Jamil Chade

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Após cortes de recursos, Netanyahu propõe fechar agência da ONU em Gaza

A crise diplomática entre Israel e a ONU ganhou um novo capítulo com o pedido do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para que a agência de refugiados palestinos da ONU (UNRWA) seja fechada.

"É hora de a comunidade internacional e a própria ONU entenderem que a missão da UNRWA tem que acabar", disse Netanyahu, numa reunião com embaixadores estrangeiros nesta quarta-feira. A instituição existe desde 1948, com a missão de cuidar dos refugiados palestinos. Hoje, ela conta com 13 mil funcionários.

Segundo o chefe de governo israelense, porém, a UNRWA deve ser substituída por outras agências de ajuda "se quisermos resolver o problema de Gaza como pretendemos fazer".

"A UNRWA está totalmente infiltrada no Hamas", disse. "Ela tem estado a serviço do Hamas e de suas escolas, e em muitas outras coisas", insistiu, sem apresentar provas.

"Digo isso com grande pesar porque esperávamos que houvesse um órgão objetivo e construtivo para oferecer ajuda", afirmou. "Precisamos de um órgão assim hoje em Gaza. Mas a UNRWA não é esse órgão. Ela precisa ser substituída por alguma organização ou organizações que façam esse trabalho", sugeriu.

"A UNRWA está se autoperpetuando. Ela se autoperpetua também em seu desejo de manter viva a questão dos refugiados palestinos", declarou.

"Precisamos que outras agências da ONU e outras agências de ajuda substituam a UNRWA se quisermos resolver o problema de Gaza como pretendemos fazer. Há outras agências na ONU. Há outras agências no mundo. Elas precisam substituir a UNRWA", insistiu Netanyahu.

Na semana passada, no mesmo dia em que a Corte Internacional de Justiça ordenou Israel a evitar um genocídio em Gaza, o governo de Netanyahu anunciou que havia entregue para a ONU informações sobre o envolvimento de funcionários da agência no massacre cometido pelo Hamas, no dia 7 de outubro de 2023.

A ONU abriu um inquérito e demitiu nove dos 12 suspeitos. Mas, como resposta, 18 governos anunciaram a suspensão de seus repasses para o organismo que, agora, ameaça parar de funcionar no final de fevereiro.

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No início da semana, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, descreveu a UNRWA como "a espinha dorsal de toda a resposta humanitária em Gaza" e fez um apelo a todos os países para que "garantam a continuidade do trabalho da UNRWA que salva vidas".

Itamaraty defende agência

Num comunicado emitido nesta quarta-feira, o governo brasileiro também saiu em apoio à agência. O UOL havia revelado a posição do Itamaraty no fim de semana. Agora, em nota, a chancelaria afirma que o "Brasil confia em que as investigações, ora em curso, conduzidas pelo Escritório de Serviços de Supervisão Interna das Nações Unidas (OIOS), e que resultaram na demissão de funcionários da Agência, chegarão a bom termo".

"As referidas denúncias não devem, entretanto, ensejar redução das contribuições imprescindíveis ao funcionamento da UNRWA, em cenário que pode levar ao colapso das atividades da agência, em contexto de grave crise humanitária em Gaza e em prejuízo do cumprimento de recente decisão, de caráter juridicamente vinculante, pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), sobre o imperativo de garantir o acesso humanitário aos cidadãos de Gaza", defendeu.

"A população civil palestina na região e os esforços de ajuda humanitária têm na UNRWA um ponto de apoio indispensável", afirmou.

Segundo o Itamaraty, desde 7 de outubro de 2023, a UNRWA realiza atendimento vital a mais de 1,4 milhão de pessoas na Faixa de Gaza. "Cabe lembrar que 152 funcionários da Agência em Gaza foram mortos desde o início da ofensiva militar israelense em resposta aos atos terroristas do Hamas", completou.

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