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Rodrigo Garcia cria versão paulista do 'tiro na cabecinha', surgido no Rio
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Poucas áreas da administração pública são mais suscetíveis ao populismo eleitoreiro que a segurança pública. A escalada da criminalidade que assusta os brasileiros tem inspirado discursos truculentos a candidatos e governantes, na falta de um plano racional para restabelecer a paz.
Um dos exemplos mais recentes e de maior repercussão desse populismo ocorreu quando, em 2018, o então governador do Rio, Wilson Witzel, anunciou que os criminosos que fossem flagrados pela polícia com armas seriam contemplados com um tiro. "A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro", prometeu, na época.
Sob Witzel, a polícia do Rio se manteve como recordista de mortes ocorridas em confronto. As circunstâncias são conhecidas: em operações violentas empreendidas em áreas pobres, policiais entram atirando e colocam em risco os moradores. A situação é tão absurda que o Supremo Tribunal Federal teve que restringir as incursões desse tipo durante a pandemia.
O momento mais trágico da gestão da segurança do Rio aconteceu em 6 de maio do ano passado, quando uma operação policial causou a morte de 28 pessoas na favela do Jacarezinho.
O lema dessa experiência falida ("tiro na cabecinha") foi revivido hoje em outro estado. Ao anunciar reforço de policiamento para coibir roubos e furtos, Rodrigo Garcia (PSDB), governador paulista e candidato à reeleição, disse que "em São Paulo, o bandido que levantar arma para a polícia vai levar bala".
Hoje, na sabatina UOL/Folha de S. Paulo, Garcia procurou se explicar. "Bandido que não quer ser morto, que não reaja quando for abordado. Isso é defender a vida do policial e fazer com que, dentro dos limites da lei, ele possa reagir", disse.
Legítima defesa é uma obviedade. Ninguém em sã consciência defende que o policial aceite ser alvo de criminosos sem reagir.
De governantes e candidatos se espera algo mais que enunciar o óbvio, ainda mais com linguajar de programas policialescos. O que se quer são políticas estruturadas tanto na área de segurança quanto na social. Quando o político com esse poder diz que "o bandido que levantar arma para a polícia vai levar bala", está insuflando a retórica do ódio.
A lógica do confronto já é predominante no trabalho da polícia. Incentivá-la ainda mais com palavras incendiárias não é papel de um governador. O resultado desse embate tem sido a ocorrência de incontáveis mortes de inocentes e de agentes do Estado. O ideal é exaltar o trabalho técnico, a investigação.
Copiar o marketing populista de Wilson Witzel definitivamente não é uma boa ideia. Se não por outros motivos, ao menos pelo desfecho de sua passagem pelo governo fluminense.
Como se sabe, o xerife Witzel acabou condenado pelo tribunal especial e foi apeado do cargo por um impeachment.
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