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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Rússia faz ataque 'excepcional' sobre Kiev, e paz fica distante

Colunista do UOL

16/05/2023 04h40

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Numa ofensiva que contou com mísseis e drones, militares russos lançaram hoje um dos ataques mais intensos sobre Kiev desde o início da guerra. A ação militar ocorre um dia depois de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter concluído uma turnê pela Europa na qual seu governo obteve bilhões de euros em ajuda para tentar reconquistar territórios ocupados pela Rússia.

Na madrugada, 18 "mísseis aéreos, marítimos e terrestres de vários tipos" foram disparados contra as cidades ucranianas, disse Valeriy Zaluzhny, comandante de Coordenação Estratégica das Forças Armadas da Ucrânia. As sirenes ecoaram por três horas, enquanto a população se escondia em abrigos antiaéreos e era orientada a se manter distante de janelas.

A ofensiva faz parte de uma nova etapa de ataques aéreos por parte da Rússia, na esperança de minar a capacidade dos ucranianos em preparar e iniciar uma contraofensiva. Apenas neste mês, este foi o oitavo ataque sofrido por Kiev. Depois de 50 dias sem ataques contra sua capital, a Ucrânia acredita que a meta do Kremlin é o de esgotar os sistemas de defesa aérea.

Para diplomatas, um dos focos pode ser o sistema de defesa aérea Patriot, fornecido pelos americanos e alemães para a Ucrânia há poucas semanas. O armamento estaria sendo fundamental para garantir a defesa aérea da Ucrânia.

Os ataques também acontecem poucas semanas depois de Kiev ter recebido dos britânicos mísseis Storm Shadow, com um alcance de mais de 250 quilômetros.

"Foi excepcional em sua densidade - o número máximo de mísseis de ataque no menor período de tempo", disse Serhiy Popko, chefe da administração militar da cidade de Kiev.

Defesa funcionou, dizem ucranianos

O governo ucraniano informou que o ataque russo fracassou. "Todos os 18 mísseis foram destruídos pela defesa aérea das Forças Armadas da Ucrânia", disse Zaluzhny.

O ministro da defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, comemorou o "sucesso inacreditável" de suas forças aéreas em frear o ataque. "Os terroristas russos não têm nenhuma chance de prevalecer sobre a Ucrânia. Suas armas podem e devem ser combatidas pelas armas ocidentais", disse.

Foram destruídos seis mísseis hipersônicos Kinzhal, considerados como uma arma estratégica do arsenal russo. Os ucranianos ainda garantem que foram ainda derrubados nove mísseis de cruzeiro, três mísseis balísticos, seis drones kamikazes e três veículos aéreos não tripulados.

Já o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, lamentou que partes dos mísseis russos destruídos acabaram caindo sobre carros e danificaram um prédio em Kiev, deixando feridos.

Bombeiros combatem incêndio em veículos atingidos por destroços de mísseis russos abatidos pelo sistema de defesa ucraniano - Reuters - Reuters
Bombeiros combatem incêndio em veículos atingidos por destroços de mísseis russos abatidos pelo sistema de defesa ucraniano
Imagem: Reuters

O prefeito ainda informou que os sistemas de defesa aérea também impediram um ataque de drones. O local visado era Boryspil, local do principal aeroporto de passageiros de Kiev e que está fechado há meses.

As sirenes de ataque aéreo soaram em quase toda a Ucrânia nas primeiras horas da terça-feira e foram ouvidas sobre Kiev e sua região por mais de três horas.

Paz distante

Para diplomatas consultados pelo UOL, os ataques russos dos últimos dias, os anúncios bilionários de ajuda militar aos ucranianos e os discursos de Zelensky de que não existe a necessidade de uma mediação revelam que a paz é um projeto que "não esta sobre a mesa" neste momento.

Nesta terça-feira, líderes europeus estarão na Islândia para uma cúpula de dois dias destinada a mostrar a unidade do bloco em relação ao apoio à Ucrânia.

Essa é apenas a quarta cúpula do Conselho da Europa desde que foi fundado após a Segunda Guerra Mundial. Os 46 membros se reunirão para examinar a ameaça que a guerra representa.

O bloco estava debatendo a adesão da Rússia em 2021. Mas o projeto foi suspenso no dia seguinte à invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que estava na versão original desta reportagem, Valeriy Zaluzhny é comandante de Coordenação Estratégica das Forças Armadas da Ucrânia. E não o comandante as Forças Armadas.