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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Exterminar falsa simetria entre Lula e Bolsonaro é boa meta para 2022

Lula e Bolsonaro - Amanda Perobelli/Reuters e Marcos Corrêa/Presidência da República
Lula e Bolsonaro Imagem: Amanda Perobelli/Reuters e Marcos Corrêa/Presidência da República

Colunista do UOL

03/01/2022 09h26

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Ninguém é obrigado a gostar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aqueles identificados com a direita e a centro-direita não gostam dele por ser esquerdista. Alguns da esquerda o criticam por considerá-lo conciliador demais.

Muitos não engolem o petista por causa dos desvios ocorridos na Petrobras, outros citam o Mensalão. Na mão inversa, há os que não se conformam com os lucros dos bancos durante os governos do PT ou tem quem considere insuficiente a participação dos movimentos sociais durante os mandatos.

Há muitos motivos justos para malhar Lula, assim como para elogiá-lo. A democracia é assim.

Quem não o apoia certamente encontrará argumentos bons o bastante para não precisar recorrer ao indecente recurso da falsa simetria entre o líder do PT e Jair Bolsonaro. Esses dois personagens, que estão à frente das pesquisas de intenção de voto para a próxima eleição presidencial, nada têm de semelhante. São completamente opostos.

Por qualquer aspecto que se queira analisar, Lula é a antítese do atual presidente. Nas duas vezes que ocupou o Palácio do Planalto, o petista incentivou a ciência, investiu em Educação, lutou contra a devastação ambiental, manteve o Brasil no topo da diplomacia mundial, priorizou a saúde pública, apenas para citar alguns tópicos. Bolsonaro faz o contrário de tudo isso.

No campo institucional, o ex-presidente manteve a autonomia da Polícia Federal e respeitou o Poder Judiciário, a ponto de não resistir à ordem de prisão emitida pelo juiz Sergio Moro, depois anulada pelo Supremo Tribunal Federal. O atual presidente aparelhou a PF e começa a aparelhar o STF para garantir a própria impunidade.

Se analisarmos características pessoais, as diferenças também saltam aos olhos. Lula sempre mostrou compaixão pelo sofrimento dos brasileiros, voltou seu governo para os mais pobres — programas como Bolsa Família e a distribuição de cisternas contra a seca do Nordeste foram elogiados internacionalmente.

Já Bolsonaro é marcado pela falta de empatia, distúrbio que faz questão de exibir publicamente, como nas lamentáveis declarações minimizando a pandemia de coronavírus ou no sorridente passeio de jet ski em Santa Catarina, enquanto milhares de baianos perdiam tudo nas enchentes da semana passada.

Não é possível que os adversários de Lula na corrida eleitoral não consigam elaborar argumentação menos desonesta para tentar subir na preferência do eleitorado que compará-lo a Bolsonaro.

Também uma boa parte da imprensa já deveria ter aprendido a criticar o petista sem tentar torná-lo semelhante ao pior presidente que o país já teve. Essa falsa simetria, estampada em jornais, sites e telejornais antes da última eleição, foi preponderante para que o país chegasse ao estado caótico em que se encontra.

O ano que começa agora é decisivo para a democracia brasileira. Todos aqueles que realmente se preocupam com o destino do país, gostem ou não do PT, precisam fazer autocrítica.

É do jogo político tentar uma terceira, quarta ou quinta via. Nada está decidido e, quem sabe, um azarão pode aparecer na reta final da campanha.

Mas, sob o risco de agravarmos ainda mais os descaminhos em que o Brasil se meteu, é preciso entrar em 2022 reconhecendo algo óbvio: entre Lula e Bolsonaro a escolha não é muito difícil.