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Bolsonaro cria o segundo Pazuello e continua a atrapalhar vacinação
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Por algum tempo existiu a esperança de que o Ministério da Saúde tivesse deixado para trás a máxima segundo a qual "um manda e outro obedece", popularizada pelo general Eduardo Pazuello. Foi assim, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro, que o militar da ativa então aboletado no comando da pasta justificou as muitas burradas que cometeu durante a pandemia.
O fato de seu sucessor, Marcelo Queiroga, ser um médico experiente gerou a expectativa de que a atitude de subserviência aos caprichos presidenciais tinha ficado para trás. Por um tempo, Queiroga realmente comportou-se de forma diferente: descartou incentivo à cloroquina contra a covid-19, iniciou diálogo com secretários de Saúde dos estados e, mesmo de forma atabalhoada, fez avançar a vacinação contra o coronavirus.
Nas últimas semanas, porém, o ministro da Saúde mostrou-se afinado com o estilo destrambelhado de Pazuello.
Desentendeu-se com secretários estaduais ao descumprir o calendário de distribuição de vacinas, passou a criticar a obrigatoriedade do uso de máscaras contra a covid-19 e agora chega ao ápice: seguindo orientação de Bolsonaro, o ministro da Saúde recomendou a suspensão da vacinação de adolescentes sem comorbidades. Para justificar o disparate, lança ao público informações sem comprovação.
Falou de 1,5 mil "eventos adversos" em adolescentes imunizados, todos de grau leve, e citou também o caso de morte de um jovem em São Paulo, mas sem saber se a vacina teve relação com o óbito.
A Anvisa informou, porém, que até o dia 15 de setembro houve 32 notificações de eventos adversos após a vacinação de adolescentes com a vacina da Pfizer. Não há confirmação de morte de adolescente relacionada à vacina.
O resultado da fala de Queiroga é que mais uma vez o Ministério da Saúde desestimula a vacinação.
O motivo de agora é o mesmo de sempre: uma intervenção de Bolsonaro, como se confirmou na live do presidente.
Hoje, Queiroga disse à jornalista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo, que "Bolsonaro não mandou nada". Tradução: nem foi preciso que Bolsonaro mandasse, bastou apenas que expressasse seu "sentimento" sobre a questão.
"A minha conversa com o Queiroga não é uma imposição, eu levo a ele o meu sentimento, o que eu leio, o que eu vejo", disse o presidente na live de ontem, ao lado do ministro da Saúde.
Em quais estudos o presidente baseou esse "sentimento"? Queiroga nem quis saber, foi logo desaconselhando a imunização de adolescentes, na contramão da Anvisa, que não encontrou motivos para tal. A agência descartou a necessidade de alterações da bula aprovada, "destacadamente quanto à indicação de uso da vacina da Pfizer na população entre 12 e 17 anos".
Apesar disso, a vacinação para essa faixa etária foi desaconselhada por esse segundo Pazuello apenas porque Bolsonaro deu um pitaco.
Não bastou demorar a comprar vacina, fazer campanha contra isolamento social e contra as máscaras: o ocupante do Palácio do Planalto quer atrapalhar ainda mais. Não se importa se está colocando vidas em risco.
Os quase 600 mil óbitos na pandemia e a média diária de 500 mortes não o afetam.
Como medir a gravidade de ter um presidente que, desde o início da crise sanitária, faz o possível para atrapalhar o combate ao coronavírus?
Tudo com o auxílio de dois Pazuellos: o original, que veste farda e agora está longe do Ministério da Saúde, e o atual, que, pelo fato de ser médico e se prestar a essa tarefa, talvez possa ser considerado ainda pior.
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