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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Escândalo dos pastores de Bolsonaro no MEC não pode ser esquecido

Presidente Jair Bolsonaro  - Gabriela Biló/Folhapress
Presidente Jair Bolsonaro Imagem: Gabriela Biló/Folhapress

Colunista do UOL

04/05/2022 10h03

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O governo que se autointitula incorruptível tem tantas denúncias de corrupção que é difícil acompanhar. A compra de kits de robótica para escolas sem internet, a concentração de obras de asfaltamento em empreiteira que usa empresa de fachada, um ministro do Meio Ambiente afastado por acusação de contrabando de madeira da Amazônia, compra de tratores superfaturados, orçamento secreto, rachadinha e por aí vai.

A lista de maracutaias é extensa, mas uma em especial não pode ser esquecida: a que motivou a saída do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro. Segundo várias acusações — sustentadas inclusive com áudio do próprio Ribeiro —, a intermediação de recursos da pasta a prefeitos era feita por pastores evangélicos de fora do serviço público.

O pistolão que os dois religiosos, Gilmar Santos e Arilton Moura, apresentaram ao ministro para se intrometer no MEC foi a indicação de ninguém menos que o próprio presidente Jair Bolsonaro. Com esse passe livre, segundo as acusações, cobravam propinas dos prefeitos em troca de encaminhar pedidos no ministério. O pagamento era feito em dinheiro, barras de ouro e até em compra de bíblias que Santos e Moura publicam.

Pelo menos um dos casos tem como prova as bíblias em que aparecem fotos dos dois pastores, do prefeito que pagou e do ex-ministro Milton Ribeiro. O Livro Sagrado foi transformado, sem a menor cerimônia, em mero panfleto eleitoral bancado com dinheiro sujo.

Segundo admitiu o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo da Ponte, os dois pastores (penetras, estranhos ao serviço público, é bom lembrar) indicavam os prefeitos que deveriam ter prioridade na agenda e participavam regularmente das reuniões do órgão.

Um dos religiosos chegou até a insinuar ao chefão do FNDE uma troca de favores baseada no pagamento de propina. "Me ajuda que eu te ajudo", teria dito Arilton Moura a Ponte, segundo o próprio servidor contou à Controladoria-Geral da União.

De onde veio o respaldo para que os dois pastores agissem com tamanha desenvoltura no MEC?

Resposta: da indicação do presidente Jair Bolsonaro, que pediu ao ministro que lhes desse prioridade, segundo admitiu o próprio Milton Ribeiro.

O cenário atual é conturbado, com inflação crescente, ameaças ao processo eleitoral, intromissão das Forças Armadas em assuntos civis e outras complicações causadas por quem deveria zelar pela tranquilidade do Brasil, o presidente da República.

Nessa balbúrdia, não se pode esquecer, porém, que Bolsonaro deve explicações sobre os pastores que infiltrou no Palácio do Planalto. Por qual motivo disse a Ribeiro que os tratasse como prioridade? Qual a relação do presidente com eles? Como coloca para atuar no MEC gente que não faz parte do serviço público? Qual o seu interesse nesse imbróglio?

Até agora, Milton Ribeiro não deu nenhuma explicação sobre o caso, apesar de ter deixado a pasta sob alegação de que precisava de tempo para se defender.

Da parte de Bolsonaro também só se ouve o silêncio.

Como já foi consignado aqui, esse é o governo sem corrupção com o maior número de denúncias de corrupção da história.

Apesar da enorme demanda, o esquema dos pastores que Bolsonaro infiltrou no MEC não pode ficar sem ser esclarecido.