Fernanda Magnotta

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Opinião

Além de pandemias e guerras, o futuro coletivo passará pela crise climática

Há diversos estudos sobre as variáveis que têm influenciado o desenvolvimento da humanidade. Entre eles, o clássico livro de Jared Diamond, em que o autor atribui o domínio de um povo sobre o outro, e o acúmulo de vantagens políticas e econômicas pelos Estados, à dominação de fundamentos militares (armas), tecnológicos (aço) ou ligados às doenças (germes).

Se há tempos já temos clara a convivência de fatores como esses para as relações internacionais, recebemos, nos últimos anos, alguns lembretes importantes que vieram com a Guerra da Ucrânia, com as disputas entre Estados Unidos e China, e com a pandemia de covid-19.

O fato é que, para além dos fatores sociais, elementos geográficos e ambientais também importam na formação das comunidades humanas. Temos, diante de nós, portanto, mais uma nota de advertência: a emergência climática.

Durante julho, a Europa enfrentou uma onda de calor extremo e registrou temperaturas recordes, próximas de 50ºC. A Sociedade Meteorológica Italiana denominou o fenômeno de "Cerberus". No "Vale da Morte", nos Estados Unidos, os termômetros chegaram a marcar mais de 54ºC durante o mês que se encerra na segunda (31). A situação meteorológica causou preocupações sobre os impactos na saúde pública, na agricultura e no meio ambiente.

As origens disso tem a ver com o fenômeno do El Niño, mas também com o aquecimento global provocado pela ação humana. Não à toa, ao longo do tempo, os países têm se mobilizado para promover uma série de iniciativas que possam endereçar a questão.

No campo dos acordos e regimes internacionais para combater as mudanças climáticas destacam-se a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC - 1992), o Protocolo de Kyoto (1997) e suas emendas, bem como o Acordo de Paris (2015).

As lideranças internacionais também têm buscado diálogo multilateral por meio de encontros, como é o caso das Cúpulas Climáticas das Nações Unidas, e das Conferências das Partes (COP) — a próxima, prevista para 2025, será no Brasil, inclusive.

O problema é que embora os esforços sejam antigos, eles são inconstantes. A contenção da emergência climática depende de coordenação de respostas e, portanto, de comprometimento coletivo. Esbarra em interesses políticos divergentes e em aspectos ligados aos diferentes estágios de desenvolvimento das economias dos países.

Estamos falando de disputas envolvendo vantagens competitivas, diferentes níveis de acesso a tecnologias limpas e de dependência de combustíveis fósseis e de desafios relacionados ao campo de infraestrutura. Além disso, há um papel importante desempenhado pelo negacionismo e pela desinformação. Minimizar o aquecimento global dificulta a obtenção de apoio político e popular para ações concretas no mundo todo.

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Se não retardarmos o avanço dessa crise, e se não nos prepararmos para as adaptações necessárias, como ligadas a situações extremas, o aumento do nível do mar e os impactos sobre a agricultura e os recursos hídricos, o nosso futuro coletivo será no Inferno de Dante, em sentido literal.

A mudança climática está aqui. É aterrorizante. E é apenas o começo.
Antonio Guterres, secretário-geral da ONU

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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