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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Alvo de Bolsonaro, Venezuela volta a dar lucros ao agronegócio do Brasil

Colunista do UOL

15/08/2022 04h00Atualizada em 15/08/2022 09h11

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Os produtores agrícolas brasileiros voltam a exportar alimentos para a Venezuela, apesar de uma postura do governo de Jair Bolsonaro (PL) de rejeição qualquer aproximação com o país vizinho e até mesmo uma tentativa deliberada de cortar relações diplomáticas e comerciais com Caracas.

Dados oficiais do Ministério da Economia revelam que, depois de uma contração profunda nas vendas brasileiras para o mercado venezuelano, as exportações ganharam um novo ritmo desde o ano passado.

O volume é ainda uma fração do que o Brasil chegou a exportar em 2012, quando o fluxo superou a marca de US$ 5 bilhões. Naquele momento, o mercado venezuelano era o oitavo maior destino de vendas nacionais e a contração de exportações. Em 2019, representou um retrocesso de 23 anos.

A crise profunda no país, a falta de garantias de crédito, as sanções impostas pelo governo de Donald Trump e a decisão de Jair Bolsonaro de não reconhecer o governo de Nicolas Maduro fizeram com que os valores desabassem. Em 2016, o Brasil tinha exportado US$ 1,6 bilhão. Mas, em 2019, no primeiro ano do atual presidente brasileiro no poder, o volume caiu para apenas US$ 420 milhões.

Foi a partir de 2021 que o fluxo ganhou novo ritmo. No ano passado, o Brasil voltou a exportar uma vez mais acima de US$ 1 bilhão para o mercado venezuelano. Em 2022, esse montante deve ser amplamente superado. Até junho, o país já havia exportado mais de US$ 713 milhões.

Foram os alimentos e produtos agrícolas que puxaram a alta. As vendas de óleo de soja brasileiro passaram de meros US$ 29 milhões no início do governo Bolsonaro para US$ 189 milhões no ano passado. Até julho, mais de US$ 120 milhões já foram vendidos.

Preparações alimentícias saltaram de US$ 4 milhões para US$ 75 milhões no mesmo período, enquanto enchidos de carne passaram de uma exportação inexistente para US$ 54 milhões.

Um dos casos que mais ilustram a volta do comércio com a Venezuela de Maduro é o do açúcar. As vendas chegavam a US$ 120 milhões antes do governo Bolsonaro. Mas caíram para apenas US$ 19 milhões. Em apenas sete meses, elas já somam US$ 48 milhões.

Saltos impressionantes também foram registrados no comércio do milho, margarina e até bolachas brasileiras.

As importações ao Brasil de produtos venezuelanos também tiveram uma alta substancial. Mas estão em níveis bem abaixo das vendas brasileiras. Em 2016, os venezuelanos exportaram US$ 415 milhões ao mercado brasileiro. Esse volume caiu para apenas US$ 80 milhões no primeiro ano do governo Bolsonaro. Mas, até julho, já está em US$ 176 milhões e pode voltar aos patamares de 2016.

Ruptura diplomática e fim do colapso econômico

A nova alta de vendas brasileira ocorre depois de anos de ataques constantes do bolsonarismo contra Maduro, que já foi acusado pela ONU (Organização das Nações Unidas) de ter montado um verdadeiro esquema de repressão contra a oposição. Brasília deixou de reconhecer seu governo e retirou diplomatas de Caracas.

Saber os reais dados da economia Venezuela é um desafio para as instituições internacionais. Muitas das informações deixaram de ser publicadas pelo governo de Maduro em 2019, quando a economia desabou em 24%. Neste ano, num discurso ao Congresso, ele indicou que o país cresceu 4% em 2021 e que a taxa de expansão no primeiro trimestre foi de 7%. Hoje, diante da guerra na Ucrânia, o petróleo venezuelano voltou a ser aceito entre as potências ocidentais.

Se confirmado, 2021 seria o primeiro em oito anos em ver uma expansão da economia local. Neste período, porém, algumas estimativas internacionais apontam que o país perdeu 75% de seu PIB.

O banco Credit Suisse, por exemplo, estima que a economia venezuelana pode ter uma expansão de 4,5% em 2022, em grande parte por conta da receita do petróleo. A hiperinflação também deu sinais de perder força. Depois de bater a casa de 3.000% por ano, ela teria sido de 686% em 2021.