Fernanda Magnotta

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Opinião

Assange e a reconfiguração do debate sobre privacidade na era digital

Na era da globalização, enfrentamos mudanças contínuas que remodelam não apenas as relações econômicas, mas também as dimensões política e social por toda parte. São transformações que resultam em uma reconfiguração das relações de poder e influenciam diretamente na formação da consciência e na maneira como percebemos nossa própria relação com o mundo.

Ao longo dos últimos vinte anos, a trajetória de Julian Assange ilustra uma alteração significativa de padrões nas questões envolvendo liberdade de expressão e privacidade. Originalmente, no início do século 21, o debate estava focado na exposição de ações unilaterais de governos, como demonstrado pelo vazamento de documentos sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão pelo WikiLeaks. Estes eventos colocaram em evidência a relação direta entre cidadãos e as decisões estatais feitas em seu nome.

Contudo, o cenário ganhou complexidade ao longo dos últimos anos e agora engloba a influência pervasiva de gigantes tecnológicos e múltiplos outros stakeholders. Eles operam por meio de suas capacidades de coleta e análise de dados em larga escala, impactam não apenas práticas de consumo, mas também opiniões e comportamentos políticos, criando uma dimensão de vigilância que transcende fronteiras nacionais. Esse novo contexto desafia antigas noções de soberania e do que é público, colocando em xeque a capacidade dos Estados de proteger os dados de seus cidadãos contra a exploração comercial e a manipulação.

Esta nova realidade da interação entre cidadãos, países e empresas globais de tecnologia levanta questões urgentes sobre o convívio entre segurança e liberdade pessoal. A capacidade de certos atores de influenciar indivíduos sem o seu conhecimento ou consentimento explícito coloca em risco conceitos importantes de democracia e autodeterminação. Em resposta, surgem movimentos globais que clamam por uma regulamentação mais rígida dessas entidades, exigindo transparência nas práticas de coleta de dados e garantias mais sólidas de privacidade e segurança digital.

O fato é que a luta pela transparência e liberdade de expressão já não é mais apenas uma questão de vazamento de informações estatais, mas também uma batalha contra a opacidade das organizações e grupos que operam na fronteira digital de forma desterritorializada. A conclusão se impõe: para preservar os valores de uma sociedade aberta e em equilíbrio neste novo contexto é essencial uma cooperação internacional efetiva, que ainda não vemos lograr êxito, e uma cidadania global mais informada e ativa.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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