Conselho de Segurança da ONU aprova cessar-fogo e bota pressão sobre Hamas

Nos bastidores, o governo de Joe Biden conseguiu o apoio da Autoridade Palestina, depois de ceder e incluir no texto um compromisso de que, mesmo se não houvesse um acerto sobre a primeira etapa do acordo, o cessar-fogo temporária seria mantido.

Com o apoio palestino, russos e chineses não tiveram como vetar a proposta dos EUA.

O fato de nenhum governo ter vetado a resolução foi comemorado, e o texto foi considerado por negociadores como a melhor oportunidade para que haja um acordo, em mais de oito meses de guerra. Mas ainda não há qualquer garantia de que isso resulte num efetivo momento de trégua.

"Estamos esperando que o Hamas aceite o acordo de cessar-fogo que ele alega querer", disse a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas Greenfield. "A cada dia que passa, o sofrimento continua", alertou. A guerra já fez mais de 37 mil mortos e mais de 100 mil feridos.

O embaixador da Argélia, que representa os países árabes no conselho, Amar Bendjama disse que seu país votou a favor do projeto de resolução porque "ele pode representar um passo em direção a um cessar-fogo imediato e duradouro".

"Esse texto não é perfeito, mas oferece um vislumbre de esperança para os palestinos", disse.

A resolução chancela uma proposta de cessar-fogo anunciada pelo presidente Joe Biden, que os Estados Unidos dizem ter sido aceita por Israel. Ela conclama o Hamas a seguir o mesmo passo e que tanto Israel como o Hamas "implementem totalmente seus termos sem demora e sem condições".

As dúvidas também permanecem do lado de Israel, principalmente depois da saída do moderado Benny Gantz do Gabinete de Guerra de Benjamin Netanyahu. O temor é que o primeiro-ministro encontre apoio apenas entre a extrema direita israelense.

O plano prevê um cessar-fogo completo em três etapas.

O que diz o texto:

Ressalta a importância dos esforços diplomáticos em andamento do Egito, do Catar e dos Estados Unidos com o objetivo de chegar a um acordo abrangente de cessar-fogo, que consiste em três fases.

Congratula-se com a nova proposta de cessar-fogo anunciada em 31 de maio, que Israel aceitou, apela ao Hamas para que também a aceite e insta ambas as partes a implementarem plenamente seus termos, sem demora e sem condições;

Como ocorreria o cessar-fogo e um acordo final

Fase 1: um cessar-fogo imediato, total e completo com a libertação de reféns, incluindo mulheres, idosos e feridos, a devolução dos restos mortais de alguns reféns que foram mortos, a troca de prisioneiros palestinos, a retirada das forças israelenses das áreas povoadas em Gaza, o retorno de civis palestinos às suas casas e bairros em todas as áreas de Gaza, inclusive no norte, bem como a distribuição segura e eficaz de assistência humanitária em escala em toda a Faixa de Gaza para todos os civis palestinos que precisam dela, incluindo unidades habitacionais entregues pela comunidade internacional;

Fase 2: mediante acordo entre as partes, um fim permanente das hostilidades, em troca da libertação de todos os outros reféns ainda em Gaza e da retirada total das forças israelenses de Gaza;

Fase 3: o início de um grande plano de reconstrução plurianual para Gaza e a devolução dos restos mortais de qualquer refém falecido que ainda esteja em Gaza para suas famílias.

A proposta ainda alerta que, se as negociações demorarem mais de seis semanas para a primeira fase, o cessar-fogo ainda continuará enquanto as negociações seguirem, e saúda a disposição dos Estados Unidos, do Egito e do Catar de trabalhar para garantir que as negociações continuem até que todos os acordos sejam alcançados e a segunda fase possa começar;

O documento "rejeita qualquer tentativa de mudança demográfica ou territorial na Faixa de Gaza, incluindo quaisquer ações que reduzam o território de Gaza".

Para completar, a resolução "reitera seu compromisso inabalável com a visão da solução de dois Estados, em que dois Estados democráticos, Israel e Palestina, vivam lado a lado em paz dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, de acordo com o direito internacional e as resoluções relevantes da ONU e, nesse sentido, enfatiza a importância de unificar a Faixa de Gaza com a Cisjordânia sob a Autoridade Palestina".