Temer critica Lula e diz que golpe seria não deixar vice assumir
"Golpe teria sido tentar não deixar o vice assumir". Foi assim que o ex-presidente Michel Temer comentou a situação relacionada às acusações de que o impeachment de Dilma Rousseff teria sido um golpe que acabou por colocá-lo como presidente do Brasil.
Em entrevista a jornalistas em Milão, nesta quinta-feira, Temer rejeitou qualquer tese do PT e de partidos de esquerda sobre a queda de Dilma. Ele ainda criticou proposta do presidente Lula sobre sigilo de voto no STF.
"Essa história de dizer que é golpe, francamente, é por não se ler a Constituição. A Constituição diz que, se o presidente é afastado, assume o vice. Golpe haveria se tentassem fazer com que o vice-presidente não assumisse", disse.
Para Temer, Dilma não foi inocentada pelo TRF (Tribunal Regional Federal). No final de agosto, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) em Brasília manteve, por unanimidade, o arquivamento da ação de improbidade contra Dilma ao avaliar as "pedaladas fiscais".
"Lamento que as pessoas não examinem as questões. Crimes de responsabilidade política não têm relação com o processo jurisdicional. O crime politico, quando você é condenado, é uma questão de conveniência e oportunidade. O processo jurisdicional é das provas. Quando as provas são efetivas, muito bem, você não tem como ter esse juízo de oportunidade e conveniência", disse.
"No caso de Dilma, o Tribunal Regional Federal nada mais fez que dizer: não vou examinar o mérito, pois isso já foi pré-examinado", disse, lembrando que não poderia haver uma dupla condenação.
"Se alardeia a narrativa. A narrativa é o que supera a realidade. Há uma narrativa que houve uma absolvição. O que não houve foi o exame. Condenação ou não deu-se no Congresso Nacional", insistiu o ex-presidente.
Momentos antes, Temer discursou na abertura de um seminário para empresários brasileiros e italianos, organizado pela Lide, empresa de João Doria. Ao tomar a palavra, ele insistiu que "há no Brasil uma democracia extraordinária" e que "não há nada que abale" as instituições.
Vigilo de voto no STF
Temer ainda criticou a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manter em sigilo o voto dos ministros do STF. "Acho absolutamente inviável você não identificar o voto do ministro", disse.
Ele lembrou que, nos EUA, existe essa possibilidade em alguns casos. "Mas no Brasil seria absolutamente impossível e inconstitucional. O tema de nossa Constituição é a publicidade de todos os atos públicos", afirmou Temer, apontando que a ideia de Lula não foi bem recebida.
Erro histórico e prisão de Lula
Temer fez questão de não tecer um julgamento de valor sobre a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli de anular todas as provas obtidas a partir de delações da Odebrecht e considerar a prisão do presidente Lula "um dos maiores erros judiciários da história do país".
"Isso é uma questão judicial. Num primeiro momento foi decidido de uma maneira e, depois, de outra maneira. Decisão judicial se cumpre", disse.
Aceno de Lula ao Congresso
Temer ainda considerou que é indispensável que o atual presidente possa trabalhar com o Congresso Nacional, um dia depois de um anúncio de mudanças em seu ministério. "O presidente não governa se não tiver apoio do Congresso. Temos uma visão muito centralizadora. Pesamos que o presidente pode tudo. Não pode. Só pode se tiver apoio do Congresso Nacional", disse.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receber"O presidente governa juntamente com o Legislativo, algo absolutamente democrático e participativo", insistiu.
Radicalização no Brasil
Citando Gandhi e Mandela, Temer ainda falou sobre a necessidade de pacificação do país, depois de anos de disputas políticas intensas. Para ele, essa pacificação é determinação da Constituição. "Lamento dizer que temos no Brasil, mas também no mundo, uma divisão muito grande. Não é exatamente uma polarização. Polarização é uma divergência de ideias, que é fundamental para a democracia. O que temos é uma radicalização, uma crueldade absoluta nos polos que se distingue o país", disse.
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