Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Arthur Lira agiu contra a democracia ao trabalhar para adiar manifesto
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Não há nada de estranho no fato de o presidente da Câmara dos Deputados ser próximo do governo. Semelhanças ideológicas e programáticas são inevitáveis e pode acontecer de os caciques do Poder Legislativo terem sintonia com as propostas do Executivo. É preciso lembrar, porém, que o Legislativo tem papel de fiscalizar o governo e não pode perder jamais o espírito crítico, sob pena de descumprir sua função constitucional.
Infelizmente, é justamente essa anomalia que ocorre atualmente no Brasil. O atual presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), não é simplesmente alguém próximo, que ajuda o Executivo a viabilizar seus projetos pelo bem do Brasil. Em troca de recursos de emendas e outros benefícios, Lira é submisso ao governo mesmo nos temas que são claramente prejudiciais ao país.
É o caso do papel vergonhoso a que se prestou agora, ao procurar a Fiesp e a Febraban para tentar adiar a divulgação de um manifesto a favor da democracia e pela harmonia dos poderes. Diante de empresários surpreendentemente titubeantes, acabou conseguindo seu objetivo.
Nesse tempo distópico, em que as bizarrices políticas parecem ser intermináveis, podemos acrescentar mais uma: temos um presidente da Câmara que atua contra a democracia.
Lira não mostra suas garras apenas fora da Casa. Na Câmara exercita incansavelmente seu estilo autoritário: diminuiu o espaço que a oposição tinha para obstruir votações, pauta projetos sem aviso prévio para fugir ao debate público e coloca para votar temas importantes ao fim dos expedientes, quando a fiscalização da sociedade é menor.
Externamente, o presidente da Câmara se traveste como o personagem capaz de dar limites ao tresloucado presidente Jair Bolsonaro, já que tem sob seu comando a tropa do Centrão, garantidora da governabilidade.
No início de agosto, no auge da discussão maluca sobre voto impresso, Lira bradou aos microfones: "Não contem comigo com qualquer movimento que rompa ou macule a independência e a harmonia entre os Poderes". Como se viu na atuação junto a banqueiros e grandes donos de indústria, não é bem assim.
Por causa de um tímido manifesto em defesa da estabilidade democrática, o presidente da Câmara rasgou a fantasia e mostrou-se como é. Depois de seguidos ataques de Bolsonaro às instituições e perto da anunciada micareta fascista marcada para 7 de setembro, cujo objetivo é destituir ministros do Supremo e intimidar o Legislativo, Lira deveria ser o primeiro a pedir urgência na divulgação do manifesto da Fiesp e da Febraban. Fez justamente o contrário.
O Brasil já sabe que, para garantir as emendas e os benefícios vindos do governo, o presidente da Câmara passa pano para os delírios bolsonaristas. Nesse cenário, não serão argumentos em favor da normalidade institucional que o farão mudar de rumo.
Diante da triste constatação resta apenas o consolo de enxergar Arthur Lira tal como é, e não como se apresenta. Não se trata de um defensor da democracia, mas de um mero cúmplice do autoritarismo de Bolsonaro.
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