Carta aos escritores nacionais: vocês constroem nosso futuro
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Queridas e queridos escritores,
Sempre tive a impressão de que vocês conseguem ver coisas que o restante de nós apenas enxerga tempos depois, e mesmo assim de forma turva. Em diferentes momentos de minha vida, fui buscar nos livros de vocês caminhos para entender nossa realidade, incoerências, traumas e sonhos.
Na semana passada, no Festival Literário de Araxá, tive uma vez mais essa noção do papel que vocês desempenham. Ao ouvir Carla Madeira, Itamar Vieira Junior, Jefferson Tenório, Eliana Alves Cruz ou Sergio Rodrigues, minha impressão é de que vocês são nossas lupas, binóculos e bússolas.
O evento decidiu focar acima de tudo em autores nacionais, uma atitude que não teve nada de chauvinismo ou patriotismo ocos. Apenas uma iniciativa da curadoria de Afonso Borges, Sérgio Abranches e Tom Farias com um profundo sentido de valorizar o trabalho daqueles que fazem parte do processo de cura das feridas abertas que todos teremos de lidar.
E, de fato, os traumas expostos são profundos. Houve uma deliberada ação para destruir a cultura e a educação. Quem não se lembra quando Bolsonaro, ainda em 2020, afirmou que "os livros hoje em dia, como regra, é um montão, um amontoado... Muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo"? Como se esquecer da decisão de fechar o ministério da Cultura?
Mas resistimos. Saí de Araxá convencido de que temos instrumentos, armas e coração para superar essa realidade. Como não se emocionar ao ver os ônibus escolares levando crianças com enormes sorrisos para ouvir o brilhante Leo Cunha ou a amável irreverência de Tino Freitas. Como não ficar tocado pela coragem de Juliana Monteiro em falar de amor e do cordel de Marco Haurélio. Ou da força de Luana Tolentino, Cidinha da Silva e Trudruá Dorrico, e da inteligência desconcertante de Eugênio Bucci.
A fila que se formava para ouvi-los me parecia ser o efeito colateral de um antídoto para a onda de desinformação que nos assola. A esperança de que temos a oportunidade de reconstruir um país sob novas bases. Uma democracia onde todos caibam e onde não exista a história única do opressor.
A literatura de vocês confirma a complexidade do humano. Numa era de intolerância, permitir que estejamos nas vozes dos outros é um exercício de diálogo, de amor. Nas cenas narradas por Itamar num local onde eu nunca estive, as vozes que surgem em cada página são aulas de Brasil.
Alguns dos livros de vocês servem de faísca para um fogo da indignação, o primeiro passo para uma revolução dos nossos destinos e a recusa da desigualdade. Mesmo quando falam da história, o tema jamais é o passado. Vocês, juntos, constroem o futuro.
Escrevo esta carta a vocês com um pedido: continuem a estar ao lado dos leitores e do público. Vocês não são apenas escritores. São esperanças de dias melhores, moldam pensamentos e comportamentos, pressionam e criam uma consciência da necessidade de uma sociedade mais justa e de que a humanidade vingue.
Cada um com suas armas, suas palavras e seus temas faz o Brasil ser o Brasil que amamos, que desejamos e que, juntos, podemos construir.
Viva o autor nacional!
Saudações democráticas,
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
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