Renúncia da Argentina ao Brics prejudica equilíbrio proposto por Brasil
A decisão do presidente Javier Milei de renunciar ao convite para que a Argentina faça parte do Brics prejudica a tentativa do governo brasileiro de estabelecer um equilíbrio geopolítico de longo prazo dentro do bloco dos países emergentes.
Nesta sexta (29), a renúncia foi confirmada, em carta enviada por Milei. Tanto o Itamaraty como o Palácio do Planalto afirmam que já esperavam por essa decisão. Uma sinalização nesta direção já havia sido dada pela diplomacia argentina, quando reuniões ocorreram em Brasília no começo de dezembro.
A expansão do grupo de emergentes foi definida em meados do ano e era um tema de prioridade para a China. Pequim quer construir um bloco de aliados, capaz de desafiar o G7 e a hegemonia ocidental.
Mas, para o Brasil, a expansão não era um assunto que inicialmente interessava. Em primeiro lugar, o governo brasileiro pretende manter relações com todos os blocos e tenta evitar que o mundo seja, como na Guerra Fria, dividido em polos que se opõem.
Outro problema seria o desequilíbrio que poderia ser estabelecido no bloco, caso os novos membros fossem apenas asiáticos ou simples aliados da China.
O temor entre parte da diplomacia brasileira e mesmo da Índia era de que Pequim estaria tentando criar um grupo político para chamar de seu.
Para aceitar a adesão de novos membros, o Brasil colocou como condição a adesão também de membros sul-americanos. Inicialmente, Argentina e Venezuela eram os principais candidatos.
Foi estabelecido, portanto, que os argentinos estariam na primeira rodada de expansão, atendendo à lógica de um equilíbrio mínimo.
Sem Buenos Aires, o Brics contará agora com a maioria de seus membros vindos do continente asiático ou dependentes do comércio com a China.
Mesmo Milei não sendo um governo próximo aos projetos de Lula, a esperança no Itamaraty era de que a adesão da Argentina seria de longo prazo e, eventualmente, com um novo governo que compartilhasse dos mesmos ideais.
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