Depois do 7 x 1, esta foi a receita que Beckenbauer me deu sobre a seleção
O Brasil não tinha uma equipe na Copa do Mundo de 2014. O que a seleção brasileira tinha em campo eram alguns astros isolados e, num Mundial, isso não pode ser suficiente. A avaliação era do alemão Franz Beckenbauer, campeão do mundo como jogador e como treinador e que morreu nesta semana.
Em entrevista um mês depois do tetracampeonato Mundial da Alemanha e do 7 x 1, o "Kaiser" explicou a mim o que ele acreditava ser o motivo do sucesso da seleção alemã na Copa de 2014 e fazia alertas ao Brasil.
Curiosamente, depois daquele Mundial, a Alemanha mergulhou em um período de pouco brilho para sua seleção. As sugestões do Kaiser, porém, continuam válidas.
Eis os principais trechos da entrevista exclusiva concedida no vilarejo de Ulrichen, na Suíça.
Jamil Chade - Um mês depois do choque dos 7 x 1 contra o Brasil (na semifinal da Copa), como o senhor explica aquela goleada?
Franz Beckenbauer - Foi um dia muito triste. Aquilo jamais voltará a acontecer numa semifinal da Copa do Mundo. Parecia que a Alemanha estava jogando contra uma equipe de crianças. Mesmo como alemão, foi difícil assistir ao que estava ocorrendo.
Mas o que levou à goleada?
É certo que a defesa brasileira falhou muito. David Luiz, Dante e Marcelo não se encontravam. Eles são grandes jogadores em seus clubes. Em alguns dos gols, via-se sete ou oito brasileiros dentro da área ou defendendo, contra três alemães, e, mesmo assim, esses jogadores alemães apareciam totalmente livres na área.
O que isso mostra?
A realidade é que o Brasil não formou uma equipe de fato. O Brasil não tinha uma equipe na Copa do Mundo. O que o Brasil tinha em campo eram alguns astros isolados e, num Mundial, isso não é suficiente. Dependiam de Neymar e de Thiago Silva e, quando esses jogadores saíram, os que estavam em campo pareciam que não sabiam para quem tocar.
Que lição se tira disso?
A lição não é apenas para o Brasil. Seleções que foram ao Mundial apenas com astros e sem uma equipe não resistiram. Essa foi a Copa do coletivo. O que a Costa Rica fez foi justamente agir como um coletivo e surpreendeu até a Itália.
Muito se falou da preparação de longo prazo da Alemanha para chegar ao nível que está hoje. Qual foi o segredo?
Apostar nos jovens, nas equipes de base. Mas a realidade é que, na Alemanha, nós copiamos esse sistema da França. Foram eles quem apostaram nisso e funcionou. Em 1990, a França começou a preparar jovens para ter um time forte para disputar a Copa de 1998, em sua casa. É dessa geração que vem Zidane e outros.
Na Alemanha, o que fizemos foi levar essa estratégia ao seu limite, obrigando a todos os clubes a ter escolinhas e times de base. E o que estamos vendo hoje é uma renovação dos jogadores sem qualquer buraco
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