Jamil Chade

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Quem são os 12 funcionários da ONU acusados por Israel de ajudar o Hamas

Professores, assistentes sociais e empregados de um armazém. Segundo as autoridades de Israel, esses são os doze funcionários da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) que participaram dos ataques contra o país, ao lado do Hamas, em 7 de outubro de 2023.

As informações levaram a ONU abrir um inquérito e os suspeitos foram demitidos. Mas a agência com mais de 13 mil funcionários e que garante o abastecimento para 2,2 milhões de palestinos teve seu financiamento duramente afetado depois que governos Ocidentais anunciaram a suspensão de repasses para a entidade.

EUA, Canadá e os europeus alegam que apenas voltarão a dar dinheiro para agência depois de o caso ter sido elucidado. O corte foi criticado pela ONU, que denuncia a atitude como uma "punição coletiva" contra todos os palestinos.

Segundo a agência, se não houver uma retomada do financiamento, a entidade deixará de atender os palestinos no final de fevereiro. António Guterres, o secretário-geral da ONU, fez um apelo no domingo para que os governos reavaliem a decisão de suspender os pagamentos.

Nove deles foram demitidos. Um deles morreu e outros dois estão desaparecidos.

A inteligência israelense, porém, insiste que conta com detalhes sobre os funcionários da agência que participaram dos ataques.

Em reportagem do jornal New York Times, sete dos acusados por Israel seriam professores das escolas que a agência mantém em Gaza. Outros dois também trabalhavam nas escolas, mas em outras funções. Os outros três envolvidos seriam um trabalhador de um armazém, um trabalhador social e um funcionário administrativo.

O UOL confirmou com fontes da ONU, que indicaram que essas foram as mesmas informações que eles receberam das autoridades israelenses. De acordo com a entidade, uma investigação já foi aberta.

Segundo os israelenses, um dos professores estaria envolvido no sequestro de uma mulher israelense, no dia 7 de outubro. O trabalhador social, por sua vez, teria ajudado a transportar o corpo de um soldado israelense para Gaza, assim como teria distribuído munição.

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O jornal americano apontou que, segundo Israel, o movimento dos funcionários foi estabelecido graças a seus dados de celulares. Três dos suspeitos receberam mensagens relativas aos ataques de 7 de outubro.

UE condiciona novo desembolso a resultados da investigação

Nesta segunda-feira, a UE anunciou que qualquer novo desembolso do bloco dependerá do resultado das investigações. Bruxelas também exige que a agência permita que a auditoria seja conduzida pelos funcionários da UE. Os europeus estão entre os maiores doadores de recursos para a agência.

"Atualmente, não há previsão de financiamento adicional para a UNRWA até o final de fevereiro", disse o bloco. "A Comissão Europeia determinará as próximas decisões de financiamento para a UNRWA à luz das alegações muito graves feitas em 24 de janeiro, relacionadas ao envolvimento de funcionários da UNRWA nos hediondos ataques de 7 de outubro", explicou.

Numa nota, a UE afirmou que Comissão espera que a UNRWA concorde com a realização de uma auditoria da Agência, a ser conduzida por peritos externos independentes nomeados pela UE.

O trabalho, segundo a UE, deve ser concentrando especificamente nos sistemas de controle necessários para evitar o possível envolvimento de seu pessoal em atividades terroristas.

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Num comunicado conjunto publicado nesta segunda-feira, algumas das principais entidades humanitárias do mundo - como Oxfam, ActionAid e Save the Children - fizeram um apelo para que os doadores voltem a liberar recursos para a agência da ONU.

"A suspensão do financiamento pelos países doadores afetará a assistência que salva vidas de mais de dois milhões de civis, mais da metade dos quais são crianças, que dependem da ajuda da UNRWA em Gaza", afirmam. "A população enfrenta a inanição, a fome iminente e um surto de doenças sob o contínuo bombardeio indiscriminado de Israel e a privação deliberada de ajuda em Gaza", alertam.

"Estamos chocados com a decisão imprudente de cortar a linha de vida de toda uma população por parte de alguns dos mesmos países que pediram que a ajuda em Gaza fosse intensificada e que os humanitários fossem protegidos enquanto faziam seu trabalho", acusam. "Essa decisão ocorre no momento em que a Corte Internacional de Justiça ordenou uma ação imediata e eficaz para garantir a prestação de assistência humanitária aos civis em Gaza", apontam.

Para eles, os países que suspenderam os fundos "correm o risco de privar ainda mais os palestinos da região de alimentos essenciais, água, assistência e suprimentos médicos, educação e proteção".

As entidades ainda lembram que, desde 7 de outubro, 152 funcionários da UNRWA já foram mortos e 145 instalações da UNRWA foram danificadas por bombardeios. "Se as suspensões de financiamento não forem revertidas, poderemos ver um colapso completo da já restrita resposta humanitária em Gaza", completam.

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