De recorde a 1.793 votos: ex-prefeito de Maceió se revolta e larga política
Na eleição municipal de 2008, o então prefeito de Maceió, Cícero Almeida, filiado ao PP, chamou a atenção do país ao ser reeleito com a maior votação entre candidatos das capitais brasileiras, com 81,49% dos votos válidos —recorde que perdurou em Maceió até a eleição de 2024, quando João Henrique Caldas, o JHC (PL), alcançou 83,25%.
Dezesseis anos depois, Cícero foi candidato a vereador em Maceió pelo PDT e teve um resultado que surpreendeu a muitos —até mesmo a ele: 1.793 votos, longe de conseguir uma das 27 vagas do Legislativo.
A falta de votos revoltou o ex-prefeito, de 66 anos, que gravou um vídeo e o publicou na segunda-feira após a eleição dizendo que deixará a política, mas fez questão de marcar sua indignação: "Parabéns para aqueles que compraram e venderam sua consciência".
Queda após deixar prefeitura
Depois de deixar o cargo de prefeito ao final de 2012, Cícero se candidatou na eleição seguinte e foi eleito deputado federal pelo PRTB, com 64 mil votos, em 2014.
Em 2016, tentou voltar à prefeitura pelo MDB, com o apoio da família Calheiros (o ministro dos Transportes, Renan Filho, era governador à época), mas acabou derrotado em segundo turno para Rui Palmeira, reeleito na ocasião pelo PSDB.
Em 2018, já deixado de lado pelos maiores grupos políticos, foi candidato a um cargo menor, de deputado estadual —que já tinha sido entre 2002 e 2004—, mas teve apenas 8.405 votos e ficou longe de ter uma das 27 vagas.
A partir daí, começou um ostracismo e mais duas derrotas marcantes nas eleições. Em 2020, tentou voltar à prefeitura pelo Democracia Cristã, mas teve apenas 9.905 (2,7% dos votos válidos). E, agora, nem sequer conseguiu chegar perto da Câmara.
'Sistema bruto'
Em conversa com o UOL, o ex-prefeito lamentou a a política no estado. "Está difícil você participar de política, especialmente aqui em Alagoas. É um sistema muito bruto", diz. "Eu não quero entrar em mais detalhes, mas é lamentável", disse.
O ex-prefeito afirmou que, logo no começo da campanha, tinha uma pesquisa em mãos em que ele aparecia, no cenário estimulado, com 8,9% dos votos para vereador. "Se todo mundo votasse, nós teríamos aí 50 mil votos. Por que isso deu errado depois?"
Pouco afeito a redes sociais, Cícero passou mais de três anos sem postar no Instagram e diz que voltou perto do início da campanha após conselhos de aliados. Para levar seus conteúdos para as pessoas, diz que gastou em torno de R$ 6.000 (valor considerado irrisório para um candidato a vereador).
"Com isso, cheguei a mais de 1 milhão de visualizações. Maceió inteira sabia que eu era candidato. Se ninguém votou, é porque chegou a esse entendimento. A minha missão já foi cumprida, e eu louvo e agradeço a Deus. Vou continuar com a minha profissão. Saí sem dever um centavo a ninguém, não comprei voto. Dos 27 eleitos de Maceió, acredito que talvez um ou dois não tenham comprado voto."
O ex-prefeito culpa não só os políticos, mas também a sociedade, que, segundo ele, "se vendeu". "É vergonhoso. Lamentavelmente é suja a política do nosso estado e do nosso país."
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Quero receberCícero explicou que já é aposentado por tempo de serviço como jornalista. "Não foi pela política, não foi com um salário exorbitante, mas pelo que eu contribuí. Meu salário é de R$ 5.600, isso depois de uma correção que foi feita pelo Ministério da Previdência Social."
Apesar do resultado, diz que deixa a política feliz pelo que fez.
O que funciona aqui é a compra de voto, é o cadastro; e quem não fizer, está ferrado. Eu nunca fiz e nunca vou fazer. Eu não troco esses 1.700 votos pelos 40 mil, 50 mil que esses caras tiveram por aí afora. Não me arrependo.
Cícero Almeida
Mudanças de partido minaram
Para o cientista político Ranulfo Paranhos, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), o declínio de Almeida veio junto com as migrações de partido político durante a sua carreira, passando por todos os grupos políticos do estado.
"Se a cada nova eleição, eu estou em um novo partido, implica dizer que eu não me solidifico ou eu não represento confiança dentro de cada um deles. Isso ficou muito claro para quem foi eleito pela primeira vez como prefeito pelo PDT e durante o mandato migra para o PP", diz.
Isso faz de você uma figura pouco confiável. Ou seja, ele não é aquilo que a gente chama de homem de partido. É tanto que, em 2020, ele não tinha recursos do fundo partidário, nem tempo de televisão, porque o partido [DC] não tinha representação na Câmara dos Deputados.
Ranulfo Paranhos, cientista político da Ufal
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