Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Lula volta à Casa Branca: 20 anos de tensões, interesses e alianças
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Em dezembro de 2002, o então presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entrou no Salão Oval da Casa Branca para se apresentar ao então presidente George W. Bush.
O brasileiro - repleto de incógnitas sobre suas intenções e seu suposto extremismo que jamais seria confirmado - buscava abrir canais de comunicação com um líder que vinha de uma perspectiva ideológica radicalmente diferente.
Naquele dia, surpreendeu o americano o fato de que Lula trazia, em sua lapela, a estrela vermelha do PT. Mas tanto o brasileiro como Bush sabiam que precisariam conviver e, de ambos os lados, o resultado do encontro foi considerado como satisfatório. Um alívio para empresários, diplomatas e setor financeiro.
O republicano elogiou o caráter sincero de Lula. O brasileiro disse que "olhou nos olhos" de Bush e sentiu confiança.
O petista precisava de uma chancela internacional para se posicionar como um interlocutor, para acalmar os mercados e se distanciar da narrativa de que a esquerda promoveria uma revolução. Já os EUA ainda estavam profundamente abalados com o 11 de setembro de 2001 e viam, no Brasil, um ponto de moderação na América Latina.
Deu liga. Seis meses depois, os dois voltariam a se reunir em Washington, desta vez para estabelecer um programa de trabalho entre Brasil e EUA.
Mas, ao longo dos anos, a relação foi pontuada por crises e apertos de mãos. Lula se recusou a participar da guerra contra o Iraque, um pedido do americano.
No final de 2003, o governo Bush acusaria o Brasil de Lula de tentar sabotar as negociações na OMC, ao criar um bloco de países emergentes para conter a influência e propostas de americanos e europeus.
Mas a Casa Branca sabia que precisava de Lula para conter Chávez. De fato, as revelações dos telegramas publicados pelo Wikileaks mostrou que havia também preocupação com protagonismo brasileiro, com o papel de Celso Amorim (então chanceler) e com o antiamericanismo de certas parcelas do gabinete de Lula.
Em 2007, Lula seria o primeiro líder latino-americano a ser recebido em Camp David desde Carlos Salinas em 1991. Ainda uniria os dois o fato de que o mundo buscava fontes renováveis de energia e Brasil e EUA eram os dois maiores produtores de etanol no planeta.
Não faltaram episódios de tensão. Sua afilhada política, Dilma Rousseff, seria alvo de escutas por parte do governo americano. O Brasil venceu os americanos nos tribunais internacionais
20 anos depois, Lula volta ao mesmo local. O mundo mudou e sua situação é profundamente diferente. Foi de ser "o cara" para viver uma situação radicalmente diferente na Operação Lava Jato.
Lula voltou à cena política e venceu uma eleição, reconhecida por Biden e dezenas de governos pelo mundo na mesma noite de sua vitória.
O brasileiro, quando entrar na Casa Branca na sexta-feira, não precisará mais se apresentar. Ele é visto como ator internacional em busca de restabelecer seu espaço no mundo.
Mas os desafios não desapareceram. A desconfiança global sobre a capacidade de proteger a Amazônia está presente e, nos corredores da diplomacia internacional, muitos se perguntam se os riscos para a democracia brasileira foram superados.
Na economia, a previsões internacionais apontam para um ano difícil, minando a possibilidade de restabelecer uma agenda social, depois da destruição de quatro anos.
A relação com os americanos também mudou. Hoje, Washington não é mais o maior parceiro comercial do país, posto ocupado pela China. Os Brics hoje contam com um banco, querem desenvolver uma moeda que reduza sua dependência ao dólar e o eixo político no mundo mudou.
Nesta semana, em Washington, o palco é o mesmo. Mas os desafios de Lula podem ser ainda maiores que há duas décadas.
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