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Eventos em massa não ajudam, diz chefe clínica da OMS sobre atos no Brasil

Apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro, participam de ato a favor do governo na praia de Copacabana - Érica Martin/AM Press & Imagens/Estadão Conteúdo
Apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro, participam de ato a favor do governo na praia de Copacabana Imagem: Érica Martin/AM Press & Imagens/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

16/03/2020 13h20

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Após um domingo de diversas manifestações pelo Brasil, a OMS sugere que pessoas não participem de protestos e eventos de massa, como forma de frear o novo coronavírus.

Respondendo a uma pergunta da coluna sobre as manifestações públicas no Brasil no fim de semana, a chefe clínica da entidade, Maria Van Kerkhove, deixou claro que tais eventos "não ajudam".

"Tudo o que possamos fazer para reduzir a transmissão deve ser feito", disse. "Uma das formas é parar eventos de massa."

Falando de uma forma mais geral e sem citar países, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez questão de alertar que o combate ao vírus vai precisar de um "compromisso político de mais alto nível" em todos os países. Segundo ele, não basta deixar o trabalho ao Ministério da Saúde e a "liderança principal" precisa dar exemplo.

No fim de semana, Bolsonaro não apenas comemorou os protestos pelo país como também foi ao encontro de um grupo que se manifestava em frente ao Palácio do Planalto.

A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados irá denunciar o presidente às Nações Unidas e à Organização Mundial da Saúde. O grupo estima que o chefe de Estado violou suas obrigações de proteger a população ao incentivar as manifestações no domingo e de ter, pessoalmente, participado de uma delas.

Presidente sai para cumprimentar manifestantes em frente ao Planalto

Band News

Em entrevista à Bandeirantes, Bolsonaro disse que tem "direito" de apertar as mãos das pessoas e que tem "obrigação moral de saudar o povo".

"Se eu me contaminei, isso é responsabilidade minha. Ninguém tem nada a ver com isso", acrescentou. "Mesmo que o povo erre, você tem que respeitar a vontade popular." Na avaliação do presidente, "está havendo uma histeria" em relação ao coronavírus no Brasil.

Na própria OMS, funcionários foram instruídos a ficar em casa e trabalhar de forma remota. Justamente para evitar o contágio.

Pela primeira vez, a organização revelou que já existem mais casos fora da China que no país asiático e que a crise é "definidora" da atual geração no planeta. A OMS também confirmou a morte de crianças e pediu que todos os casos sejam isolados.

"Testem, testem e testem"

O diretor-geral da OMS, em sua mensagem nesta segunda-feira, deixou claro que apenas o distanciamento social não vai parar a pandemia. O diretor-geral fez um apelo para que governos "testem, testem e testem" a todos, e que isolem as pessoas com resultados positivos.

Ao longo das últimas semanas, Tedros tem alertado para o risco de que governos não levem a sério a doença. Para o africano, líderes têm a obrigação de preparar seus países e proteger suas populações.

Até a semana passada, a OMS não determinava se um governo deve ou não cancelar eventos. Mas era explícita em apontar para os riscos e elaborou um documento de nove páginas com recomendações concretas caso um organizador decida ir adiante com seus planos de manter um evento ou reunião.

Já no início do texto, a agência de Saúde alerta: "eventos de massa são altamente visíveis com o potencial de graves consequências para a saúde pública, se não forem planejados e geridos com cuidado".

"Existem amplas evidências de que as reuniões de massa podem amplificar a propagação de doenças infecciosas. A transmissão de infecções respiratórias, incluindo a gripe, tem sido frequentemente associada a reuniões de massa", explica a OMS.