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Randolfe sobre gesto de assessor de Bolsonaro: Não se pode banalizar o mal
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Se depender da vontade do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o gesto do assessor internacional da Presidência da República, Filipe G. Martins, feito ontem durante a fala do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), não vai passar em branco. Enquanto Pacheco falava sobre a necessidade de vacinas na pandemia, Martins foi flagrado com o dedo indicador tocando o polegar. A dúvida é se seria a representação de OK, um gesto obsceno ou um símbolo do movimento supremacista branco dos Estados Unidos.
Para Randolfe, as duas últimas alternativas são as mais prováveis."Um é desacato pelo Código Penal e o outro é racismo, inafiançável e imprescritível pela Constituição", disse o senador à coluna.
Em suas redes sociais, Martins disse que estava apenas arrumando a lapela do paletó. A julgar pelos comentários que se seguiram, no entanto, poucos acreditaram na explicação. O senador também não acreditou. "Um jeito esquisito de arrumar a lapela, né?", ironizou.
Um dos motivos de desconfiança é que o assessor de Bolsonaro publicou em abril de 2019 um poema que constava do manifesto de Brenton Tarrant, o atirador que no ano anterior matou 50 pessoas em uma mesquita na Nova Zelândia.
Randolfe não concorda que esse seria um assunto menor, levantado intencionalmente para desviar a atenção nesse momento de pico da pandemia.
"Foi assim que o mal se banalizou na Alemanha nazista", observou o parlamentar. "Tudo isso não estaria acontecendo se no dia que Jair Bolsonaro fez apologia a Brilhante Ustra no plenário da Câmara tivesse sido cassado".
UOL - Na sua opinião, qual foi a intenção de Filipe G. Martins?
Randolfe Rodrigues - Tinham que perguntar a ele naquele momento o que significavam os gestos. Há algumas possibilidades. A menos provável é a que alguns levantam, de que fosse um gesto de OK. Aquele gesto de OK é só quando se está no fundo do mar. Como ele não estava com roupa de mergulho, então não estava no fundo do mar.
Então, ou é um gesto obsceno em direção ao presidente do Senado, quando ele fazia uma comunicação, ou é um gesto de supremacismo branco norte-americano. Um é desacato pelo Código Penal e o outro é racismo, inafiançável e imprescritível pela Constituição.
Nas redes sociais, Filipe disse que estava apenas arrumando a lapela.
Um jeito esquisito de ajeitar a lapela, né?
Qual a providência que o sr. acha que deve ser tomada quanto a ele?
Eu pedi ali verbalmente que se tomasse alguma providência e vou perguntar ao presidente o que foi feito. A ofensa ocorreu no recinto do Senado durante a fala do presidente do Senado.
Primeiro tenho que saber qual a providência que Rodrigo tomou.
É dupla ofensa. Desrespeito total ao Parlamento brasileiro, mas, mais que isso, é o desrespeito aos 300 mil mortos numa sessão em que estávamos discutindo vacina para os brasileiros e os erros do Itamaraty na condução da imunização. É duplamente desrespeitoso. Desrespeitou o povo brasileiro e os representantes dele.
O sr. defende que Filipe seja demitido do governo?
Em qualquer governo racional seria essa a providência mínima.
Algumas pessoas acreditam que essa possa ser mais uma polêmica criada por um integrante do governo para desviar a atenção do fracasso no combate à pandemia. O que acha disso?
Isso é mais um desrespeito e um acinte aos 300 mil mortos. Não podemos banalizar o mal, para usar uma expressão de Hannah Arendt, não podemos deixar por isso mesmo.
O cara comparece a uma sessão do Senado da República, faz um gesto que pode ser de supremacismo branco e nós vamos tolerar isso? Não concordo. Se a gente começa a tolerar essas coisas acaba banalizando o mal.
Foi assim que o mal se banalizou na Alemanha nazista. Começaram a dizer "vamos esquecer isso do Hitler", quando viram estavam levando judeus para os campos de extermínio. Tem que ter condenação a tudo. É mais um capítulo mórbido do roteiro marcado.
O que ele queria dizer com aquilo? Se estava desrespeitando o presidente do Senado é gravíssimo. É um assessor da Presidência da República que comparece à Casa para fazer um acinte, uma ofensa, uma agressão ao presidente do Senado. Se foi gesto de supremacismo branco é mais grave ainda.
Tudo isso não estaria acontecendo se no dia que Jair Bolsonaro fez apologia a Brilhante Ustra no plenário da Câmara tivesse sido cassado. Se houvesse reação da sociedade naquele momento não estaríamos nessa situação de hoje.
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