Governo Lula passa aperto para desmontar armadilha de Maduro para o Brasil
O silêncio do governo Lula até agora diante do resultado anunciado da eleição presidencial na Venezuela revela a intrincada armadilha que o ditador Nicolás Maduro montou para o Brasil.
Nas últimas semanas, Maduro fez ataques contundentes à credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. A partir disso, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu cancelar o envio de técnicos para observar de perto a eleição do último domingo (28).
Diante dos ataques do ditador proferidos na terça-feira (23), o TSE primeiro ficou em silêncio. A assessoria de imprensa do tribunal informou que a presidente, ministra Cármen Lúcia, não se manifestaria.
Passadas 24 horas das declarações de Maduro, o TSE se posicionou. Reiterou que o sistema eleitoral brasileiro era auditável e seguro. A nota foi encaminhada a jornalistas em vez de ser publicada no site do tribunal.
Com o recuo do TSE sobre o envio de observadores, coube à diplomacia brasileira atuar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a Celso Amorim, seu assessor especial para assuntos internacionais, a missão de acompanhar a eleição da Venezuela.
Concluída a votação, Amorim primeiro quer ver as atas da eleição e conversar com Lula antes de se pronunciar sobre as eleições. Lula, por sua vez, primeiro vai falar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre a situação na Venezuela.
Enquanto isso, o PT tomou a dianteira e reconheceu a vitória de Maduro nas urnas. Ressaltou a "jornada pacifica, democrática e soberana" do povo venezuelano.
Agora, o governo Lula está em uma encruzilhada: acompanha outros países democráticos e condena a aparente fraude na eleição venezuelana? Ou condena o processo eleitoral da Venezuela, em caminho oposto ao do PT?
A primeira alternativa poderia trazer como consequência a ruptura das relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela. E é isso que agora o governo brasileiro sopesa.
Ontem, diante do anúncio do resultado da eleição, o Itamaraty saudou o "caráter pacífico da jornada eleitoral na Venezuela". O texto não critica o processo eleitoral no país de Maduro, como forma de tentar equilibrar a relação entre os dois países.
A demora para as autoridades brasileiras se manifestarem sobre a eleição da Venezuela mostra que o tema é espinhoso e requer cautela. A situação do TSE é ainda mais delicada: como criticar agora o processo eleitoral de outro país se não foram enviados observadores? O tribunal segue em silêncio diante do anúncio da vitória de Maduro e não há indício de que vá se pronunciar.
Apesar de agir com a cautela demandada pela situação, o Brasil vai precisar romper o silêncio e assumir uma postura - e com cuidado para não perder o tempo adequado para se manifestar perante a comunidade internacional.
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