Concentração de gases bate recorde e Amazônia vive 'ponto de inflexão'
A concentração de gases de efeito estufa que retêm o calor na atmosfera mais uma vez atingiu um novo recorde no ano passado. O alerta é da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que deixa claro que não há qualquer sinal de que a tendência possa ser revertida nos próximos anos. De acordo com a entidade, tudo indica que 2023 será o ano mais quente já registrado, enquanto os dados científicos comprovam que há uma correlação clara entre a concentração de gases e eventos climáticos extremos.
Em 2022, as concentrações médias globais de dióxido de carbono (CO2), o gás de efeito estufa mais importante, ficaram 50% acima da era pré-industrial pela primeira vez. Elas continuaram a crescer em 2023.
De acordo com o informe, a última vez que a terra experimentou uma concentração comparável de CO2 foi há 3-5 milhões de anos, quando a temperatura era 2-3°C mais quente e o nível do mar era entre 10 e 20 metros mais alto do que agora.
Os dados servem para pautar as negociações das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai no final do mês. Para a ONU, a revelação desta quarta-feira é a prova de que governos terão de ser mais ambiciosos nos acordos climáticos. Segundo a entidade, 80% das emissões ocorrem por parte das economias do G20, enquanto os Brics são responsáveis por um terço.
Em 2022, a taxa de crescimento das concentrações de CO2 foi ligeiramente inferior à do ano anterior e à média da década. Mas isso provavelmente se deveu a variações naturais de curto prazo no ciclo do carbono e que as novas emissões resultantes de atividades industriais continuaram a aumentar.
As concentrações de metano também aumentaram, e os níveis de óxido nitroso, o terceiro principal gás, tiveram o maior aumento anual registrado de 2021 a 2022.
Desmatamento na Amazônia preocupa e floresta vive "ponto de inflexão"
Na avaliação da agência, a situação da Amazônia preocupa, principalmente diante dos primeiros sinais de que a região esteja deixando de ser um local de captação de gases para ser um emissor.
Para a agência, o desmatamento na América Latina já é a fonte dominante de emissões. "A região viveu aumento de emissões por conta do desmatamento", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
Segundo ele, o impacto tem sido visto nas temperaturas e no clima da própria região.
"O sistema climático pode estar próximo dos chamados "pontos de inflexão", em que um determinado nível de mudança leva a uma cascata de mudanças acelerada e potencialmente irreversível", disse o informe. "Os exemplos incluem a possível extinção rápida da floresta amazônica", destacou a agência, ao lado de casos como a desaceleração da circulação oceânica do norte ou a desestabilização de grandes camadas de gelo.
Mundo na direção errada
O que ainda preocupa a agência é que não existem sinais de que a situação possa mudar no curto prazo. "Apesar de décadas de avisos da comunidade científica, milhares de páginas de relatórios e dezenas de conferências sobre o clima, ainda estamos caminhando na direção errada", disse Taalas.
"O nível atual de concentrações de gases de efeito estufa nos coloca no caminho de um aumento nas temperaturas bem acima das metas do Acordo de Paris até o final deste século. Isso será acompanhado por condições climáticas mais extremas, incluindo calor e chuvas intensas, derretimento do gelo, aumento do nível do mar e aquecimento e acidificação dos oceanos", disse.
"Os custos socioeconômicos e ambientais aumentarão muito. Precisamos reduzir o consumo de combustíveis fósseis com urgência", disse Taalas.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberImpacto no clima
A mudança climática é impulsionada por vários gases de efeito estufa, não apenas pelo CO2. Esses gases têm diferentes tempos de vida na atmosfera. Mas o que se sabe é que, de 1990 a 2022, o efeito de aquecimento em nosso clima - chamado de forçamento radiativo - por gases de efeito estufa de longa duração aumentou 49%, sendo o CO2 responsável por cerca de 78% desse aumento.
De acordo com a entidade, o dióxido de carbono é o gás de efeito estufa mais importante na atmosfera, sendo responsável por aproximadamente 64% do efeito de aquecimento no clima, principalmente devido à combustão de combustíveis fósseis e à produção de cimento.
O aumento de 2,2 partes por milhão (ppm) na média anual de 2021 a 2022 foi um pouco menor do que o de 2020 a 2021. O motivo mais provável é o aumento da absorção de CO2 atmosférico pelos ecossistemas terrestres e pelo oceano após vários anos com um evento La Niña. O desenvolvimento de um evento El Niño em 2023 pode, portanto, ter consequências para as concentrações de gases de efeito estufa.
O metano permanece na atmosfera por cerca de uma década. Ele é responsável por cerca de 16% do efeito de aquecimento dos gases de efeito estufa de longa duração.
Aproximadamente 40% do metano é emitido para a atmosfera por fontes naturais, e cerca de 60% vem de fontes antropogênicas, como agricultura, exploração de combustíveis fósseis, aterros sanitários e queima de biomassa.
O aumento de 2021 a 2022 foi um pouco menor do que a taxa recorde observada de 2020 a 2021, mas consideravelmente maior do que a taxa média de crescimento anual na última década.
Para o N2O, o aumento de 2021 a 2022 foi maior do que o observado em qualquer momento anterior em nosso registro de tempo moderno.
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