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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Destruição da Terra Yanomami aconteceu sob as barbas da Aeronáutica

Garimpo ilegal dentro da terra indígena Yanomami, em Roraima, em 2020 - Chico Batata - 2020/Greenpeace
Garimpo ilegal dentro da terra indígena Yanomami, em Roraima, em 2020 Imagem: Chico Batata - 2020/Greenpeace

Colunista do UOL

27/02/2023 10h14

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Às vésperas de completar um mês como presidente da República, no dia 29 de janeiro, Lula determinou que a Força Aérea Brasileira fechasse o espaço de voos sobre a Terra Yanomami, em Roraima, para interromper a ação dos garimpeiros ilegais. Várias rotas clandestinas na região são usadas por aeronaves ilegais tanto para escoar a produção do garimpo quanto para levar alimentos e insumos aos grupos que escavam a terra clandestinamente.

Assim que foi implantada, a medida surtiu efeito. Temendo ficar isolados, sem ter o que comer e à mercê dos agentes do Ibama e da Polícia Federal, a maior parte dos garimpeiros parou de trabalhar e tratou de fugir. Apesar de ainda haver áreas de tensão, a atividade marginal caiu drasticamente.

Em meio a tantas providências complexas e demoradas que o governo Lula tem que tomar para reduzir os efeitos da tragédia que se abateu sobre os yanomamis nos últimos anos, o fechamento do espaço aéreo foi a mais simples e eficaz.

O que se sabe agora, graças à reportagem de Eduardo Militão, publicada hoje no UOL, é que essa deliberação poderia ter acontecido bem antes, poupando aos indígenas boa parte dos sofrimentos causados pela devastação de suas terras. Em 2021 e 2022, a FAB negou os pedidos feitos pela Polícia Federal para que o espaço aéreo da Terra Yanomami fosse fechado.

As argumentações foram as mais esfarrapadas: incapacidade técnica de captar aeronaves que voavam a baixa altitude, grande extensão do território e falta de recursos para o trabalho de fiscalização.

Como por um passe de mágica, bastou mudar o governo e o comando da Aeronáutica para que os entraves fossem derrubados e a providência tomada. Com grande sucesso - tanto que será repetida no início de abril.

Quantas vidas indígenas e quanto do bem-estar dos que sobreviveram terá custado essa negativa da FAB em 2021 e 2022?

Quantos quilômetros de devastação da floresta pelos garimpeiros poderiam ter sido evitados?

O episódio é mais um exemplo bizarro da estranha noção de soberania que exercitam os militares bolsonaristas.

Foi sob esse conceito estapafúrdio de patriotismo que não defende os compatriotas que a ação de criminosos cresceu de forma exponencial na Amazônia, provocando devastação na mata em níveis jamais vistos.

Agora sob novo comando, a Aeronáutica faz o que dela se espera: coíbe a destruição na Terra Yanomami, esse descalabro que aconteceu livremente sob as barbas do comandante anterior, o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior.

Espera-se que ele responda por isso.