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Chico Alves

A vida do contador da família Bolsonaro não deve ser nada fácil

Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro - Reprodução de vídeo
Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro Imagem: Reprodução de vídeo

Colunista do UOL

11/08/2020 04h00

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Deve ser um homem muito atarefado o contador responsável por prestar contas da família Bolsonaro. Desde que o filho 01 do presidente, Flávio, apareceu no noticiário como chefe de um esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio, veio à tona um emaranhado de transações financeiras dos integrantes do clã que é difícil de explicar pela lógica das pessoas comuns. Talvez só os terraplanistas entendam.

Não se sabe o que os Bolsonaros têm contra o sistema bancário, mas o certo é que adoram fazer pagamentos em dinheiro vivo. O último exemplo, revelado em matéria da jornalista Juliana Dal Piva, no jornal O Globo, veio mais uma vez do senador Flávio Bolsonaro: em 2008, ele comprou 12 salas comerciais na Barra pagando uma parcela de R$ 86,7 mil em dinheiro vivo, depositada na conta das empresas imobiliárias.

A revelação foi feita pelo próprio Flávio, em depoimento ao Ministério Público do Rio, no dia 7 de julho.

Segundo o relato do senador, a parcela paga em espécie foi resultado de empréstimos que ele fez com o pai, Jair Bolsonaro e um irmão — não disse qual. Também "acha" que pegou dinheiro com Jorge, que era chefe de gabinete de Jair quando deputado federal e que faleceu há dois anos — era pai do ministro Jorge Oliveira, secretário-geral da Presidência.

Depois de todo esse esforço, Flávio vendeu os imóveis 43 dias após o registro em cartório e obteve na negociação um lucro espetacular de R$ 318 mil.

Ele, então, devolveu o dinheiro que pegou emprestado, obviamente também com depósitos em espécie. O senador diz que tudo está declarado ao Leão, mas isso não impede que alguém estranhe tamanha paixão por cédulas.

Essa é uma de várias operações esquisitas, como o depósito de R$ 25 mil que Fabrício Queiroz fez, também em dinheiro vivo, na conta da mulher de Flávio. O filho 01 disse desconhecer essa transação.

Não é para menos. O entra-e-sai de dinheiro na conta da família causa uma surpresa atrás da outra. É difícil acompanhar.

Assim foi com Michelle Bolsonaro. O MP descobriu que Márcia, mulher de Queiroz, depositou seis cheques que somavam R$ 17 mil na conta da primeira-dama, em 2011. Junto com outros depósitos feitos pelo próprio Queiroz, essa injeção suspeita de dinheiro chega a R$ 89 mil.

Como entender essa movimentação? Pobre contador.

Quando, em dezembro de 2018, descobriu-se que Queiroz tinha depositado R$ 24 mil na conta de Michelle, o presidente eleito deu uma explicação fora de qualquer razoabilidade. Disse que era pagamento de um empréstimo que ele, Jair, tinha feito a Queiroz.

"Só não foi na minha conta por questão de mobilidade minha, que eu ando atarefado o tempo todo para ir em banco", disse o então presidente eleito. A explicação não faz nenhum sentido.

Além disso, Jair Bolsonaro admitiu nessa mesma entrevista que não declarou o valor à Receita Federal.

Isso sem falar nos 48 depósitos de R$ 2 mil na conta de Flávio, entre junho e julho de 2017. Ou na quantia de R$ 1,6 milhão que entre 2015 e 2018 foi depositada em espécie como pagamento dos chocolates da loja de propriedade do senador.

Nesse caso específico dos bombons pagos em cash, o MP assinala que os depósitos coincidiam com as datas em que Queiroz arrecadava parte dos salários dos funcionários do então deputado estadual.

A novela da rachadinha se arrasta desde fins de 2018, sempre com surpresas envolvendo Flávio, sua esposa, a primeira-dama Michelle e Jair Bolsonaro. Não se sabe qual será o desfecho da investigação e quais revelações esse caso ainda pode proporcionar.

Mas uma coisa é certa: deve ser um homem muito atarefado o contador responsável por prestar contas da família Bolsonaro.