Plano da Colômbia propõe anistia a Maduro e nova eleição
Um projeto concreto para uma saída política na Venezuela começa a circular e colocar pressão sobre o regime de Nicolás Maduro em Caracas.
O governo da Colômbia revelou a proposta que está sendo feita ao regime de Nicolás Maduro para uma saída política, a partir de diferentes etapas que envolveriam americanos, a oposição, mediadores, observadores internacionais e o governo venezuelano. O Itamaraty, por enquanto, se recusa a comentar o que foi divulgado por Bogotá.
A ideia foi aventada de maneira informal por Celso Amorim, assessor da Presidência, como forma de superar a crise na Venezuela depois das eleições de julho de 2024. A nova eleição, porém, não seria apenas uma repetição do que já ocorreu.
A ideia é que, em troca de uma retirada de sanções, Maduro aceite a entrada de observadores internacionais e estabeleça novas regras para permitir que o processo seja justo e transparente. O último relatório dos observadores da ONU rejeitou a confiabilidade dos resultados anunciados pelas autoridades venezuelanas.
No mesmo dia em que a Colômbia apresentou sua proposta, o governo de Joe Biden causou polêmica. No início da tarde, o presidente americano respondeu de forma positiva quando foi questionado por jornalistas se apoiava a ideia de uma nova eleição na Venezuela. Três horas depois, a Casa Branca explicou que Biden não havia ouvido a pergunta e havia respondido sim a outra questão sobre a Venezuela.
A proposta de uma nova eleição não era o posicionamento original de Biden, que reconheceu oficialmente a vitória do opositor, Edmundo Gonzalez.
Proposta da Colômbia inclui novas eleições, anistia e governo transitório
Nesta quinta-feira, o chanceler Mauro Vieira está em Bogotá para tentar preparar propostas que possam ser levadas aos membros da oposição e ao governo Maduro.
Mas o presidente colombiano, Gustavo Petro, não demorou para jogar em suas redes sociais seu projeto de uma saída política para a Venezuela, a partir de um processo em várias etapas.
Ele incluiria:
- Fim de todas as sanções contra a Venezuela
- Anistia geral nacional e internacional
- Garantias totais para a ação política
- Governo transitório de coabitação
- Novas eleições livres
O governo americano retiraria as sanções, as prisões por parte de Maduro contra a oposição seriam desfeitas, o regime ganharia uma anistia nacional e internacional e, finalmente, um governo de transição seria estabelecido.
Com essas etapas realizadas, uma nova eleição então seria convocada.
Petro afirma que foi justamente esse caminho que permitiu que a Colômbia superasse mais de 50 anos de uma crise política. Mas o líder em Bogotá deixou claro que também amplia a pressão sobre o atual presidente da Venezuela:
"Depende de Nicolás Maduro uma solução política que leve a paz e a prosperidade ao seu povo", disse o colombiano.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberCostura começou em 2023
Biden tem conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o começo de 2023 sobre a Venezuela. Num encontro em Washington em março do ano passado, o brasileiro sugeriu que houvesse uma flexibilização das cerca de 900 sanções adotadas pelos EUA contra Maduro. O resultado dessa negociação foi o acordo de Barbados, em outubro de 2023, que estabeleceu as regras da eleição.
O regime venezuelano, porém, não cumpriu com sua palavra. Mas o temor dos atores regionais e mesmo dos EUA é que a crise seja ampliada.
Dentro do governo brasileiro, porém, interlocutores indicam que a perspectiva é que uma solução para a Venezuela apenas seja encontrada depois que a situação política americana for definida. A eleição nos EUA ocorre em novembro, dois meses antes de o mandato atual de Maduro terminar.
A proposta também sofre resistência dentro da Venezuela. Um dos líderes da oposição venezuelana, António Ledezma, afirma que a ideia sugerida no Brasil não será aceita.
O ex-prefeito de Caracas que fugiu para a Espanha reforça que o movimento político encabeçado por Edmundo González e Maria Corina Machado venceu a eleição do dia 28 de julho. O ditador Nicolás Maduro rejeita a postura da oposição e diz que foi ele quem venceu.
"A ideia de uma nova eleição está fora de lugar", afirmou Ledezma, coordenador do Conselho Político internacional de Maria Corina Machado, em entrevista exclusiva ao UOL.
"Não se justifica e nem se explica a ideia de falar de um segundo turno, em um país onde Edmundo González venceu com mais de 30 pontos percentuais de vantagem", disse.
"Propor uma nova eleição é virar as costas ao princípio da soberania popular. Seria privilegiar os caprichos de um ditador", insistiu.
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