 e a vereador em 2012, mas foi sempre derrotado.

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Em 2024, tentou ser candidato a prefeito de Maceió mais uma vez, teve nome ratificado pela direção municipal, mas acabou tendo a candidatura barrada pelo diretório nacional, que decidiu apoiar, na capital alagoana, o candidato do MDB, Rafael Brito. Ele teria Eliana Silva (PSOL) como vice.

Em protesto contra a decisão, o diretório local decidiu não aceitar a indicação na vaga de vice de Rafael Brito e, assim, ter apenas candidatos a vereador na capital alagoana.

Rafael Brito (MDB) e Lula
Rafael Brito (MDB) e Lula Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

'Estratégia fascista'

Em nota, o PT de Alagoas afirma que a "Comissão Executiva Estadual aprovou em reunião, por ampla maioria, a distribuição de recursos e contratações de serviços coletivos, inclusive jurídico e contábil, tudo de forma transparente e em atendimento aos critérios e demais requisitos exigidos por sua Direção Nacional".

O partido reforça que todas as contratações e prestações de contas, até aqui parciais, foram informadas à Justiça Eleitoral, reiterando seu compromisso com a verdade e a legalidade. A direção do PT reafirma sua unidade e determinação em enfrentar os ataques, mantendo-se firme na luta pelo fortalecimento das suas bandeiras e pela defesa de suas lideranças.
Nota do PT

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Ainda segundo a nota, as críticas — que antes foram feitas na imprensa alagoana — se tratam de "ataques midiáticos que visam desqualificar a destinação de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha".

Esses ataques, classificados pelo partido como parte de uma estratégia fascista de difamação política recorrente nos últimos períodos eleitorais, têm o objetivo de desestabilizar a legenda e sua liderança, recorrendo a táticas autoritárias e infundadas para atacar o PT e sua militância.
Nota do PT

Reportagem

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