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Resistência de Bolsonaro em vacinar crianças desafia: qual é nosso limite?
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Acostumados a vomitar teorias negacionistas no Twitter e no WhatsApp, um pequeno grupo antivacina decidiu ontem fazer a mesma presepada em frente a um posto de saúde, no Rio. Como a coluna mostrou, cinco desses espécimes estenderam em um ponto de vacinação, em Copacabana, uma faixa com mentiras em letras grandes sobre "mortes súbitas" e "reações adversas" causadas pelos imunizantes. Ao redor da frase, prints de fake news tiradas das redes sociais.
A turma antivacina conseguiu manter a faixa por algumas horas, mas o incômodo da população com o ato foi crescendo até se transformar em manifestação de revolta. "Fora!", "Viva o SUS!" e "Mercenários!" foram alguns dos gritos direcionados a eles. Os negacionistas ainda tentaram resistir, mas capitularam, convencidos pela maioria. Recolheram a faixa e foram embora, sob a comemoração dos defensores da vacina.
A reação dos cidadãos comuns à criminosa campanha de desinformação dos antivax de Copacabana pode ser indício de que acabou a paciência da população com essa gente. Nas redes sociais, o episódio foi saudado por muitos como o fim da passividade com que a sociedade recebeu até aqui a enxurrada de fake news sobre coronavirus, propagada por uma minoria (as pesquisas mostram que mais de 90% dos brasileiros são a favor da imunização).
A sórdida ofensiva de desinformação sobre a vacina é patrocinada, porém, por figuras bem mais poderosas que os cinco negacionistas cariocas.
Em especial nesse momento, em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda a imunização de crianças de 5 a 11 anos contra a covid, as principais lideranças antivax do Brasil são o próprio presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Além de intimidar covardemente servidores da Anvisa que deram parecer favorável, Bolsonaro determinou a Queiroga que atrase o quanto puder o acesso das crianças à vacina. O sabujo aceitou a missão e começa hoje uma absurda "consulta pública", em que a milícia digital bolsonarista poderá opinar se meninos e meninas devem ou não ser vacinados. A recente votação de "Personalidade o Ano" da revista Time é um bom exemplo da distorção que esses robôs podem criar.
Assim, desprezando a opinião dos cientistas para incluir palpiteiros negacionistas no processo de decisão do Ministério da Saúde, o governo assume diante do país que pretende submeter nossas crianças ao risco de perder a vida.
A revolta dos moradores de Copacabana contra a faixa mentirosa à frente do posto de saúde foi eficaz para barrar os negacionistas de ontem. Mas e quanto aos atos criminosos do governo na pandemia, qual é o nosso limite?
A cumplicidade de Arthur Lira (PP-AL) e do Centrão tem um limite, ou aceitam até mesmo colocar a vida dos pequenos em jogo para manter recursos e cargos distribuídos pelo governo?
Tem limite a fidelidade dos militares que estão com Bolsonaro desde que o general Villas Boas iniciou seu plano intervencionista ou eles vão assistir passivos a essa versão pandêmica de Herodes?
Os empresários que ainda apoiam o governo concordam em deixar filhos e netos a mercê da covid ou isso vai demarcar o ponto irreversível de discordância?
Os próprios oposicionistas, que foram às ruas algumas vezes contra Bolsonaro mas arrefeceram seu ímpeto, vão assistir do sofá mais esse crime contra a saúde publica?
Pelo menos 558 crianças morreram de covid até novembro, mais que todos os óbitos de doenças circulatórias somados. Portanto, o risco que o criminoso Bolsonaro e seu ministro cúmplice impõem a elas é bastante grave. Apesar disso, Queiroga proferiu hoje a inacreditável frase: "Mortes de crianças estão em patamar que não pede decisões emergenciais".
Diante do absurdo da situação, o próprio colunista se questiona até que ponto aceitará impávido aberrações como essa.
E quanto a você, leitor? Já se perguntou qual é o seu limite?
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