Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Dez conclusões sobre os 100 dias da Guerra na Ucrânia
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Transcorridos exatos 100 dias da invasão russa na Ucrânia, temos refletido muito sobre os efeitos dessa crise e o seu significado. Nesta coluna, anteriormente, já fizemos alguns balanços do conflito, como quando ele completou uma semana, depois um mês, 50 dias e dois meses.
Nesse tempo, embora haja espaço para mais dúvidas do que certezas, algumas conclusões parecem cada vez mais claras. São elas:
1) O "mundo multipolar" é uma realidade inconteste do século XXI: os Estados Unidos, sozinhos, não são mais capazes de garantir o status quo, e várias outras lideranças emergem interessadas não apenas em angariar poder e protagonismo internacional, mas imbuídas da intenção de revisitar as regras do jogo e as narrativas dominantes.
2) Valores heterogêneos entre as potências marcarão os conflitos dessa era: as diferenças entre os países não se restringem aos aspectos materiais, à contabilidade de suas capacidades ou ambições geopolíticas, mas à tentativa de garantir legitimidade para o seu próprio modelo de organização política, suas crenças e visões de mundo. Há um espaço relevante de disputa sobre o que significa e o que qualifica regimes democráticos e autocráticos, inclusive.
3) Para além da ameaça nuclear, guerras híbridas e "por procuração" são uma tendência cada vez maior. Conviveremos, cada vez mais, com mecanismos de enfrentamento variados e de múltiplas dimensões, com capacidade de penetrar nas sociedades de diversas formas e causar danos sistêmicos de grande impacto, inclusive por meio de novos atores transnacionais, cada vez mais importantes e decisivos nos conflitos do planeta.
4) A rivalidade entre Estados Unidos e China representa o maior ponto de sensibilidade do sistema internacional contemporâneo. Acomodar a China como um "responsible stakeholder", como já foi a intenção norte-americana, parece uma realidade cada vez mais distante. Aos poucos, a China vai assumindo posições mais evidentes de contestadora da ordem internacional e, com isso, abrindo espaço para uma estratégia marcada por competição e enfrentamento.
5) Há limites concretos para a realização dessa vocação, mas a Rússia de Putin pode ser considerada uma potência revolucionária, com interesse de romper com a estrutura do sistema internacional atualmente existente.
6) Há espaço para uma reconfiguração da estratégia militar da Europa e incentivos para a estruturação de alianças de segurança no indo-Pacífico. Esses são movimentos novos e que se tornaram prementes, para muitos países, apenas após a percepção de risco renovada pela crise na Ucrânia.
7) A globalização e seus fluxos são inexoráveis, mas seus efeitos estimulam, paradoxalmente, o fortalecimento de nacionalismo, protecionismo e populismo em várias partes do planeta.
8) Segurança energética e segurança alimentar são assuntos urgentes quando se analisa o arcabouço de interesses vitais dos países e precisam, portanto, ser elementos escriturados em qualquer análise de risco político.
9) É preciso encontrar meios para ampliar as redes de apoio a pessoas em condição de vulnerabilidade. O mundo ainda é um lugar complicado e pouco preparado para lidar com refúgio e migrações.
10) É preciso, definitivamente, renovar o sistema multilateral e as estruturas de governança global, cuja capacidade de resposta é lenta e pouco assertiva.
Em suma: os 100 dias da crise no leste europeu nos relembram que instabilidade, incerteza e insegurança são as palavras-chave do nosso tempo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.