Moraes, Musk, Marçal: quem perde e quem ganha com a volta do X
Por uma série de fatores, calhou de Alexandre de Moraes liberar o retorno do X dois dias após o primeiro turno das eleições municipais. Se foi intencional ou não, pouco importa. O fato é que havia sim temor por parte de integrantes da cúpula do Judiciário em relação a como a rede social de Elon Musk poderia influenciar a reta final das campanhas.
A cautela tinha fundamento. O X deu guarida a usuários disseminadores de fake news e discurso de ódio. Desobedeceu ordem de Moraes ao se recusar a retirar os perfis indicados do ar. O ministro chegou a intimar Musk por meio de postagem na própria rede do bilionário, por falta de representação da empresa no país.
Ou seja: Musk deixou claro que cumprir ordem judicial não chega a ser uma prioridade. Após mais de um mês fora do ar, o vento virou. Para o X, passou a ser mau negócio ficar de fora das campanhas eleitorais. Musk, então, resolveu cumprir as ordens de Moraes às vésperas das eleições - entretanto, não a tempo de voltar a figurar na internet brasileira antes do primeiro turno.
Depois que o X pagou quase R$ 30 milhões em multas, o ministro informou que a conta na qual o dinheiro tinha sido depositado estava errada. Mandou transferir os recursos. A empresa alegou que a conta utilizada inicialmente foi indicada pelo próprio STF. A palavra de Moraes soou mais alto e lá se foram alguns dias de burocracia até que o pagamento fosse oficializado.
Não satisfeito, o ministro pediu na sexta-feira (4) anterior à eleição um parecer ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre o assunto. Gonet respondeu nesta terça-feira (8), já passadas as eleições, o que era esperado: cumpridas as exigências, o X poderia voltar ao ar.
Calados por mais de um mês, não é difícil imaginar que uma parcela do X retomará as postagens no modo raivoso. Como controlar a turba a poucos dias das eleições, sendo que o próprio X tem histórico de colocar panos quentes para esses usuários?
Mesmo com a rede social bloqueada, o coach Pablo Marçal burlou a ordem e propagou fake news contra Guilherme Boulos às vésperas das eleições. Cometeu, em tese, dois ilícitos: desobediência à ordem do STF e divulgação de desinformação contra o concorrente.
É provável que, se o X não estivesse bloqueado antes do primeiro turno, Marçal e outros candidatos com perfil semelhante teriam se aproveitado do meio para cometer ainda mais ilícitos.
Na briga entre Musk e Moraes, o ministro sai mais uma vez vencedor. Por motivo processual ou não, conseguiu deixar as potenciais fake news do X fora do primeiro turno. Musk sai menor: sabe agora que comprar uma briga com o STF pode custar não apenas milhões de reais - mas, principalmente, o ônus de perder a influência política entre os usuários da rede.
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